PERFIL

Quem foi Sergio Mendes, ícone da música brasileira que morreu aos 83 anos?

Sergio Mendes morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 83 anos, em Los Angeles.

Quem foi Sergio Mendes, ícone da música brasileira que morreu aos 83 anos? Quem foi Sergio Mendes, ícone da música brasileira que morreu aos 83 anos? Quem foi Sergio Mendes, ícone da música brasileira que morreu aos 83 anos? Quem foi Sergio Mendes, ícone da música brasileira que morreu aos 83 anos?
Sergio Mendes morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 83 anos, em Los Angeles.
Sergio Mendes morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 83 anos, em Los Angeles.

Sérgio Santos Mendes (que mais tarde deixaria de usar o acento agudo em seu nome) nasceu em 1941, em Icaraí, bairro nobre de Niterói, e começou a estudar piano ainda criança, em conservatório, com a intenção de se tornar músico clássico. Rapidamente, porém, foi conquistado pelo jazz de Stan Getz e Dizzy Gillespie, e por uma novidade lançada por João Gilberto e Tom Jobim: a bossa nova.

Aos 16 anos, junto com o amigo Tião Neto, contrabaixista, Sergio começou a se apresentar na Petit Paris, casa noturna da Praia de Icaraí – logo, estaria cruzando a Baía de Guanabara rumo a Copacabana, no Beco das Garrafas, onde minúsculas casas como o Bottle’s e o Little Club ferviam noite adentro com shows de grupos de samba-jazz.

Em 1961, Sergio Mendes gravou seu LP de estreia, “Dance moderno”, que trouxe releituras de “Oba-lá-lá” (João Gilberto) e “Tristeza de nós dois” (Durval Ferreira e Maurício Einhorn), entre outras. No ano seguinte, ele montou o Sexteto Bossa Rio, com Paulo Moura (sax), Pedro Paulo (pistom), Octávio Bailly (contrabaixo), Dom Um Romão (bateria) e Durval Ferreira (violão). Com esse grupo, tocou no histórico Festival de Bossa Nova realizado no Carnegie Hall de Nova York.

Em 1963, o pianista gravou, com arranjos de Tom Jobim, o LP “Você ainda não ouviu nada!”, que saiu no ano seguinte e rapidamente foi consagrado como um clássico da bossa nova instrumental e do samba-jazz. Ao lado do seu Bossa Rio (do qual faziam parte craques como Tião Neto, o baterista Edson Machado e os trombonistas Raul de Souza e Edson Maciel), ele deixou interpretações definitivas para canções como “Garota de Ipanema” (de Tom e Vinicius) e “Nanã (Coisa Nº 5)” (de Moacir Santos e Mário Teles).

Depois de gravar um disco com o saxofonista e expoente do jazz americano Cannonball Adderley (“Cannonball’s Bossa Nova”, de 1962) e de excursionar por América do Norte, América do Sul e Japão com o Sergio Mendes Trio (ao lado de Tião Neto e Edson Machado), o pianista sentiu a pressão da ditadura militar e decidiu se mudar para Los Angeles, onde fundou o grupo Brasil 65, que abriu espaço para brasileiros como os cantores Marcos Valle e Wanda Sá e a violonista Rosinha de Valença.

O sucesso com o grupo seguinte, o Brasil 66 (que tinha duas cantoras americanas, Lani Hall e Karen Philip), fez de Sergio Mendes uma celebridade, figura assídua nos programas de TV ao lado de artistas como Perry Como, Jerry Lewis, Fred Astaire e Frank Sinatra. Em seus LPs, ao longo dos anos, nunca deixou de gravar brasileiros, como Dorival Caymmi, Marcos Valle, Gilberto Gil (de quem produziu, em 1979, o LP em inglês “Nightingale”, voltado para o mercado internacional).

A distância do Brasil, Sergio Mendes compensou em 1979 com “Horizonte aberto”, música de sua autoria (com Guto Graça Mello e Paulo Sérgio Valle), que ele gravou com a mulher Gracinha e foi sucesso como tema de abertura da novela “Os gigantes”. Já em 1993, sua gravação de “Lua soberana” (de Ivan Lins e Vitor Martins) abriu a primeira versão da novela “Renascer”.

Enquanto isso, com os seus discos, ele seguiu jogando luz sobre compositores emergentes do Brasil (caso de Carlinhos Brown em “Brasileiro” e de Guinga em “Oceano”, de 1996.)

O sucesso em 2006, com o “Mas que nada” ao lado dos Black Eyed Peas (no álbum “Timeless”, o primeiro que ele gravou em dez anos), trouxe Sergio Mendes de volta ao Brasil, para uma apresentação no réveillon de Ipanema. Em 2015, o músico fez show com sua banda e Carlinhos Brown no palco Sunset do Rock in Rio.

Mais tarde, ele voltou ao Brasil para as gravações do documentário “Sérgio Mendes: no tom da alegria (In the key of joy)”, da HBO, comemorativo dos seus 80 anos de idade, no qual falou de sua infância e reencontrou o ator Harrison Ford, que antes da fama trabalhou em sua casa como carpinteiro.

Sergio Mendes morreu na madrugada desta sexta-feira, aos 83 anos, em Los Angeles. Familiares do artista confirmaram a notícia ao GLOBO, sem detalhar a causa da morte. Desde o fim de 2023, o músico vinha enfrentando doenças decorrentes de problemas respiratórios.

Texto de: Silvio Essinger (AG)