Entretenimento

Seminário de Dramaturgia Amazônida destaca trajetória de Paulo Faria na UFPA

Criador da Cia Pessoal do Faroeste,Paulo Faria tem atuação premiada como autor e encenador. FOTO: divulgação
Criador da Cia Pessoal do Faroeste,Paulo Faria tem atuação premiada como autor e encenador. FOTO: divulgação

Wal Sarges

O dramaturgo paraense Paulo Faria é o homenageado do 10º Seminário de Dramaturgia Amazônida, que começa nesta segunda-feira, 27, e segue até quarta-feira, 29, sempre às 18h, no Teatro Universitário Cláudio Barradas, em Belém. Após 33 anos morando em São Paulo, o artista retornou ao Pará em 2022, e passou a residir no Distrito de Mosqueiro para escrever três romances. O primeiro, “Arigós: Aconteceu na Amazônia”, está em fase de lançamento.

Produtor, cenógrafo, ator, diretor, dramaturgo, Paulo Faria foi um dos fundadores da companhia Pessoal do Faroeste, bastante atuante e premiada em São Paulo. Durante anos, manteve seu teatro no meio da Cracolândia. Atualmente, colabora como cronista no blog do irmão, o jornalista Lúcio Flávio Pinto. Pertencente a uma família que teve importante papel na história do jornalismo e da política paraenses, a partir da segunda metade do século 20, o caçula da família Pinto começou no teatro em sua cidade natal, em 1979.

“Para mim é muito legal ser convidado para o seminário, porque vai ao encontro do motivo que me fez vir para Belém. Era o momento de passar uma longa temporada em Belém e resgatar a minha família, além de Belém, a Amazônia e religar essa minha identidade amazônida ao que eu sou. Um encontro desse tende a me tornar um autor ligado à Amazônia e a Belém. Quero ainda aproveitar esse tempo com meu irmão Lúcio [Flávio Pinto], que passou por uma fase muito difícil de saúde, e ainda para escrever um romance, sendo que o primeiro deles vou lançar na Feira Literária de Mosqueiro, dia 1º de junho”.

O artista vive atualmente em Carananduba, em Mosqueiro, onde adotou cerca de 20 bichos que ele trouxe numa viagem em uma van -de São Paulo a Belém – e que ele pretende abordar em um próximo livro. “Neste período de dois anos, eu comecei a pegar cachorros para doação durante a pandemia. A única coisa que trouxe de São Paulo foram 13 cachorros e sete gatos. Vim numa van percorrendo uma distância de 3 mil quilômetros sem sair de dentro do veículo. Foi uma ação de uma ONG que arrecadou um dinheiro que pagava a van e o motorista e só ele saía, porque eu estava praticamente preso. Estou escrevendo também sobre isso”, conta ele, que dá aulas para comunidades quilombolas, através da Funpapa, na Associação Quilombola de Sucurijuquara.

“Na segunda-feira [hoje], vou falar dessa experiência do teatro e da cidade. Na Cracolândia, por exemplo, tem a violência enquanto narrativa de controle, em que eu comecei a trabalhar com a história. Mel Lisboa é atriz da minha companhia em São Paulo, e nós decidimos montar, no ano que vem, o ‘Faroeste Caboclo’. Com ela, eu montei uma trilogia sobre o cinema na boca, criei essa narrativa da eugenia no século 20, em São Paulo, na administração pública. Isso gerou mais de 20 peças de teatro, três trilogias e no evento vou compartilhar sobre esse meu trabalho, que é entender o teatro como ferramenta de cidadania na cidade”, adianta.

“Em São Paulo, a nossa arma de luta foi contra a narrativa da violência da polícia e do governo, no sentido de criar um sentimento de pertencimento a partir da própria história. Tenho colaborado bastante com o blog do Lúcio, tenho escrito crônicas sobre a ilha, acredito que o teatro e a literatura em si têm essa função de revelar a cidade para ela mesma. Ainda de trazer a cidade para a ágora, o debate. Tanto que sou envolvido hoje com associação de grupos de teatro de Belém, onde sou secretário para atuar num campo mais político da cultura e do teatro”, relata.

Há três décadas, Paulo Faria decidiu viver em São Paulo, onde consolidou-se na carreira artística, a partir de sua companhia teatral, batizada com inspiração na música de Renato Russo. O artista atua profissionalmente em várias atividades em teatro, nas áreas da pedagogia, cenografia, figurino, atuação, dramaturgia, produção e direção. Em 2019, recebeu da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo) o Prêmio Santo Dias de Direitos Humanos. Em 2020, recebeu o Prêmio de Direitos Humanos Franz de Castro Holzwarth, da OAB, pelo trabalho que desenvolveu por 20 anos na Cracolândia, na capital paulista.

“Eu estava há 33 anos em São Paulo, 20 dos quais morando e trabalhando na região da Cracolândia onde eu tinha um teatro, a minha companhia, com figuras como Luiz Miranda, Marcelo Médici. Por um desejo político meu, através do teatro, a gente acabou adquirindo uma sede na Cracolândia e lá ficamos por 20 anos”.

“Nos últimos anos da pandemia, entreguei meu apartamento e, por falta de patrocínio, me mudei para o teatro. Lá fiz uma campanha de combate à fome e recebi um prêmio por conta desse projeto, que foi uma referência em São Paulo”, lembra ele, dizendo que decidiu parar seu trabalho para desvincular sua imagem daquele ambiente conflituoso com a eleição de Tarcísio de Freitas para o governo paulista.

PROGRAMAÇÃO

Os seminários têm a finalidade de homenagear dramaturgos amazônidas, além de propor diálogos sobre dramaturgias, nas suas inúmeras especificidades. O evento é uma das ações do projeto de pesquisa “Memórias da dramaturgia amazônida: construção de acervo dramatúrgico”, criado e coordenado pela professora Dra. Bene Martins. O projeto teve início em 2009, com o compromisso de compor acervo de peças teatrais do Pará, inicialmente.

A programação inclui palestras, espetáculos de grupos locais e, geralmente, alguns convidados ministram oficinas de dramaturgia. Outro compromisso é o de divulgar obras dos dramaturgos catalogados no acervo e apresentar estudos sobre dramaturgias.

O apoio financeiro da Capes e UFPA, além de proporcionar a vinda dos convidados do país e estrangeiros em seminários anteriores, tem garantido a divulgação, cobertura e registro do evento, a exemplo da publicação de livros-memória com os textos dos palestrantes. “Assim, repassamos ao público alguns resultados do projeto de pesquisa”, diz a coordenadora.