Com “Coringa: Delírio a Dois” chegando aos cinemas nesta quinta com Lady Gaga no elenco, as expectativas são altas para dar sequência à aposta de cinco anos atrás. Em 2019, “Coringa” chegou aos cinemas e atraiu a curiosidade de muitos fãs do vilão. Conhecido como um dos principais antagonistas do Batman, um dos principais heróis da DC Comics, parecia inconcebível conceder ao criminoso o papel de protagonista.
Da escalação de Joaquin Phoenix ao catártico trailer que antecipou a estreia ao som de Frank Sinatra, a Warner Bros. indicava uma segurança que se sobressaia aos riscos de uma história mais pesada e adulta.
Mais tarde, a aposta se mostrou acertada com o sucesso de bilheteria, que mantém a segunda maior arrecadação de um longa não indicado para menores, e de crítica do filme, resultando em um Leão de Ouro, uma série de indicações ao Oscar de 2020 e a vitória como melhor ator para Phoenix.
Fato é que o vilão atrai o público tanto, ou por vezes até mais, que o próprio Batman. Vibrante como os seus sobretudos coloridos, o Coringa já encarnou diversas versões, do exagero cartunesco de Cesar Romero e Jack Nicholson à visão trágica de Heath Ledger no filme de Christopher Nolan.
Relembre abaixo as várias encarnações do Coringa pela TV e pela cinema.
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CESAR ROMERO NO SERIADO ‘BATMAN’ (1966-1968)
Conhecido pelo visual excêntrico e pop do final dos anos 1960, o Coringa de Cesar Romero ficou famoso por suas participações no seriado “Batman”, exibida entre 1966 e 1968. A série era estrelada por Adam West, que vivia uma versão colorida do Cavaleiro das Trevas.
Tudo na série remetia ao exagero, com onomatopeias de golpes tomando conta da tela, ângulos improváveis de câmera, grandes discursos com lições morais e tramas simples e sempre resolvidas dentro dos 25 minutos de cada episódio.
Embora não tenha recebido o devido reconhecimento na época, era nesse exagero que Romero brilhava. O ator, que ficou conhecido pela versão do personagem, se divertia como um palhaço espalhafatoso, um brincalhão apaixonado por pegadinhas e truques inofensivos que nunca representavam uma ameaça real.
Romero ficou um tanto ofuscado pela comédia generalizada do programa, que tirava sarro de tudo e todos, mas com o tempo se tornou uma figura cult, sobretudo pelo bigode, e se recusava a raspar, e por isso era pintado de branco.
JACK NICHOLSON NO FILME ‘BATMAN’ (1989)
Quando o “Batman” de Tim Burton chegou aos cinemas em 1989, uma nova visão do universo de Gotham City era apresentada. Embora os cenários visualmente carregados se mantivessem, a assinatura do diretor imprimia contornos góticos ao vigilante da noite e companhia, permitindo aos seus antagonistas um ar maior de maldade.
Mesmo que não se compare as últimas versões, e ainda preserve algum teor da galhofa apresentada no seriado de 1960, o Coringa de Jack Nicholson mostrou outros caminhos que o palhaço poderia tomar nas telas.
Com um sorriso bastante fiel ao dos quadrinhos, o ator imprimiu no personagem ares típicos de um chefão do crime, com tramoias orquestradas milimetricamente e um comportamento explosivo que facilmente o identificam como homicida.
A interpretação de Nicholson guiou bastante as interpretações sucessoras, que quisessem se afastar ou se aproximar da sua versão, buscaram manter a sua agressividade.
MARK HAMILL NA SÉRIE ANIMADA ‘BATMAN’ (1992-1995) E NOS JOGOS ‘BATMAN: ARKHAM’
Embora não tenha dado seu corpo ao personagem, o ator de Luke Skywalker encontrou uma maneira própria de emprestar sua voz ao palhaço. Mark Hamill dublou o Coringa na série animada do Batman dos anos 1990.
Produzida por Bruce Timm, a série se tornou uma produção consagrada pelo seu estilo gráfico e pela forma como conservou a essência das tramas do justiceiro encapuzado. Hamill encontrou na dublagem uma forma de se desvencilhar do personagem da famosa saga “Star Wars”, e construiu uma carreira prestigiada na área.
Embora inicialmente estivesse muito ancorado na interpretação de Nicholson, Hamill conseguiu desenvolver a sua própria versão do antagonista, criando uma figura trágica, digna das óperas mais dramáticas, e extremamente investida em seus próprios planos malignos.
Seu Coringa deu tão certo que o ator foi convidado a reprisar o personagem em outras adaptações, como as dos jogos de videogame da produtora Rocksteady a elogiada série “Arkham”, que foca no asilo onde os inimigos de Batman acabam aprisionados.
HEATH LEDGER EM ‘BATMAN: O CAVALEIRO DAS TREVAS’ (2008)
Imortalizado por sua versão do personagem, Heath Ledger venceu o Oscar de melhor ator coadjuvante pelo Coringa que viveu em “O Cavaleiro das Trevas”, de Christopher Nolan. O filme é muito lembrado pela roupagem mais realista que concede ao universo dos quadrinhos, e com o palhaço do crime isso não foi diferente.
Ledger passou meses se preparando para viver o personagem, procurando se manter no personagem dentro e fora do set durante o período de gravações. Infelizmente, em janeiro de 2008, ano de lançamento do filme, ele foi encontrado morto em seu apartamento após sofrer uma overdose.
Sua versão do vilão é ainda hoje considerada, por muitos, como a melhor já interpretada, lembrada por seu comportamento bruto e frio, mas que, diferente das demais versões, não buscava dominar o mundo do crime.
CAMERON MONAGHAN NA SÉRIE ‘GOTHAM’ (2014-2019)
Lançada em 2014, a série “Gotham” se propôs a contar uma nova origem de diferentes personagens do universo de Gotham City, e propôs o protagonismo de uma figura sempre renegada ao escanteio: o comissário Jim Gordon.
Interpretado por Ben McKenzie e acompanhado de um jovem Bruce Wayne, o policial tem as suas investigações como o grande elo do seriado, que unificam diversos vilões e personagens clássicos da DC Comics.
Embora tenha demorado algumas temporadas para se revelar por completo a série terminou em 2019 após cinco temporadas, o ator Cameron Monaghan foi construindo aos poucos a sua própria versão do maníaco.
Interpretando uma dupla de irmãos gêmeos, o maníaco Jerome e o bem-sucedido Jeremiah, Monaghan concentrou diversos traços de loucura no primeiro, que levantaram diversas suspeitas dos fãs ao longo da produção.
JARED LETO EM ‘ESQUADRÃO SUICIDA’ (2016) E ‘LIGA DA JUSTIÇA’ (2021)
Apesar da validação como ator que vivia na época, pouco após vencer o Oscar de melhor ator coadjuvante, em 2014, o Coringa de Jared Leto talvez seja a mais infame de todas as versões do personagem. Ele aparece em “Esquadrão Suicida”, filme lançado em 2016 como parte do Universo Cinemático DC e que se propõe a acompanhar um grupo de vilões enviado para realizar missões secretas.
Trazendo uma postura bastante gângster, o visual malandro, cheio de tatuagens e físico atlético da adaptação não agradou aos fãs, e Leto foi rechaçado por sua performance no filme mesmo com pouco tempo de tela.
JOAQUIN PHOENIX EM ‘CORINGA’ (2019) E ‘CORINGA: DELÍRIO A DOIS’ (2024)
Celebrado pelo Oscar de 2020, o Coringa de Joaquin Phoenix é a primeira versão do personagem a receber o seu próprio filme solo. Inspirado por filmes como “Taxi Driver” e “O Rei da Comédia” , ambos dirigidos por Martin Scorsese, o longa de Todd Phillips introduz uma nova origem para o Palhaço do Crime, talvez a mais humanizada até então.
Arthur Fleck é um comediante frustrado que sofre de um transtorno que provoca crises de risos involuntários. Ele vive com sua mãe, Penny, em um pequeno apartamento, e é desvalorizado por todos que atravessam o seu caminho. Certo dia, ele consegue uma arma e tira a vida de dois abusadores em um vagão de metrô, episódio que o mergulha em uma crescente espiral de loucura.
Vencedor do Oscar de melhor ator pelo papel, Phoenix constrói um Coringa distante da vontade de se tornar um grande chefão do crime, imprevisível em cada atitude. Ele acaba se transformando em uma espécie de mártir dos oprimidos de Gotham City, jornada que permanece em suspensão entre a realidade e seus delírios de grandeza.
Cinco anos mais tarde, Phoenix volta ao papel em “Coringa: Delírio a Dois”, novamente dirigido por Phillips. O filme, que trará uma série de sequências musicais, coloca Arthur Fleck, agora internado no Asilo Arkham e à espera do julgamento por suas ações, ao lado de Arlequina, parceira romântica do vilão que também já teve diferentes versões e dessa vez é interpretada por Lady Gaga.
BARRY KEOGHAN EM ‘BATMAN’ (2022)
Em rápida participação em uma cena deletada de “Batman”, filme lançado em 2022 e dirigido por Matt Reeves, Barry Keoghan despertou curiosidade ao introduzir uma nova versão do personagem, que deve retornar em breve.
A cena apresenta um Coringa que nunca toma a tela verdadeiramente para si, sempre retratado em enquadramentos muito fechados ou desfocados. A voz de Keoghan, entretanto, entrega o que pode ser uma versão mais bestial do antagonista, enquanto os poucos vislumbres de seu rosto, cheio de deformações e cicatrizes, deixam claro que sua história deve acompanhar uma das origens das HQs, que explica que o Coringa surgiu de um homem comum que caiu em um grande galão de ácido.
Existem apostas de que o retorno, ou sua introdução de fato do Coringa de Keoghan aconteça com o lançamento da sequência do longa estrelado por Robert Pattinson, “Batman 2”, previsto para 2026.
DAVI GALANTIER KRASILCHIK/SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS)