Sons do Norte no Memorial

Neste final de semana, a força da nova safra da música do Norte ocupa o Memorial dos Povos. Sumano, Daniel ADR e Flor de Mururé sobem ao palco para shows hoje, 30, sábado, 31, e domingo, 1º de setembro, para mostrar ao público seus mais recentes trabalhos em shows inéditos.

Sumano abre-alas com o show “Nortes”. Rapper do interior da Amazônia, nascido na Vila Menino Deus, em Igarapé-Miri, ele traz ao show o repertório de seu disco de estreia, “Nortes”, onde é guiado pela reivindicação do espírito cabano e expressa uma profunda insatisfação em relação à maneira como a identidade amazônida é ignorada. Agora, ele evoca o protagonismo dessa narrativa.

No palco do Memorial dos Povos, o rapper recebe Moraes MV, Felipe Castilho, DJ Black, e participações especiais como Karen Francis, MZ e outras surpresas. “Espero que o público conceba da forma mais áspera possível as mensagens que estaremos a transmitir, e que faça alguma diferença em sua maneira de pensar e existir aqui no Norte do país, porque, para nós, nunca foi show por show”, diz.

Já neste sábado, 31, é a vez de Daniel ADR fazer o show de estreia do seu álbum “Black Christ”, megaprojeto que traz o disco de vinil e mais cinco clipes dedicados a contar a epopeia do Jesus negro, nascido nas quebradas na Amazônia. Em “Black Christ”, Daniel dá ao salvador injustiçado contornos de uma realidade crua, marcada pelo racismo e pela revolta, mas também repleta de pulsão de vida: paixão, fé, arte, vontade de subverter as estruturas de opressão e brilhar.

Misturando trap, drill e rhythm and blues, Daniel ADR mostra pela primeira vez as rimas de “Black Christ”, convidando ao palco jvm Léo, Anna Suav e Pelé do Manifesto.

Prodígio na cena do rap paraense, Daniel se destacou na Batalha de São Brás, ainda com 14 anos. No ano seguinte, em 2014, foi considerado o melhor MC do Pará pelo Duelo Estadual de MCs, representando o estado na etapa nacional em Belo Horizonte. Atualmente aos 26 anos, Daniel abre o espaço, no show de “Black Christ”, para jovens talentos mostrarem suas rimas, e organiza uma batalha de MCs com direito a premiação de R$ 1 mil.

“A Batalha de São Brás é a primeira do Pará feita de forma fixa, é um espaço pra novos talentos. E para o show no Memorial, a ideia é trazer a Batalha de São Brás, fazer todo esse paralelo entre o passado, o presente e o futuro. Quando eu comecei lá na Batalha de São Brás, a gente só tinha uma caixinha de som. Agora, a gente vai ter uma grande estrutura de som, de luz, e premiação. Isso é muito importante, é valorização das minhas raízes”, diz.

No dia 1º de setembro, Flor de Mururé abre os caminhos com o show de estreia de seu álbum “Croa”, que com sua poesia política e religiosa, traz ritmos como coco, hip hop, guitarrada, pop, carimbó e outras sonoridades amazônicas.

Artista transgênero da Amazônia, Flor faz da arte e da fé seu principal instrumento de sobrevivência no país mais transfóbico do mundo. “Eu nunca tinha visto um homem trans no palco. Então quis ser a minha própria referência. Pra mim, o que importa é nosso corpo-território vivo”, diz.

Como manifesto LGBTQIA+, “Croa” traz para o palco do Memorial dos Povos o talento do Trio Manari, Íris da Selva, Borblue, Mariara Almeida e Manoel Cordeiro, além de shows de abertura de Fé do Batuque e Fernando de Iemanjá. “É uma realização pessoal, uma reparação histórica, ver um corpo trans, do axé, proporcionar esse encontro”, diz.