O Centro de Cultura e Turismo Sesc Ver-o-Peso está com inscrições abertas para um novo curso. “Retratos Brasileiros: cinema popular e transgressão nos anos 1980” que será realizado nos dias 04, 11, 18 e 25/05, todos os sábados do mês de maio, das 10h às 13h, pelo crítico de cinema e cineclubista Adolfo Gomes. Os interessados devem se inscrever gratuitamente de forma presencial na unidade. Mais informações podem ser encontradas no site sesc-pa.com.br.
Em pouco mais de uma década (do final dos 1970 até a segunda metade dos anos 80) floresceu, firmou-se e entrou declínio um gesto cinematográfico eminentemente popular e independente que logo assumiu características próprias e bem brasileiras: o cinema de invenção. Na origem, era uma oportunista tentativa de emular as comédias italianas e saciar o desejo do público pela diversão mais maliciosa e quase apelativa. Porém, ao longo dos anos, à medida que essas produções aumentavam sua popularidade, ousava-se cada vez mais, transcendendo o viés “explotation” para registrar, sem meias tintas, o imaginário mais recôndito e reprimido da alma nacional.
O curso no Sesc Ver-o-Peso pretende analisar criticamente a evolução do gênero no Brasil e sua contribuição para a afirmação de uma identidade nacional no cinema, traçando paralelo com o chamado “cinema underground” em desenvolvimento na Europa e EUA naquele período.
Outra vertente a ser abordada é o exílio temático e físico dos cinemanovistas, a reação do cinema marginal e os pontos de contato e de tensão entre essas gerações. Apesar do caráter autodidata e intuitivo da maioria dos realizadores e técnicos envolvidos na produção desses filmes inventivos também emergiram de tal ambiente alguns cineastas de perfil mais autoral, como Jean Garret e Ody Fraga. Ao mesmo tempo jovens, com sólida formação cinéfila e acadêmica encontravam no viés do cinema independente a chance de iniciar a prática cinematográfica. Caso, por exemplo, de Inácio Araújo, Carlos Reichenbach, Luiz Sergio Person, João Silveiro Trevisan, João Batista de Andrade, entre outros.
O curso problematizará essas e outras questões, contrapondo a sofisticação intelectual e cinéfila desse grupo ao vigor e liberdade formal dos demais realizadores, as influências, as possíveis vantagens, mas também a vampirização estilística decorrente dessa troca de experiências.
Para ilustrar o conteúdo teórico, o curso prevê a exibição de trechos de filmes representativos do gênero e de diversas obras relacionadas para exemplificar os temas e abordagens das aulas, além da troca de ideias e debates com os alunos sobre os modelos de produção do cinema no Brasil.
A ação formativa integra o projeto “Cine Curau: novos voos”, de Mateus Moura, premiado no edital da Lei Paulo Gustavo no Pará.