"SHOSTNERS SHOW!"

Série 'Irmão do Jorel' faz dez anos desafiando o humor e a inteligência artificial

Neste domingo (22), o programa recebe um novo especial, dividido em quatro episódios.

Neste domingo (22), o programa recebe um novo especial, dividido em quatro episódios.
Neste domingo (22), o programa recebe um novo especial, dividido em quatro episódios.

O que um galo mestre em disfarces, um brucutu dos anos 1980 e um grupo de bebês mafiosos possuem em comum? Todos comemoram os dez anos de “Irmão do Jorel”, primeira animação produzida pela Cartoon Network na América Latina.

O desenho acompanha as trapalhadas do irmão mais novo de Nico e Jorel, jovem de cabelos longos e perfil atlético que todos admiram. Mas o foco não está nessa figura mítica senão no caçula da família, que sequer possui nome próprio.

Neste domingo (22), o programa recebe um novo especial, dividido em quatro episódios. “Shostners Show!” acompanha o protagonista em sua tentativa de vender um projeto audiovisual para uma empresa daquele universo. Como seus criadores, o Irmão do Jorel não vê limites para sua imaginação.

“Existe um detalhe gigante na passagem desses dez anos, que é o nosso desejo de brincar e experimentar novas linguagens”, diz Zé Brandão, produtor executivo da série que brinca com diversos estilos e técnicas. “Surge a vontade de trabalhar com stop-motion, com fantoches, com personagens interagindo com cenários reais. Lidamos com toda essa experimentação, que é o que mais impulsiona novos episódios.”

Para Juliano Enrico, criador da série, tudo se resume à coletividade. “Alguns personagens saem prontos, outros passam por um processo longo, cheio de sugestões e alterações até o último segundo”. O mesmo se aplica aos roteiros e à captação dos diálogos. “Tudo é muito rico em acasos e acidentes, sempre muito bem-vindos e aproveitados.”

“Nesse mundo atual em que se fala tanto de inteligência artificial, temos muito orgulho de ‘Irmão do Jorel’ ainda ser feito por pessoas que desenham os personagens”, diz Brandão. “É óbvio que usamos ferramentas, mas não automatizamos os processos. Eu não vejo a série sendo feito por inteligência artificial em nenhuma etapa.”


Com sua juventude eterna, a disposição de Irmão do Jorel para fugir dos abacates da Vovó Juju ou assistir aos grandes clássicos de Steve Magal –dois personagens sempre presentes nos episódios de 11 a 20 minutos– segue inalterada, mas nem por isso a equipe deixou de sentir os efeitos do tempo.

“Existe uma sensação de crescimento por conta da qualidade da animação. Uma evolução em como se fazer uma série com tantas transformações”, afirma Enrico. “Os personagens vão crescendo de uma forma muito sutil. E brincamos muito com a ideia do tempo estar se repetindo, porque o Irmão do Jorel faz oito anos várias vezes. Mas nessa temporada estamos lidando com o desafio de fazê-lo entrar na pré-adolescência.”

Apesar de baseado em vivências do idealizador, é evidente que “Irmão do Jorel” parte de experiências coletivas.


“Quando eu olho as crises existenciais do Irmão do Jorel, elas vão evoluindo junto com a sociedade. Então você consegue ver uma história dos últimos dez anos do Brasil e da família brasileira acompanhando o personagem. Ele não cresce de tamanho, mas evolui internamente”, comenta Livia Ghelli, diretora de estratégia do setor infantil da Warner Bros. Discovery Brasil.

Ela explica que o desenho surgiu junto de outras animações brasileiras, quando era possível contar nos dedos os projetos do tipo. Embora Brandão e Enrico considerem ainda existir uma certa diminuição do formato em meios acadêmicos e grandes premiações, muito mudou nesses últimos dez anos, e o público atraído vai muito além do infantil. A série se tornou grande referência no mercado nacional de desenhos animados e se mantém entre as dez atrações brasileiros mais assistidas do Max desde o surgimento da plataforma, sempre esbanjando muita brasilidade.

“[O desenho] mostra que também temos os nossos ícones, nossos heróis. Às vezes são os mesmos heróis dos americanos, mas temos a nossa forma de mastigar e pôr para fora, com essa mistura de outras referências latinas e marcas culturais do nosso país”, explica Enrico. Esse referencial inclui passagens que brincam com marcos históricos e expandem o humor da série para além do público-alvo.

“A história do Brasil e do mundo é repleta de acontecimentos nonsense. Esse grande delírio brasileiro da redemocratização nos anos 1980 é algo completamente espontâneo e aberto a muitas interpretações”, diz o criador, que vê os personagens da obra como parte de um inconsciente nacional.


Mesmo sem data de estreia, a quinta temporada de “Irmão do Jorel” está prevista ainda para este ano. “Desde a primeira apresentação do projeto, a gente falava muito sobre ser uma série para todo mundo ver junto. As vovós gostam de ‘Irmão de Jorel’ por uma razão, as crianças por outra. A nossa missão é unir o Brasil”, diz Enrico.

DAVI GALANTIER KRASILCHIK/SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)