O professor Aiala Colares, da Universidade do Estado do Pará (Uepa), é um dos finalistas do Prêmio Jabuti Acadêmico 2024, na categoria Geografia e Geociências, com o livro “Geopolítica do narcotráfico na Amazônia”.
A lista com os cinco nomes concorrentes ao Prêmio foi divulgada, na quinta-feira (18), no site oficial da premiação. O Jabuti, tradicionalmente voltado para a literatura, lançou o Prêmio Jabuti Acadêmico para reconhecer contribuições significativas nas áreas científicas, técnicas e profissionais.
“A participação foi por meio da editora Appris, me consultaram perguntando se podiam indicar meu livro para o prêmio, mas eu não imaginava que poderia chegar à final. De qualquer forma, já é uma grande conquista!”, contou Aiala Colares.
O professor também destacou que a indicação representa um reconhecimento sobre a pertinência da sua pesquisa, já que “quase sempre os pesquisadores da Amazônia não são levados a sério, ou então, parece que o que nós produzimos enquanto ciência tem uma validade limitada à nossa região”.
Aiala, que disciplina no curso de Geografia, também destaca que “estar entre os finalistas do Prêmio Jabuti Acadêmico é provar que aqui na Amazônia, e, em especial, no Pará, também se faz ciência com responsabilidade e de forma orgânica e preocupada com as transformações sociais”. A obra de Aiala traz importantes reflexões sobre a organização espacial do narcotráfico na Amazônia brasileira.
Geograficidade
O também professor Geografia, da Uepa, no campus VII em Conceição do Araguaia, Sandoval Amparo, foi indicado para a premiação. Ele é autor do livro “Da ordem cósmica à desordem territorial: a geograficidade ameríndia no chão de Abya Yala ou América Latina”, na mesma categoria de “Geografia e Geociências”, e está na lista dos dez indicados ao Jabuti Acadêmico.
Para o professor Sandoval, constar na lista de semifinalistas significa “um reconhecimento ao trabalho de formiguinha que a gente procura fazer na periferia da periferia, por assim dizer, porque o Brasil é periferia do mundo, a Amazônia é a periferia brasileira, e eu, aqui em Conceição do Araguaia, estou na periferia da própria Amazônia. Então, eu acho que bom, obviamente, isso nos deixa, sim, um pouco felizes e contentes, individualmente, pessoalmente falando”.
Amparo parabenizou o colega Aiala, que está entre os cinco finalistas e cujo trabalho “tem a ver com a necessidade de um maior reconhecimento à ciência na Amazônia, um olhar mais carinhoso por parte daqueles que destinam recursos, por exemplo, para o trabalho que a gente procura fazer”.
Sandoval se mostra admirado com o feito de, em Conceição do Araguaia, uma região distante dos grandes centros do Brasil e da Amazônia, ter alcançado sucesso em um prêmio importante na Geografia.
Ele também ressalta que representa não apenas a si mesmo, mas um grupo de profissionais. “O coletivo de pesquisadores que optou por estar aqui fazendo pesquisa. Tem vários colegas aqui no próprio campus, também tem outros colegas do Instituto Federal do Pará (IFPA) que atuam comigo na organização do Fórum Araguaiano, então, eu acho que esse reconhecimento não vem exclusivamente direcionado a mim, mas a todo um coletivo de pessoas que têm esse engajamento com a ciência, com a pesquisa e com a tecnologia aqui na Amazônia”.
Professora da História da Educação também é indicada
Na categoria “Ciências da religião e Teologia”, o livro “Mestres da ayahuasca: em contextos religiosos”, organizado por Maria Betânia B. Albuquerque e Wladimyr Sena Araújo, entrou para o top cinco de livros finalistas.
Maria Betânia Araújo é professora da Uepa, no curso de Ciências das Religiões e no Programa de Pós-Graduação em Educação, na Linha de Pesquisa: Saberes Culturais e Educação na Amazônia, além de coordenadora do Grupo de Pesquisa História da Educação na Amazônia (GHEDA).
Para ela, é “muito significativo que, em meio a tantas religiões, o prêmio dê visibilidade a uma religião na floresta, de tradições ancestrais, indígenas, criada na Amazônia, por homens e mulheres simples, trabalhadoras dos seringais, que tomaram a Ayahuasca, e, a partir do conhecimento revelado por essa bebida, que é uma bebida feita de plantas por esses homens e mulheres, criaram religiões que são verdadeiras escolas de conhecimento, que têm seus mestres humanos, que são esses que o livro aborda, mas também mestres não humanos, como as plantas que compõem essa bebida”.
Com apoio da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e da Academia Brasileira de Ciências (ABC), o Jabuti Acadêmico destaca a importância das produções acadêmicas no avanço do conhecimento e inovação no Brasil. A iniciativa busca preencher a lacuna de reconhecimento específico para essas obras, aumentando sua visibilidade e incentivando outros profissionais. A divulgação das obras premiadas fortalece a reputação internacional da produção acadêmica brasileira e promove a troca global de ideias.
“É uma grande alegria a existência do prêmio de Jabuti Acadêmico, que permite justamente valorizar o esforço contido na pesquisa acadêmica, no trabalho do pesquisador, que muitas vezes vai a campo, está há anos no trabalho de construir conceitos, de escrever, de pensar o mundo, a cultura, a educação”, conclui a professora Maria Betânia, sobre a condecoração aos pesquisadores de todo o país.