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Projeto Vale Música Belém ajuda a construir pontes para crianças e jovens

O Projeto desenvolvido pela Fundação Amazônica de Música com patrocínio do Instituto Cultural Vale atende atualmente cerca de 300 crianças e adolescentes da Região Metropolitana de Belém. Foto: Alberto Bitar
O Projeto desenvolvido pela Fundação Amazônica de Música com patrocínio do Instituto Cultural Vale atende atualmente cerca de 300 crianças e adolescentes da Região Metropolitana de Belém. Foto: Alberto Bitar

Cintia Magno

A cada porta que se abre em meio aos corredores da Fundação Amazônica de Música (FAM), uma nota musical chega suave aos ouvidos. Em meio às aulas que se desenvolvem ao longo do dia, cada uma em uma sala diferente, o que se observa vai muito além do resultado de um instrumento bem tocado.

O que se vê, acima de tudo, são histórias de crianças e jovens que aprendem na prática cotidiana o que a arte pode fazer pela vida de quem cruza o seu caminho. Histórias essas que, há 19 anos, são construídas por meio do Projeto Vale Música Belém, patrocinado pelo Instituto Cultural Vale.

Foi ainda com 11 anos de idade que a história do músico João Marcos Matos começou a se entrelaçar à do projeto social que, hoje, atende mais de 300 crianças e adolescentes. Iniciado na música através da banda da igreja que frequentava, o então menino foi apresentado à oportunidade de estudar música de forma mais aprofundada em 2004, sem imaginar que, mais tarde, trilharia naquela expressão artística o seu futuro profissional.

“Eu conheci a música na igreja. A minha mãe me inscreveu para eu fazer umas aulas por lá e, depois de um tempo, o professor que me ensinava lá soube que iriam abrir vagas no Projeto Vale Música Belém, que estava sendo criado ainda, e ele me direcionou para cá”.

Ainda muito jovem, João Marcos iniciou no projeto como todo mundo. As primeiras aulas foram de flauta doce e metalofone, instrumento de percussão. Apesar do interesse gerado pela novidade que se apresentava, ele lembra com exatidão o momento em que passou a ver a música com outros olhos.

“Eu fui crescendo dentro do projeto e com 14 anos eu me apaixonei pela música”, recorda. “Antes o interesse era muito por ser uma coisa nova, um universo completamente diferente do que a gente está acostumado, principalmente eu que vim de bairro periférico, do Jurunas. Mas com o tempo, o mundo da música se abriu para mim de uma maneira extraordinária”.

Passando a conhecer não só os grandes compositores, mas as sonoridades de cada instrumento, o jovem pôde se encantar com as surpresas diárias que o mundo da música reserva. Hoje músico profissional, ele continua a fazer parte do projeto, mas agora como professor de flauta doce.

“No decorrer da minha caminhada musical, foram várias descobertas, vários momentos felizes e também de dúvida, mas sempre com uma confirmação de estar no lugar certo. Às vezes a gente tem muita pressa para querer resolver as coisas e a música vai ensinando que, com um passinho de cada vez, a gente conquista”.

 

“Aqui há um amparo muito grande, não só musical, para a vida”

Quando sua mãe tomou a iniciativa de inscrevê-lo no projeto que oferece formação musical gratuita para estudantes da rede pública da região metropolitana de Belém, Igor Amaro conhecia o violino apenas através dos desenhos animados. Ainda crianças, ele e o irmão ingressaram no Projeto Vale Música Belém na primeira turma, em 2004. “A minha mãe colocou a gente no projeto para ocupar o tempo e a gente acabou se apaixonando pela música”, lembra.

“Quando eu iniciei, nunca imaginei que me tornaria músico profissional. Não conhecia violoncelo, o que era uma orquestra. Minha mãe nunca tinha feito aula de música e nem ninguém da família”.

A partir do objetivo inicial de preencher o tempo ocioso, Igor Amaro foi crescendo dentro do projeto, tanto fisicamente quanto na música. E não apenas ele.

“Eu vivi aqui dentro do projeto, a minha família cresceu aqui porque não fui só eu e o meu irmão que entramos, mas também primos meus já passaram por aqui. Para alguns deles foi transitório, mas foi muito importante na vida de cada um, todos eles foram bem encaminhados”, conta, ao explicar que, para ele e o irmão, o caminho da música foi permanente. “Meu irmão hoje é violoncelista na Orquestra Filarmônica do Amazonas, eu trabalhei por nove anos na Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz, me formei em música em 2018, e fui chamado para dar aula aqui onde eu iniciei”.

Escolhido pelo violino, como ele gosta de frisar, Igor Amaro hoje é professor do instrumento no Projeto Vale Música Belém e pode ver a transformação proporcionada pela arte a partir de uma nova perspectiva. “Eu entendi que a música, a arte em geral, é o meu instrumento, porque também adoro cantar, dançar. E outra coisa muito importante é ensinar. Ensinar música é muito gratificante, e para crianças de projeto social mais ainda, porque a gente se enxerga muito nas vivências delas. Eu sempre vejo as mães dos meus alunos e assemelho às mães da minha época”.

A semelhança com a própria história também é inevitável para o professor de percussão Marcos Matos, que acompanha a evolução de tantas crianças que fazem parte e que já passaram pelo projeto ao longo dos 18 anos em que ministra aulas lá. Fruto da musicalização proporcionada pelo projeto social da sua igreja, apesar de vir de uma família de músicos, Marcos se apaixonou pela música quando começou a estudar no Conservatório Carlos Gomes, com 11 anos, e hoje vê essa mesma paixão brotar em muitos dos seus alunos no Projeto Vale Música Belém.

“Eu tinha 15 anos de idade quando comecei a dar aula e para mim foi uma experiência muito única, a oportunidade do primeiro emprego e de poder compreender bem os alunos que eu recebo até hoje. Muitas das dificuldades que eles enfrentam eu também enfrentei”, recorda.

O Projeto Vale Música Belém é desenvolvido pela Fundação Amazônica de Música (FAM) e conta com patrocínio do Instituto Cultural Vale. Foto: Alberto Bitar

“Muitas vezes eu tinha que ir a pé da minha casa, na Pedreira, caminhando por 40 minutos até o Conservatório Carlos Gomes, meus pais desempregados na época, então, eu lutava com muita dificuldade financeira. Mas graças a Deus consegui me formar, fui estudar em São Paulo, retornei e fiz questão de vir ministrar aula aqui onde sei que há um amparo muito grande, não só musical, mas para a vida”.

Completando 19 anos de existência em 2023, o Vale Música Belém conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale e segue transformando a vida de centenas de crianças. Os mais de 300 alunos atendidos atualmente têm acesso à formação musical gratuita, seja através do coral e do grupo de flauta doce, da Orquestra Infantojuvenil, da Orquestra Jovem Vale Música, da Banda Sinfônica, ou dos demais grupos que integram o projeto.

“A música, como o esporte, traz algumas questões que são implantadas desde esse primeiro contato, como a disciplina. Você precisa aprender a cuidar do seu instrumento, você passa a ter a oportunidade de se apresentar num palco, então, você vê a diferença de quando as crianças chegam aqui, todas muito tímidas, e desabrocham com o decorrer do tempo. Parecem coisas pequenas, mas faz uma diferença enorme, tanto com relação às crianças como se vê uma transformação nas famílias”, considera Marília Caputo, coordenadora técnica do Vale Música Belém.

“A ideia é que esses meninos tenham as melhores oportunidades possíveis. A nossa meta é essa, lançar os meninos para onde eles quiserem ir. Mostrar para eles, através da música, que eles possuem asas”.

VALE MÚSICA BELÉM

  • O Projeto Vale Música Belém é desenvolvido pela Fundação Amazônica de Música (FAM) e conta com patrocínio do Instituto Cultural Vale.
  • Ele é voltado para alunos da rede pública ou bolsistas da rede privada. Para ingressar no projeto, o aluno precisa ter entre 07 e 09 anos de idade, mas eles podem permanecer no projeto até 30 anos, desde que façam parte da Orquestra Jovem.
  • Todos os alunos iniciam no projeto pelo canto coral e pela flauta doce, que são os dois elementos utilizados para musicalização dos alunos.
  • Depois, eles são direcionados para os instrumentos musicais específicos que vão trabalhar.