Wal Sarges
Após seis anos de sua primeira edição, o projeto Mastarel volta a ser executado em Belém a partir de uma iniciativa da artista Elaine Arruda, em um trabalho coletivo, tendo a curadoria de Vânia Leal, a iluminação de Lúcia Chedieck, a arquitetura de Leno Martins e a carpintaria do mestre João Aires. Uma programação com elevação do mastro, música e videoperformance, neste sábado, 2, a partir das 18h, marcam a entrega da obra, no Mercado do Porto de Sal, na Cidade Velha.
Elaine explica que mastaréu – do francês “mastarel” – é o nome de uma peça que fica acima do mastro e é uma herança das embarcações à vela, que não estão mais presentes em barcos modernos a motor. “Eu sou encantada com o barbado, que é uma estrutura de linhas que sai do mastaréu até a mesa do mastro. Isso sempre me chamou a atenção quando eu passava no Ver-o-Peso e via as embarcações, porque esteticamente é muito bonito e me lembra muito as linhas de uma gravura”, diz.
A artista reforça como o barbado, apesar de não ter uma função operacional, é de uma beleza única. “No projeto, a gente fez um mastro com mastaréu à moda antiga, ainda como uma herança das embarcações à vela. O barbado chama a atenção exatamente por sua estética no mastaréu. A minha inspiração surgiu a partir dos barcos de Ponta de Pedras, porque ainda têm o mastaréu, que mostra que existe uma preocupação estética e artística nessa prática”, conta.
“O mastaréu é um mergulho no conhecimento tradicional, nessas referências que são nossas, e o deslocamento dessas referências para o campo da arte contemporânea, porque se torna um projeto de arte pública que envolve as pessoas, que envolve uma equipe multidisciplinar e toda uma rede de profissionais que juntos passam a pensar esse prédio que é nosso patrimônio também e principalmente a nossa identidade”, define Elaine Arruda.
O processo partiu de uma residência artística que Elaine Arruda fez, praticamente em conjunto com o mestre João, no Porto Vasconcelos, quando surgiu a primeira versão do Mastarel, em 2016. “A motivação inicial do projeto foi visibilizar a região do Porto do Sal como uma região de potência, com toda uma cultura, que a cidade muitas vezes desconhece. Então, na época, surgiram ideias, propostas de reformar o mercado, numa perspectiva de ‘gentrificação’ na comunidade”.
Isso despertou a atenção da artista porque nos arredores do mercado há espaços de produção intensa. “Ali ao lado da Igreja do Carmo tem o Beco das Malvinas e o Beco do Carmo, onde mora toda uma comunidade que é ribeirinha e urbana, onde se pratica a confecção de redes de pesca, a construção de barcos em madeira. Então, existe todo um saber-fazer que é invisibilizado porque a cidade está de costas para essa região, geograficamente mesmo, falando”.