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'Ver de Ver-o-Peso' volta com sua temporada de Círio

Em cartaz há mais de 40 anos, espetáculo do Grupo Experiência é crítica de costumes pontuada de humor e atualizada a cada edição. Foto: Ag. Pará
Em cartaz há mais de 40 anos, espetáculo do Grupo Experiência é crítica de costumes pontuada de humor e atualizada a cada edição. Foto: Ag. Pará

Wal Sarges

Há 40 anos, a genialidade de Geraldo Salles sobressai no espetáculo “Ver de Ver-o-Peso”, que está em cartaz nesta sexta, 13, e sábado, 14, sempre às 20h, no Teatro do Sesi, em Belém. As sessões contam com as participações especiais dos cantores Lucinnha Bastos e Arthur Espíndola.

Aos 80 anos, Geraldo Salles assina a direção geral do espetáculo e diz que continua com uma produção intensa no teatro. “Teatro é paixão, é riqueza. A cabeça continua jovem e criativa. Eu tenho que continuar”, afirma ele, que é ator, diretor teatral e presidente da Associação Cultural Grupo Experiência, com mais de 60 anos de carreira, tendo dirigido mais de 50 espetáculos e recebido inúmeros prêmios.

O espetáculo “Ver de Ver-o-Peso” tem uma característica que mostra a forma como Geraldo Salles observa as situações de seu lugar de origem. “É rindo que se criticam os costumes, por isso ele faz tanto sucesso. A gente está otimista com essa temporada do Círio, porque além da divulgação legal, temos muita gente na cidade por conta do Círio e uma semana depois dele é sempre um sucesso de público”, celebra o diretor.

RECORDE

“Ver de Ver-o-Peso” é um dos espetáculos com recorde de permanência integral no Brasil, destaca o diretor. “Faz 40 anos que a gente faz o espetáculo. Tem muita gente que já passou por ele e tem pessoas importantíssimas, como a Natal Silva, o Paulão e outros. Muitas coisas do elenco foram mudando porque o espetáculo é uma mistura de costumes, uma sátira e um musical ao mesmo tempo. É como se fosse uma ópera popular. Sempre tem algo de novo em cada temporada, desta vez, teremos um quadro com o papo dos urubus”, descreve.

A montagem busca retratar um dia comum na feira do Ver-o-Peso, abordando os personagens centrais do local, como os feirantes, além de colocar sempre algo de novo na cena. “Procuramos mostrar o dia a dia do feirante, suas tristezas e festas. O espetáculo fala desde o amanhecer até a xepa da feira. Foi um achado, tanto que ele já viajou por vários lugares do Brasil. Participou de um projeto da Funarte, que escolhia espetáculos fora do eixo Rio-São Paulo e levava para excursionar por diversos lugares do país, como Brasília e Belo Horizonte. Se consagrou, mantém a estrutura, mas sempre se renova, palpita o panorama social-político do Brasil”, detalha.

Com o tempo, um símbolo desse lugar ganhou destaque na peça. “Percebi que faltava algum elemento que ligasse personagens e descrevesse a feira tal qual o ‘cantador’ da feira da Campina Grande. Ao visitar aquela feira, vi um cantador que tocava e comentava as situações que aconteciam no local. Depois, me perguntava o que eu colocaria para fazer essa ligação que fosse um objeto de observação da feira. Assim, surgiram os personagens dos urubus”, ressalta.

O diretor conta que a construção do espetáculo foi feita com o elenco indo para a feira pesquisar e conversar com os feirantes. Mas sentiam que havia uma resistência dos feirantes em se abrir para os atores. “Então, tiveram atores que passaram a ir para a feira de madrugada para fazer amizade com os feirantes. Tinha o Rapa, fiscal da prefeitura que era o pavor dos feirantes. Assim fomos construindo”, lembra.

SUCESSO

Desde a estreia, “Ver de Ver-o-Peso” é sucesso, comenta Geraldo Salles. “Não imaginava que seria esse sucesso até hoje. No dia da estreia, no Teatro Experimental Waldemar Henrique, tivemos que fazer quatro sessões porque, como é um teatro pequeno, sempre tinha gente lá fora esperando por outra sessão. Assim, ele ganhou repercussão e premiações”, destaca.

A cantora Lucinnha Bastos participa da encenação desde 2005, quando foi convidada para fazer uma participação especial. De lá para cá, ela praticamente se integrou ao elenco.

“Foi superlegal receber o convite e depois de novo e de novo. Eu entro logo no início, cantando uma das músicas, e contraceno com a Natal [Silva] sobre uma das viagens que eu fiz para a França. Eu me sinto extremamente homenageada. O Geraldo sempre agradece a minha participação e digo sempre que tenho que agradecer por todo aprendizado. A gente sempre encontra um público que é maravilhoso”, conta a artista, que participará no sábado, 14.

O sambista Arthur Espíndola estreia na montagem nesta sexta-feira, 13. “É uma obra importante para a cultura do nosso estado. Eu conheço o espetáculo das minhas lembranças, de quando era criança e passava a chamada na televisão. Chegar neste momento e agora, adulto, ser convidado para a peça, é como se tivesse avançado uma fase no game. É muito legal ver pessoas que tem um trabalho tão importante há décadas me enxergarem como um artista em potencial. Estou feliz e contente pelo convite da [produtora] Yeyé Porto. Acredito que vai ser bem legal”, diz o cantor.