DIA DA AMAZÔNIA

Qual o futuro que queremos? “Paisagens Mineradas” abre na FotoAtiva com agenda de debates ambientais

Com visitação gratuita, a mostra ocupa a Associação FotoAtiva até 5 de outubro, com obras de 11 artistas mulheres

Shirley Krenak, na obra audiovisual “Sons que Curam”, que faz parte da mostra. FOTO: DIVULGAÇÃO
Shirley Krenak, na obra audiovisual “Sons que Curam”, que faz parte da mostra. FOTO: DIVULGAÇÃO

Hoje, 5 de setembro, é o Dia da Amazônia, data que, se foi criada para celebrar um dos biomas mais importantes da humanidade, também remete à reflexão sobre os impactos da ação humana sobre os ambientes naturais. Foi a data escolhida para a abertura, em Belém, da exposição “Paisagens Mineradas: Marcas no Corpo-Território”, que a partir da arte propõe repensar a forma como nos conectamos com a natureza, para além de fonte de recursos.

Com visitação gratuita, a mostra ocupa a Associação FotoAtiva até 5 de outubro, com obras de 11 artistas mulheres: Isadora Canela, Luana Vitra, Isis Medeiros, Mari de Sá, Lis Haddad, Silvia Noronha, Julia Pontés, Shirley Krenak, Beá Meira, Murapijawa Assurini (do Coletivo Kujy Ete Marytykwa’awa) e Keyla Sobral.

A composição deste grupo, explica Isadora Canela, que também assina a curadoria, vem de um lugar do afeto, muito além do lugar estético. O rumo: construir novas narrativas possíveis, mais belas e respeitosas. “A gente traz um grupo de mulheres de diversos lugares do Brasil, vindas de experiências múltiplas, a gente tem mulheres indígenas, pretas, brancas, mulheres que moram no Brasil, fora do Brasil, mulheres que vêm da zona rural, de zonas urbanas, todas pensando e sentindo na própria pele as consequências desse sistema. É muito bonito, porque é um projeto muito colaborativo. Mais do que entregar uma obra, elas entregam seu comprometimento com uma causa, um sonho compartilhado, é a gente unir forças para imaginar algo fora desse lugar da comercialização que tanto nos afeta”.

São pinturas, videoartes, instalações, gravuras e fotografias, além de performances artísticas, que evocam temas como memória e resistência, que denunciam, mas também tentam não só apontar o dedo. Querem chegar a questionamentos: o que temos a ver com tudo isso? Aonde uma lógica de consumo desmedido tem nos levado, enquanto sociedade? Qual a mudança de rota necessária?

“As pessoas não fazem esse caminho entre os objetos e como eles são produzidos, o que causa… tudo se passa como se fosse limpo, bonito, brilhante e não tivesse nada por trás”, lembra a artista e pesquisadora Beá Meira.

A ativista, artista e educadora Shirley Djukurnã Krenak fala em auto-cuidado com a Terra, da qual todos somos parte. “Essa ação do auto-cuidado, na visão do povo Krenak, é uma ação em que você precisa voltar para o seu eu interior e se reconectar, porque são muitas as ações que estão destruindo a nossa biodiversidade, e isso se torna uma violência muito grande no corpo-território de todo ser humano, e principalmente no corpo-território das mulheres indígenas e não-indígenas”, diz ela, que integra a mostra com seu trabalho audiovisual “Sons que Curam”.

AMAZÔNIA DE PÉ

A exposição é uma realização do Instituto Camila e Luiz Taliberti, ONG voltada a ações educativas e culturais sobre sustentabilidade ambiental. Em Belém, o evento integra a programação da Virada Cultural Amazônia de Pé 2024, e tem a parceria da Associação Fotoativa, Kujy Ete Marytykwa’awa – Coletivo de Mulheres da Família Marytykwa’awa, Instituto Janeraka, Constelar Ancestral – Rede Cocriativa entre Povos da Floresta e Herbário da UFPA. “O público irá perceber que, apesar do tema parecer árido, é possível tratá-lo com beleza e delicadeza e ser propositivo. É também um espaço de escuta, por isso os visitantes terão a oportunidade de conversar com as artistas”, diz Helena Taliberti, presidente do Instituto.

PROGRAMAÇÃO

A mostra hoje, às 18h, com a presença das artistas Beá Meira, Isis Medeiros, Lis Haddad e Mari de Sá. A programação de abertura terá performances artísticas como a da mineira Lis Haddad (18h), e roda de saberes e práticas “Itakui Re’e Urujumugyta” (performance Awaete). Na sexta, 6, tem exibição do filme “Solastalgia”, curta de Lucas Bambozzi, e roda de conversa sobre “greenwashing”. Já no sábado, 7, as atividades começam às 11h, com a aula aberta “Ure Petywu Ape I’lka’a – Vozes e perspectivas da floresta”, e seguem às 14h, com a roda de conversa “Arte e luto: somos sementes”. Às 16h, tem a exibição do documentário “Na fronteira do fim do mundo” seguida de um debate com mediação da jornalista e escritora Cristina Serra.