Wal Sarges
Consagrada na cena nacional, a atriz Zezé Polessa apresenta ao público a obra “Nara”, uma homenagem a Nara Leão (1942-1989), ícone da música brasileira dos anos 1960, 1970 e 1980. O espetáculo chega ao Theatro da Paz, na capital paraense, nesta sexta-feira, 14, às 20h, e conta com outras três sessões, duas neste sábado, 15, às 16h e às 20h, e outra neste domingo, 16, às 19h.
Dirigida por Miguel Falabella, que também assina o texto, a peça foi um desejo da atriz, que se encantou pela obra da cantora. “‘Nara’ é uma escolha minha, que partiu de um desejo e um projeto meu. Eu já tinha uma relação com ela porque gostava muito das músicas e a conheci na fase quando ela começou a cantar as músicas do Chico Buarque, que na época era um compositor ainda muito jovem e que estava aparecendo na cena, e eu até cantei num evento do colégio. Era muito adequado para mim e para a minha voz, embora hoje eu sinta que eu tenha uma potência maior, sendo mais vigorosa e mais forte”, afirma Zezé Polessa em entrevista ao DIÁRIO.
Depois de Brasília, Belém é a segunda cidade a receber o espetáculo em formato de turnê. “A gente fez uma apresentação em Belo Horizonte, numa mostra de teatro. Foram dois dias e voltei para casa. Estava até pensando em ir direto a Belém porque é uma cidade que eu amo e estava querendo ficar uns dois dias antes da sessão, mas a expectativa é de voltar a circular, porque depois da pandemia, é a primeira peça que faço. É muito bom poder pegar um avião e ir de uma cidade para outra e encontrar o público, além de entrar em contato com as pessoas de cada lugar e sua cultura. Eu sou muito ligada ao Brasil, sou uma carioca de raiz, amo a minha cidade, mas sempre gostei de andar pelos lugares”, conta ela, que desde menina viaja ao Norte.
Zezé Polessa conta que veio duas vezes a Belém, uma delas quando atuou na novela “A Força do Querer” – sua personagem fazia parte do núcleo de Parazinho, a comunidade fictícia criada por Glória Perez no Pará. Conta ainda que já recebeu o convite de Fafá de Belém para a Varanda de Nazaré, em outubro, mas nunca conseguiu vir porque geralmente está em trabalho paralelo entre a tevê e o teatro. “Já visitei o Theatro da Paz, mas nunca me apresentei lá. É um teatro que tem sua beleza, é antigo e traz uma história de seu povo”, diz a atriz, que além das apresentações, Além das apresentações, vai ministrar oficina com os atores locais no dia 15, na Escola de Teatro e Dança da UFPA.
Ela diz que foram dois meses em cartaz no Rio de Janeiro e, em Belém, a produção está trazendo toda a montagem, com toda a luz e equipamentos de som para fazer o espetáculo mais próximo do concebido, incluindo coisas novas e adaptações. “No Rio, eram 400 lugares, assim como em Brasília e em BH, 800. Agora vamos para um espaço de 1.500 lugares. Isso muda a relação com o público, porque é uma peça com uma comunicação aberta ao público. A gente não está contando uma história documental, mas trazendo a Nara. Estou como atriz emprestando meu corpo para ser a Nara e ela poder dizer que voltou por causa do privilégio do teatro. Tem uma coisa espiritual nisso, de trazer ao palco uma pessoa que já foi. O espetáculo tem essa aura para mim, me aproximo dessa pessoa, buscando sentir o que ela sentiu, o que provocou dor, alegria, revolta, o que foi o amor dela, seja com os filhos, com os pais, com a irmã, as amigas”, detalha Zezé Polessa.
Na peça, Zezé interpreta ao vivo alguns dos muitos sucessos de Nara como intérprete, como “A Banda”, “Corcovado” e “Marcha da Quarta-feira de Cinzas”. Ela conta que precisou fazer um trabalho árduo para adequar a própria voz, o tom e o corpo ao da cantora. “Tive muito trabalho, a voz e as músicas. Já estou trabalhando uns dois ou três anos. Primeiro, fazendo aula de canto, e depois fazendo avaliação com otorrino para preparar a corda vocal, além de sessões com fonoaudiólogo. Porque não é só fazer, mas manter. É puxado, é como se fosse um atleta da voz”, afirma ela.
Espetáculo nasceu do encantamento
A atriz diz que ficou encantada com a história e a pessoa de Nara, sua personalidade, seu senso de cidadania, além de seu legado para a música brasileira. “Nara falava as coisas que queria, tinha a opinião dela, era uma artista que mais falava em entrevistas, por exemplo, e passou por alguns sufocos, tendo de ser exilada. Ao mesmo tempo, ela teve um feminismo muito conquistado e muito verdadeiro porque a liberdade que ela queria para os artistas e para a cultura, ela cultivava na vida dela. Ela foi educada com muita liberdade para a época”, destaca Zezé.
A atriz lembra que a irmã de Nara, Danuza Leão, aos 16 anos, já desfilava em Paris, enquanto Nara, aos 12 anos, tocava seu violão com os rapazes em Copacabana, que depois se reuniam na casa dela. “Aos 16, o pai entregou-lhe sua emancipação, que ela nem sabia o que significava. Ela nem foi mais para a escola naquele momento e só voltou a estudar em 1971. Ainda chegou a cursar alguns anos de Psicologia, mas depois surgiram os primeiros sinais da doença. Entre as descobertas surpreendentes é que, embora ela tivesse uma aparência mais reservada, ela era uma namoradeira incrível (risos). Ela namorou muito antes de casar com Cacá Diegues e depois do término do casamento de dez anos com ele”.
Foram oito biografias e documentários encontrados para sua pesquisa, durante a elaboração da peça. Ela começou ao ler a biografia de Tom Cardoso, “Ninguém Pode com Nara Leão”. “Fiquei muito encantada com a artista, a mulher e ela, enquanto cidadã e mulher brasileira. Fiquei muito emocionada também porque foi uma vida muito curta e, ainda assim, ela fez e criou tanta coisa. Ela fez um movimento grandioso na música e isso me impressionou muito. Tanto que a minha primeira questão foi pensar que queria fazer a Nara, mas eu tenho mais idade do que ela tinha, então me perguntava como vou fazê-la ainda jovem, no começo de carreira. Com esse pensamento, criei uma necessidade em ter de fazer essa mulher no palco”.
Outra coisa que Zezé percebeu durante sua leitura e pesquisa sobre Nara é que mesmo tendo a importância e grandeza, a cantora é pouco representada nas artes cênicas. “Considero a Nara uma artista pouco homenageada. É até bem documentada, com muitos livros sobre ela. Para ter uma ideia, eu li umas oito biografias dela, mas ainda é pouco homenageada no teatro. Tem uma citação dizendo que Nara é a melhor ou maior cantora, mas sei que é a mais importante da música brasileira porque ela foi criando e indo por caminhos próprios que deram na MPB”, argumenta.
No entremeio da história de Nara, está também a história da música brasileira, com movimentos como a retomada de ritmos e compositores depois da Bossa Nova, como uma valorização nacional. “A Bossa Nova trouxe o samba, o samba de morro, trouxe os novos compositores que faziam as canções de protesto. Nara fez dois shows num teatro com canções de protesto contra o governo da Ditadura Militar, que foram o ‘Opinião’ e ‘Liberdade, liberdade’. Depois, ela saiu procurando tudo. Ela viajava pelo Brasil para ouvir e conhecer pessoas que estavam fazendo música porque as coisas eram mais difíceis de chegar ao Rio e São Paulo, não eram como hoje. Foi assim que conheceu Gil e Caetano e convidou Bethânia para substituí-la no show ‘Opinião’”, detalha a atriz, dizendo que se emociona junto com as pessoas que assistem à peça.
PRESTIGIE
“Nara” – Com Zezé Polessa
Texto e Direção: Miguel Falabella
Direção musical, arranjos e produçãoo musical: Josimar Carneiro
Classificação etária: livre
Duração: 80 minutos
Quando: Hoje, às 20h; dia 15, às 16h e às 20h; e dia 16, às 19h.
Onde: Theatro da Paz (Av. da Paz – Praça da República, s/n – Campina)
Quanto: De R$ 15 (meia/Paraíso) a R$ 80 (inteira/Plateia), à venda na bilheteria do teatro ou pelo site www.ticketfacil.com.br