Um documentário com nove horas de duração sobre a vida de Prince, um dos maiores nomes da música pop, está pronto, mas talvez o público nunca tenha permissão para vê-lo. A repórter do The New York Times Sasha Weiss foi uma das pouquíssimas pessoas a assisti-lo e conta um pouco do que viu em reportagem do jornal americano.
Dirigida por Ezra Edelman, a produção começa em 1984, quando Prince estava prestes a lançar “Purple Rain”, álbum que o tornou uma superestrela. A engenheira de som Peggy McCreary, com quem Prince trabalhou, descreve testemunhar um lampejo de genialidade durante a criação da música “When Doves Cry”: o cantor decidiu tirar o solo de guitarra, o teclado e o baixo da música, que logo se tornou um hino. McCreary lembra dele dizendo, com satisfação: “Ninguém vai acreditar que fiz isso”.
A próxima sequência investiga as origens de Prince, como ele cresceu ao lado de um desejo angustiante por reconhecimento. Sua irmã, Tyka Nelson, descreve a violência na casa de sua família enquanto eles cresciam. Seu pai, também músico, batia na mãe deles, e direcionava um ódio ao filho, que herdou o antigo nome artístico do genitor -o pai do autor de “Purple Rain” chegou a se intitular como Prince Rogers.
Os pais de Prince, John Nelson e Mattie Shaw, tinham um relacionamento volátil e violento. Eles se separaram quando Prince tinha seis ou sete anos. Segundo pessoas no filme, a mãe de Prince o expulsou de casa quando ele tinha cerca de 12 anos; ela o enviou para morar com seu pai. Mas depois de pegar Prince com uma garota em seu quarto pela terceira vez, seu pai, um religioso rigoroso, também o expulsou. Prince tinha 14 anos.
Em outra parte, o documentário aborda as várias namoradas que Prince teve. E revela um lado de Prince que muitos de seus fãs preferiam não ver. Em uma noite de 1984, ele deu socos no rosto de Jill Jones, com quem ele estava envolvido na época. Seu relato é um dos mais angustiados do filme. Ela disse que queria prestar queixa, mas seu empresário disse que isso arruinaria a carreira dele. Então ela recuou. O documentário mostra o cantor como alguém controlador em seus relacionamentos -não apenas amorosos, mas profissionais também.
Prince, cantor e guitarrista, ficou famoso por sua faceta sensual. Na mente de muitos americanos que cresceram nos anos 1980, a imagem de Prince era de um sonhador e astro do pop andrógino. A produção tira alguns véus de sua imagem, e revela seu lado sombrio e triste. O diretor do documentário apresenta uma pessoa falha, ao mesmo tempo que mostra a grandeza de Prince, que era privado quanto a sua vida pessoal e raramente concedia entrevistas.
Prince morreu em 21 de abril de 2016, aos 57 anos, de uma overdose de fentanil, sozinho, em um elevador em Paisley Park, nos Estados Unidos. Após sua morte, seu espólio foi dividido entre sua irmã, Tyka, e cinco meio-irmãos, e logo depois mergulhado no caos.
O documentário levou quase cinco anos para ser concluído, com produção da Netflix, que detém os direitos do projeto. Por dezenas de milhões de dólares, de acordo com uma fonte familiarizada com a negociação, a plataforma de streaming havia garantido acesso exclusivo ao arquivo pessoal de Prince, cheio de gravações inéditas e imagens de shows e as cópias mestras de toda a sua música e desenhos e fotografias.
Mas o espólio de Prince mudou de mãos, e os novos executores se opuseram ao lançamento do documentário. Eles viram uma versão e, alegando que representava Prince de forma inadequada, entraram em uma batalha prolongada com a Netflix para evitar seu lançamento. Segundo eles, a produção apresenta uma ameaça à imagem de Prince -o medo, na verdade, é que o astro do pop seja cancelado. Até o momento, não há indicação de que o filme será lançado.