Lembro como se fosse hoje. Eu e meus primos fomos ao Cinema Palácio, ali na avenida Presidente Vargas, antes do espaço ser vendido e virar uma Igreja Universal. A fila dobrava o quarteirão. Os ambulantes anunciavam pacotes com três ou quatro miniaturas de dinossauros em cada um. Cheguei a fazer, depois, uma maquete de floresta em uma folha de isopor para acomodar meus novos brinquedos em um habitat mais adequado. Era o meu próprio parque. Impossível fugir, os dinossauros, a partir daquele mês de junho de 1993 no Brasil estavam em tudo: camisas, lancheiras, cadernos, álbum de figurinhas… O hype – embora essa palavra tão em moda hoje sequer fosse pronunciada à época – era gigantesco, assim como o Tiranossauro Rex que dominava a tela e o mundo concebido por Steven Spielberg e Michael Crichton em “Jurassic Park – Parque dos Dinossauros”, que completa 30 anos do seu lançamento.
Por ter sido uma criança espectadora assídua das desventuras da família Marshall, na série “O Elo Perdido”, ter a oportunidade de assistir essa interação entre seres humanos e dinossauros de forma extremamente realista, poucos anos depois, sem ser em um rudimentar stop-motion, foi um verdadeiro assombro. E, cá para nós, a sua realização foi uma proeza técnica que, nos dias de hoje, ainda impressiona. O filme não envelheceu. Com uma parte dos dinossauros construída da forma tradicional, com animatrônicos, e a maioria dos efeitos criada digitalmente pela Industrial Light & Magic, essa mescla de recursos avançados de robótica com o CGI conseguiu impactar o público no mundo inteiro e revolucionar a indústria do cinema.
Assim, quando Alan Grant vira a cabeça de Ellie Sattler para que ela veja o Braquiossauro à sua frente, na primeira aparição dos bichos, o choque da personagem é também nosso por presenciar um milagre da tecnologia e da arte cinematográfica. Aliado à trilha sonora contagiante de John Wiliams, a cena arrepia. Uma sensação, aliás, que vai nos acompanhar por toda a projeção, com direito a uma discussão sempre relevante como pano de fundo: o homem contra a natureza, um tema tão caro na filmografia de Spielberg, retomado com força total em questões como ética e os limites da ciência.
A trama, hoje, já é de conhecimento geral: um grupo é escolhido para visitar uma ilha habitada por dinossauros criados a partir de DNA pré-histórico, mas a ganância age e as coisas saem errado, fazendo com que um jogo de sobrevivência comece. O carisma aqui é essencial. Precisávamos nos importar com os humanos para que o filme funcionasse. E o acerto foi em cheio, especialmente com o paleontólogo sisudo, mas de bom coração, interpretado por Sam Neill, tendo que interagir com crianças curiosas e adoráveis. Fora Jeff Goldblum, que dá um show com o seu matemático Ian Malcom, um sujeito brilhante e sagaz, que carrega consigo uma arrogância bem-humorada. É aquele cara que amamos odiar e odiamos amar.
Com cinco sequências produzidas até o momento, o filme original segue imbatível em termos de qualidade. E, claro, isso ultrapassa a questão técnica e de elenco. Já entra na equação um roteiro bem trabalhado, que em nenhum momento insulta a inteligência do público, ao contrário dos novos exemplares, que promovem saídas fáceis, atitudes inverossímeis (sim, mesmo em um filme de monstro, ter a heroína correndo o filme inteiro de salto alto é difícil de engolir) e zero complexidade em seus personagens humanos; e também a direção excepcional de Spielberg, que recria aqui a sua estratégia de “Tubarão”, apostando no poder da sugestão e do clima de suspense para ficarmos imersos na história e, só mais tarde, progressivamente, o terror invade a vida dos personagens – mas sem nunca apelar para a violência gráfica.
Não é à toa que “Jurassic Park” virou praticamente um clássico familiar depois da sua incursão milionária nos cinemas – foi a maior bilheteria mundial até a estreia de “Titanic” anos depois. A venda do seu VHS, cuja capa tinha o maravilhoso formato de fóssil, também foi um estouro e colaborou para a expansão da marca nos lares. Ou seja, o filme tinha (tem) esse ar de aventura de matinê para toda a família. Além de tudo porque é uma experiência lúdica, mágica. Como reviver dinossauros é algo utópico demais, tudo ali é um grande e distante “E se…”. O perigo que os personagens atravessam não nos atinge de forma direta. O medo que sentimos é controlado. É por eles. Pode até ser potencializado também pela nossa imaginação, de nos colocarmos em seus lugares nas sequências mais tensas, mas em uma escala bem menor do que se fosse, por exemplo, uma ameaça mais real, como um filme de tubarão ou de serial killer. Então, o que predomina, de fato, e se mantém intacta, trinta anos depois, é a mais genuína diversão.
ONDE ASSISTIR:
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