
Consagrada com mais de cinco décadas de carreira, a atriz Renata Sorrah se apresenta com a peça “Ao Vivo”, em curta temporada, a partir de hoje, 5, e também nos dias 6 e 7 de setembro, no Theatro da Paz, em Belém. O espetáculo é uma montagem da Companhia Brasileira de Teatro e traz ao palco ainda os artistas Rodrigo Bolzan, Rafael Bacelar, Bárbara Arakaki e Bixarte.
Com texto original e direção geral de Marcio Abreu, o espetáculo é uma ficção sobre uma suposta biografia de uma artista. A peça convida o público a entrar na cabeça dessa personagem e conhecer suas memórias, sonhos e imaginário, projeções de futuros, percorrendo imagens recentes da história do Brasil e do mundo com um olhar para as histórias singulares e coletivas da sociedade brasileira.
A narrativa de “Ao Vivo [dentro da cabeça de alguém]” é formada por diferentes elementos de diversos campos de memória dos artistas que o compõem. “O público é convidado a percorrer uma lógica de sonho ou de memória, não exatamente no sentido onírico, mas como a gente formula o pensamento, como a memória não tem só a ver com o passado, mas como é um campo ativo de produção de sentidos e também de projeção para possíveis futuros”, explica o dramaturgo e diretor.
A cena que abre o espetáculo, por exemplo, foi inspirada em uma experiência da atriz Renata Sorrah, na década de 1970, quando estava indo para o ensaio da célebre montagem de “A Gaivota”, de que participou no Rio de Janeiro. Em outro estado de consciência, ela revê personagens de sua vida e de sua arte, atravessando o tempo e ressignificando suas existências, ao vivo, hoje.
A própria peça de Tchekhov também está presente de várias maneiras, como fonte de reflexão a partir das temáticas que aborda, ou mesmo como citação. “Nesta conjunção de memórias, o espetáculo se passa dentro da cabeça de um artista. Da Renata, da Nina, da Bianca, da Bárbara, do Bolzan, do Rafael, de todos que criaram esse trabalho. Como se pudessem perceber outras consciências, outras subjetividades, coisas que são, e de repente já não são mais. Coisas que se revelam e desaparecem, algo que se vê e, de repente, já não está mais ou já não o é”, explica Marcio.
A Companhia Brasileira de Teatro é um coletivo de artistas de várias regiões do país, fundado por Marcio Abreu em 2000, em Curitiba (PR). Sua pesquisa é voltada, sobretudo, para novas formas de escrita e para a criação contemporânea. As apresentações do espetáculo em Belém fazem parte da programação de um projeto amplo da companhia, chamado “História”, que se estrutura em três eixos principais de atividades, distribuídas no período entre agosto deste ano e julho de 2026.
De acordo com o diretor, “Ao Vivo” reflete sobre a subjetividade da memória. “Quando entramos na cabeça de alguém, no campo dinâmico de produção de memória, percebemos que a vida de um único sujeito não é formada apenas por uma individualidade, mas por uma multidão de possibilidades de ser”, afirma Marcio. “É uma peça sobre estar vivo agora. É uma espécie de ensaio sobre vivências no tempo, sobre como colocar tempos múltiplos em relação, no presente. Os tempos – histórico, subjetivo, futuro e da memória – estão todos em convivência.