FESTIVIDADE

Rito dos Mastros abençoa Sairé em Alter do Chão

Tradicional ato de abertura da festa ocorreu no fim de semana. Hoje começa a preparação dos Botos

Rito dos Mastros abençoa Sairé em Alter do Chão

Pará - Nesta terça-feira, 16, e quarta-feira, 17, o Lago dos Botos, em Alter do Chão, recebe os ensaios dos botos Tucuxi e Cor-de-Rosa, respectivamente, para a tradicional disputa dos botos dentro do festival do Sairé, que ocorre no próximo sábado, 20. Enquanto o Boto Tucuxi defenderá o enredo “Essência Borari”, o Boto Rosa vai mostrar um espetáculo baseado no tema “Catraia – Encantaria do Atravessar”.

A disputa dos botos é um dos ápices do Sairé, que mescla tradição religiosa à cultura popular, e que este ano terá, ainda, entre as atrações musicais, shows de Falamansa, Xand Avião, É o Tchan e Viviane Batidão.

A programação oficial ocorrerá de 18 a 22 de setembro, com o tema “Cecuiara da Tradição”, em homenagem aos saberes ancestrais do povo indígena Borari. O evento é organizado pela comunidade de Alter do Chão, em parceria com a Prefeitura de Santarém, o Ministério da Cultura e o Ministério do Turismo, além do apoio de patrocinadores e colaboradores. No último sábado, 13, no entanto, Alter do Chão recebeu os ritos iniciais do Sairé, com a procissão que reuniu autoridades, moradores e turistas para a Busca dos Mastros — troncos que simbolizam a união com o celestial. Como realizado tradicionalmente, o intuito foi pedir permissão e bênçãos aos encantados — seres sobrenaturais guardiões da floresta e da natureza — para celebrar mais uma edição do Sairé, a principal manifestação cultural do município, que há mais de 300 anos une o sagrado e o profano.

Depois de um café coletivo no barracão do evento, com tapiocas, pãos, bolos típicos, mingaus e frutas, teve início a procissão terrestre, liderada pelo capitão da festa, acompanhado pelos alferes que agitavam as bandeiras. Logo atrás, a saraipora conduzia o arco do Sairé, auxiliada pelas Moças das Fitas. Juiz e juíza caminhavam um de cada lado, enquanto mordomos e mordomas carregavam varinhas ornamentadas. Os rufadores embalavam com tambores e cânticos, enquanto populares e visitantes seguiam juntos, imersos em cores, sons e devoção.

Na praia do Centro de Atendimento ao Turista (CAT), teve início o cortejo fluvial, com a participação de centenas de catraias – pequenas canoas a remo típicas da região. O percurso foi animado a ladainhas e folias (músicas em louvor aos santos) e também ao sabor do tarubá, bebida indígena fermentada de mandioca, até a Praia Enseada das Mangueiras. Foi lá que, após uma oração e um canto sagrado em busca de bênçãos e proteção, houve a corrida dos mastros, neste ano vencida pelas mulheres.

Com os mastros, o cortejo fluvial retornou à praia do CAT, e de lá em procissão terrestre até a Praia do Cajueiro, onde os mastros permanecerão até o próximo ato cerimonial.

“O que torna a Busca dos Mastros tão especial para o Sairé é ser o primeiro contato com a natureza, quando pedimos permissão aos encantados para iniciar a grande festa. Esse rito tem uma ligação muito íntima com a floresta e, durante a busca, nos conectamos com nossos ancestrais e pedimos a bênção para celebrar mais uma vez o Sairé”, explicou Maria Eulália, integrante da coordenação do evento.

Para o secretário municipal de Turismo, Emanuel Júlio, a festa movimenta o turismo, a economia e a cultura: “O Sairé é um pacote completo. Realizado em Alter do Chão, um dos lugares mais incríveis da Amazônia, reúne história, cultura, religiosidade e folclore, especialmente com o Festival dos Botos. Acontece na alta temporada, quando a baixa do rio revela belas praias e paisagens naturais, como a Ilha do Amor. Alter do Chão cumpre esse papel de irradiador de roteiros turísticos, e é nesse cenário que a festa ganha força cultural e turística.”

A festividade foi reconhecida em 2024 como Patrimônio Cultural Brasileiro pela Lei Federal nº 14.997. A secretária municipal de Cultura, Priscila Castro, destaca o que representa essa grande manifestação: “O Sairé é uma manifestação com mais de 300 anos de história na Amazônia e que, em Santarém, segue viva e potente graças à força do povo Borari e à união da comunidade. Ele representa o fortalecimento da nossa identidade cultural e movimenta toda a cidade durante meses de preparação. Além de ser um símbolo de resistência e valorização cultural, o Sairé também gera emprego, renda e oportunidades, impactando diretamente a economia da cultura do município.”

*Com informações da Prefeitura de Santarém.