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Titãs chegam a Belém com show da turnê histórica

É hoje que a banda se apresenta em Belém com a turnê “Titãs Encontro”, que reúne sete integrantes da formação clássica do grupo.
É hoje que a banda se apresenta em Belém com a turnê “Titãs Encontro”, que reúne sete integrantes da formação clássica do grupo.

Leonardo Lichote

FOLHAPRESS / SÃO PAULO, SP

Um grupo de amigos músicos na casa dos 60 anos se reencontra para tocar, como fizeram pela primeira vez quando tinham 20 e poucos. A reunião, marcada pela camaradagem e cumplicidade de quem cresceu junto, exige mais do que o que cabe nos ensaios. “Criamos um grupo de WhatsApp”, conta, entre risos, Paulo Miklos, um dos “Titãs”.

O grupo foi criado como um marco da reunião de Miklos, Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Sérgio Britto e Tony Bellotto para a turnê “Titãs Encontro”, iniciada diz 27 de abril, no Rio de Janeiro, e que inclui 21 shows por 17 cidades brasileiras [entre elas Belém, onde os Titãs se apresentam esta noite, no Espaço Náutico Marine Club] e por Lisboa, em Portugal. A formação clássica só não está completa pela ausência de Marcelo Fromer, morto em 2001. A última reunião foi há 30 anos.

Mais do que um espaço para resolver questões práticas do show, o grupo de WhatsApp é um atestado do clima de amizade e alegria que marca o reencontro. “O ambiente está muito gostoso, com todo mundo empolgado. Volta e meia alguém escreve ali: ‘Como isso está me fazendo bem’”, afirma Miklos.

“Esses ensaios têm sido rejuvenescedores”, diz Arnaldo Antunes. “Antes de sermos uma banda, fomos uma turma de escola, no meio dos anos 1970, quando nos conhecemos. Depois, seguimos nos encontrando, compondo, realizando outros projetos, até a formação da banda em 1982. Tem muita história, com lembranças de todo esse período de amizade e criação conjunta.”

A ideia da turnê “Titãs Encontro” é celebrar a primeira década de banda, na qual todos eles estavam juntos – Arnaldo foi o primeiro a sair, em 1992. Daí vem a preocupação com a forma como a banda vai soar no palco.

A ideia é que seja o mais fiel possível à sonoridade que eles criaram juntos na década de 1980. “As características de cada um ajudaram a definir a estética da nossa música. Os coros, a forma como nos completamos. É isso que vamos levar para o show”, afirma Miklos.

“Sérgio Britto foi buscar teclados característicos da época, por exemplo. E, como Liminha está fazendo as guitarras de Marcelo [Fromer], a gente dá uns toques, explicando como ele tocava, como soava”, acrescenta Miklos, que voltou ao saxofone depois de 20 anos. “Falei com eles que seria complicado, que não é como andar de bicicleta, que você não esquece. Mas quer saber? É como andar de bicicleta, sim! Depois dos engasgos iniciais, fluiu perfeitamente. Lembrei de tudo.”

A reunião, Arnaldo explica, trouxe à tona o frescor dos primeiros anos. “Esse espírito de grupo, as piadas, os códigos, a intimidade, parece que permaneceu intacto. É como se, além de estarmos celebrando nosso reencontro, estivéssemos também nos reencontrando com um período muito fértil e feliz de juventude.”

 

Meninos em um pátio de escola

A espinha dorsal do show é o repertório dos álbuns dos anos 1980, como “Cabeça Dinossauro”, de 1986, “Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas”, de 1987, e “Õ Blésq Blom”, de 1989. Além de terem vários dos maiores sucessos da banda, como “Bichos Escrotos”, “Comida” e “Flores”, esses discos equacionam a tal sonoridade característica do grupo.

Titãs celebram reencontro em Belém

“Os dez primeiros anos foram incríveis, principalmente pelos discos magistrais que gravamos”, afirma Nando Reis. “Em oito anos, lançamos sete discos, todos muito bons. Eles resumem a força de nossa união.”

“Cada canção dos Titãs tem seu argumento, sua temática”, acrescenta Charles Gavin. “Elas são muito diferentes entre si. E como diz a frase da estrofe de ‘Miséria’, riquezas são diferenças.”

O repertório não se limita, porém, às canções da primeira década. “É claro que não vão faltar hits de outros discos mais recentes, como ‘Epitáfio’”, diz Miklos. Lançada em 2001, pouco depois da morte precoce de Fromer, a canção que tem como tema a brevidade da vida passou a ser associada ao guitarrista, que receberá uma homenagem no show, com a participação da filha do músico, a cantora Alice Fromer.

“A palavra saudade tem grande significado quando penso em Marcelo. Que falta ele faz”, diz Reis. Já Miklos nota que Fromer ajudou a construir o som da banda e é autor de muitos sucessos. “Sempre que tocarmos, ele estará presente.”

A ideia da turnê começou a ser ventilada para a celebração dos 40 anos da banda, em 2022. O marco é o primeiro show, no Sesc Pompeia, em outubro de 1982. No entanto, com as incertezas provocadas pelo cenário de pandemia, eles não puderam planejar a reunião a tempo de estrear no ano da data redonda.

Até porque o projeto era mais ambicioso do que os outros reencontros que já tinham feito, por reunir todos ao mesmo tempo agora, como eles brincam se referindo ao título do disco “Tudo ao Mesmo Tempo Agora”, de 1991. No “Acústico MTV”, que celebrou os 15 anos dos Titãs, Arnaldo estava, mas como um convidado entre outros.

A banda se diz ansiosa pela oportunidade de tocar para um público mais jovem, que nunca pôde vê-los juntos no palco, além de dar a chance aos antigos fãs relembrarem a força dessa formação, com telões e efeitos visuais.

A manutenção do espírito dos primeiros anos, destacada por todos, convive com a bagagem dos anos, ou melhor, das décadas que separam aqueles jovens músicos dos artistas de hoje. “A maturidade facilita bastante”, afirma Miklos. “Ela traz o desejo de conseguir acordos, chegar a soluções, planejar juntos, de uma maneira muito tranquila, diferentemente de quando se é mais novo.”

“Tem sido um misto da alegria de revistar a aventura toda, as memórias, e ao mesmo tempo termos cada um toda uma série de experiências que vivemos em separado e podemos conversar sobre. Temos muita curiosidade pelos outros. Estamos cheios de novidades para trocar”, afirma Miklos. É como meninos que se encontram em um pátio da escola.

 

Na expectativa, fãs paraenses preveem emoções fortes

Chegou o dia mais aguardado pelos fãs dos Titãs. É hoje que a banda se apresenta em Belém com a turnê “Titãs Encontro”, que reúne sete integrantes da formação clássica do grupo. A abertura dos portões será às 20h, no Espaço Náutico Marine Club.

Para os fãs, este momento representa uma celebração em formato de show. A ansiedade é grande para quem sonhou com este encontro. É o que diz Luciano Carvalho Freitas, fã dos Titãs desde os 14 anos. Hoje, aos 48, o engenheiro agrônomo acumula memórias afetivas, acompanhando momentos bons e ruins da banda.

“Os Titãs são uma banda diferenciada, eles têm cinco vocalistas, cada um com a sua individualidade, e é uma banda que não tem líder, eles se diferenciam muito pelas suas propostas, e são muito democráticos, tudo é decidido em forma de votação. E eles são inteligentes, a particularidade de cada um foi o que me atraiu, por isso, eu não tenho um favorito”, diz Luciano, um dos administradores do fã-clube virtual “Aqui é Titãs P…rra”, reconhecido pela própria banda e com membros espalhados por todo o Brasil.

O agrônomo Luciano Freitas administra um fã-clube virtual dos Titãs reconhecido pela banda FOTOs: ACERVO PESSOAL

“Go Back” foi o primeiro elepê que ele adquiriu para acompanhar a banda. “Logo eu me apaixonei, passei a ouvir as músicas e a conhecer cada integrante. Com o passar do tempo, fui colecionando os álbuns. O rock era o fenômeno da década de 1980 e depois, na de 1990, deu uma caidinha. Lembro que vivi a saída do Arnaldo Antunes, depois, a saída do Nando Reis”.

Ele diz que este show será muito especial para ele. “É como se eu estivesse voltando às décadas de 1980 e 1990. É muito emocionante porque é a oportunidade de ver novamente a banda completa. Uma coisa eu posso dizer: vou me emocionar muito com essa banda tocando aqui em Belém”, afirma ele, que vez por outra conversa com Sérgio Britto, dentre os músicos, um dos que mais interage nas redes sociais.

Luciano Freitas foi a muitos shows dos Titãs, mas um o marcou demais. “Em 1994, a banda estava fazendo turnê do ‘Titanomaquia’, que era um álbum bem pesado. O show era na Assembleia Paraense, só para associados [do clube] e consegui comprar ingressos, mas na hora a portaria exigiu a carteira de sócio, que eu não tinha. Fiz de tudo para entrar no show, pulei o muro de um terreno baldio que dava acesso à AP e consegui, depois de muito esforço, assistir ao show completo”. Agora, ele cita músicas que gostaria muito de ouvir no show desta noite: “Tem três que admiro mais, ‘Bichos escrotos’, ‘Comida’ e ‘Será que é isso que eu necessito?’”

Integrante do mesmo fã-clube que Luciano, o estoquista André Coimbra, 46, conta que já foi a uns dez shows dos Titãs e é sempre como se fosse a primeira vez. Nesta noite, então, há algo mais especial. “Vai ser o primeiro show com o Arnaldo Antunes que eu vou ver, juntamente com o Liminha, produtor do grande disco ‘Cabeça Dinossauro’. Liminha que fez parte dos Mutantes, banda da qual fazia parte também a saudosa ‘rainha do rock’ Rita Lee”, destaca André.

Se André cresceu ouvindo, ao lado do pai, artistas como Os Mutantes e Raul Seixas, Blitz – que ele viu surgir – e Lulu Santos, foi com os Titãs que atendeu ao conselho do pai de que “precisava escolher uma banda do coração”. “Lembro que estava vendo Chacrinha e ele anunciou os Titãs e o Arnaldo Antunes com uma televisão na cabeça. Eu fiquei eufórico com aquilo e disse para o meu pai que a minha banda era os Titãs. Foi quando ele comprou o disco ‘Televisão’ para mim”, diz o fã, que também lembra do impacto de ouvir “Cabeça Dinossauro”, em 1986. “Quando vi o clipe desse álbum no ‘Fantástico’, pirei”.

 

HISTÓRICO

Show Titãs – Turnê “Encontro – Todos ao Mesmo Tempo Agora”

Quando: Hoje, 12, com abertura dos portões às 20h e início às 22h.

Onde: Espaço Náutico Marine Club – Av. Bernardo Sayão, n° 5232 – Guamá)

Ingressos: Todos os setores esgotados, exceto Prime Flores, a R$ 180 (inteira), R$ 90 (meia) e R$ 108 (meia solidária, com doação de 1kg de alimento à entrada do show), à venda no site Eventim e lojas JEF e Royal Black.

Informações:

(91) 98881-5202