A serra gaúcha se torna a cidade do cinema brasileiro a partir da segunda quinzena do mês de agosto em 2025. Gramado inaugura mais uma edição do seu tradicional festival de cinema recebendo celebridades da sétima arte, críticos de cinema e cinéfilos para uma celebração que dura onze dias e culmina com a distribuição dos kikitos dourados. Mas na abertura, já houve a entrega de um prêmio, o Kikito de Cristal, para o ator Rodrigo Santoro por sua contribuição no cinema mundial e projeção que trouxe para o Brasil através de papéis em produções de Hollywood e outras como 300, Simplesmente Amor, Leonera, Westworld e Che.
Santoro está no elenco de O Último Azul, do diretor pernambucano Gabriel Mascaro. Filmado na Amazônia, na região de Novo Airão e Manacapuru, no Amazonas, a produção é protagonizada por Denise Weinberg e conta ainda com os atores amazonenses Adanilo e Rosa Malagueta. Premiado no festival de Berlim como o prêmio do júri, o filme apresenta uma trama distopica onde pessoas idosas são encarceradas pelo estado e isoladas em colônias, a partir do momento que se entende que elas se tornam um fardo para suas famílias. Tereza é uma mulher de 77 anos que se rebela e tenta escapar, voando pelos rios, em busca do controle sobre a própria vida.
O filme causou burburinho em Gramado, a começar pelo fato que o clássico tapete vermelho foi substituído por um tapete azul, por onde o elenco e equipe de O Último Azul marcharam até chegar ao Palácio dos Festivais. Rodrigo Santoro, após receber a homenagem no palco, com seu Kikito de Cristal em mãos, não escondeu a emoção e disse ter sido formado pelo cinema brasileiro independente; ele, que começou a carreira no cinema no Bicho de Sete Cabeças, de Lais Bodanzky, lançado 25 anos atrás.
O ator acrescentou que O Último Azul é um filme repleto de esperança e que seu personagem, Cadu, um barqueiro solitário que vive o luto de um amor perdido, num símbolo da liberdade que é o barco, lhe possibilitou a experiência única de filmar na Amazônia: “eu fiz um mergulho no lugar, do qual muito se fala mas pouco se conhece, passei semanas me preparando, convivendo com ribeirinhos como o barqueiro Seu João, que me ensinou a navegar pelos rios e Igarapés. Não tenho muito a dizer além de que é preciso experimentar a Amazônia para compreender. Depois de encerradas as filmagens, encontrei a minha família e de barco, fomos subindo o rio Amazonas por quatro semanas e conhecendo vários lugares, vivendo a experiência.”
O começo da competição
Após a exibição especial, fora de competição, de O Último Azul – que estreia nos cinemas de todo o país dia 28 de agosto – o Festival de Cinema de Gramado deu início, no sábado, a competição oficial de longas metragens com a exibição de Nó, filme de estreia de Laís Melo. A produção paranaense é protagonizada por Saravy (de A Felicidade das Coisas) que também assina o roteiro junto com Melo, sobre uma mãe operária que cria as três filhas na precariedade e passa por dilemas pessoais e profissionais quando o ex-marido resolve entrar na justiça para obter a guarda total das meninas. A recepção ao filme, com uma equipe quase que totalmente feminina, foi morna, mas as turbinas esquentaram e palmas mais efusivas foram direcionadas a Máscaras de Oxigênio (Não) Cairão Automaticamente, episódio piloto da série da HBO que foi exibida de forma especial em Gramado; dirigida por Marcelo Gomes e protagonizada por Johnny Massaro, Bruna Linzmeyer e Ícaro Silva, trata da epidemia de AIDS e como um grupo de jovens se arriscou para trazer dos EUA o tratamento de AZT para os pacientes brasileiros. A produtora Mariza Leão, da Morena Filmes, realiza a obra e é também uma das homenageadas do festival pela sua contribuição de décadas para o desenvolvimento do audiovisual no Brasil.
Amanhã, segunda-feira dia 18, é a vez da exibição de Boiuna, produção paraense dirigida por Adriana de Faria e estrelada por Naieme, Jhannyfer Santos e Isabela Catão. O filme estará competindo na categoria de curta-metragem com outros onze filmes, que serão exibidos entre segunda e terça-feira na tela do Palácio dos Festivais e que concorrem a 13 categorias de prêmios pelos almejados kikitos. Rodrigo Santoro inclusive, no sábado de manhã, ajudou a fabricar a cabeça do Kikito de Cristal que será entregue ao homenageado da próxima edição, em cerimônia realizada na fábrica Cristais de Gramado. Sigam acompanhando a cobertura inédita e exclusiva do Diário do Pará aqui no site e no jornal impresso.
Texto de Lorenna Montenegro