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Prefeitura anuncia reestruturação do Cine Olympia: R$ 8 milhões em caixa

O início dos serviços está programado para as próximas semanas. A obra terá duração de, no mínimo, 12 meses. FOTO: CELSO RODRIGUES
O início dos serviços está programado para as próximas semanas. A obra terá duração de, no mínimo, 12 meses. FOTO: CELSO RODRIGUES

Texto: Wal Sarges

Nesta segunda-feira, 24, dia em que o cinema mais antigo do Brasil, o cine Olympia, completou 111 anos, foi assinado um termo de cooperação para a execução de serviços que envolvem reforma, restauração e a compra de equipamentos novos para que o espaço seja não só reaberto ao público, mas se torne um polo do cinema amazônico. O prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, assinou o termo, assim como a presidente da Fundação Cultural de Belém-Fumbel, Inês Silveira, e Elizabeth Almeida, representante do Instituto Pedra, organização da sociedade civil especializada em obras de recuperação de patrimônios históricos, responsável pelo projeto de revitalização. Os críticos de cinema Pedro Veriano, Luzia Álvares Miranda e Marco Antônio Moreira, membros da Associação de Críticos de Cinema do Pará (ACCPA), também assinaram o documento.

O prefeito de Belém afirmou que o recurso para as obras já está disponível e que a prefeitura aguarda o aval do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-Iphan ao projeto, para iniciar a reforma. De acordo com o prefeito, dentro de um ano, o espaço deverá ser liberado ao público.

“Temos R$ 8 milhões para a reforma do Olympia. O Instituto Cultural Vale já depositou os recursos e, neste momento, o projeto está sendo avaliado pelo Iphan.”

“Temos R$ 8 milhões para a reforma do Olympia. O Instituto Cultural Vale já depositou os recursos e, neste momento, o projeto está sendo avaliado pelo Iphan. Em breve iniciaremos a obra de reforma global, além da compra de novos equipamentos digitais para a projeção dos filmes no Olympia, que terá preservada a sua função enquanto cinema, com mais um agregado: nossa professora, crítica de cinema, Luzia Álvares, representando a Associação de Críticos, propõe que o cinema Olympia seja transformado em um polo de cinema amazônico”, explicou Edmilson Rodrigues.

Desde 2012, o Olympia é tombado como patrimônio histórico do município, tendo inclusive assegurada sua função como cinema. Também está no contexto do conjunto arquitetônico e histórico dos bairros da Cidade Velha e Campina.

Primeiro o projeto passa pela aprovação técnica da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb). Depois pela avaliação do Iphan, que analisa o que é necessário para manter viva a memória do Cine Olympia. A expectativa do prefeito é que dentro de duas semanas, no máximo, seja expedido o parecer para a liberação do projeto.

Prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues, e representantes da APCCA e Instituto Pedra assinaram termo de cooperação para revitalização do cinema FOTO: CELSO RODRIGUES
PROJETO SERÁ FINANCIADO PELO INSTITUTO CULTURAL VALE VIA LEI ROUANET

A obra está sendo garantida por meio do Instituto Pedra, que captou recursos via Lei Federal de Incentivo à Cultura-Lei Rouanet, junto ao Instituto Cultural Vale. Segundo a arquiteta Elizabeth Almeida, representante do Instituto Pedra, o projeto foi desenhado ainda para financiamento junto ao PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) das Cidades Históricas, no governo Dilma, e por conter vários detalhes importantes para a execução de obras do espaço, ele foi reaproveitado. “Como foi um projeto muito bem feito, tem detalhes de tudo, nós estamos aproveitando tudo para fazer a restauração do cinema. Ele não é um projeto apenas físico, mas abrange ainda um projeto cultural amplo, com a realização de oficinas, exibição de filmes e um festival de cinema. Nós temos os equipamentos todos modernos, porque aqui tínhamos o problema de não poder passar filmes novos por falta de equipamentos. E a partir da reforma, o Cine Olympia terá equipamentos novos e os antigos serão reformados”, afirmou a arquiteta.

Outro ponto importante destacado pelo prefeito sobre o projeto é o viés educacional. Segundo Edmilson Rodrigues, já está prevista uma parceria com o curso de cinema da Universidade Federal do Pará (UFPA) e de instituições privadas, e que envolverá ainda alunos das redes públicas estadual e municipal – portanto Secretaria de Estado de Educação-Seduc e Secretaria Municipal de Educação de Belém-Semec.

“A ideia é dar vida ao Cine Olympia nos vários turnos, criando público para o cinema, mas ainda desenvolvendo processos de formação, instalação de museus, formação na área do cinema, produção cinematográfica, além de uma sala de projeção de filmes”, detalhou o prefeito.

ESPAÇO SERÁ POLO DE CINEMA AMAZÔNICO

Para a crítica de cinema Luzia Álvares, a ideia de transformar o Cine Olympia em um polo amazônico da cinematografia está relacionada à educação. “Nós estamos lutando em função de o Cine Olympia não morrer, de não ser passado para outras mãos e não ser transformado em um novo magazine de vendas diversas. Então, é importantíssimo este projeto para que ele permaneça enquanto um documento que marca a história social de Belém”, defendeu.

“No livro que nós escrevemos sobre os 100 anos do Cine Olympia, está marcando as múltiplas histórias de paraenses e belenenses definidas dentro desse cenário. No meu ponto de vista, este projeto de recuperação dele simboliza o Olympia do século 21, que se transformará como polo cinematográfico da Amazônia paraense, com a retomada do projeto ‘Cinema na Escola’”, considera ela.

Elizabeth Almeida afirma que, de acordo com o projeto, a gestão do espaço será feita pela Associação de Críticos de Cinema (ACCPA). “Dessa forma, com uma gestão ligada à sociedade civil, fica mais fácil a gente continuar com o projeto e a manutenção do espaço”, pontuou.

O crítico de cinema Pedro Veriano se diz bem esperançoso com a retomada da reforma no espaço. “Acredito que com isso, a gente vai continuar a comemorar os anos posteriores aos 100 anos do Olympia. Espero que a gente chegue aos 120 anos dele e o veja funcionando e com projetores novos, passando filmes de cinema, porque ultimamente, antes da pandemia, estávamos passando vídeos porque os projetores não prestavam mais. A coisa era bem artesanal e improvisada. Depois da pandemia, piorou, e emendado na pandemia, ele fechou”, relembrou Pedro Veriano.

O crítico Marco Antônio Moreira completou dizendo que a ACCPA está em prontidão para colaborar com a difusão da cinematografia. “É uma coisa que vai evoluir. Nos colocamos para qualquer tipo de colaboração. A ideia nossa era saber se existia um plano, quando iniciava e o que podemos fazer. Surgiu a ideia de fazermos algo juntos e iremos conversar ainda. De qualquer modo, o principal é a reforma começar, acredito que muita gente irá contribuir, além de nós”.

SITUAÇÃO DE ABANDONO SE PROLONGA HÁ 16 ANOS, DIZ PREFEITO

TEXTO: Da Redação*

 

O prefeito Edmilson Rodrigues conduziu uma visita ao local, onde foi possível perceber vários problemas que precisarão ser sanados. Segundo o gestor, fruto de 16 anos de abandono.  É um tanto assustador entrar no espaço, que teve tanto glamour no século passado. Hoje, a parte estrutural do Cine Olympia pede socorro. Logo na entrada da sala de espera, parte do forro está desabando, há fiações expostas e, para manter a segurança, a energia foi cortada. O reboco está descascando, sem contar os cômodos da parte de cima, que estão em desuso, com equipamentos completamente abandonados.

“Espero que não seja pensado em mexer só na fachada porque isso não tem nada a ver, há muito o que se fazer lá dentro. As poltronas precisam ser limpas, já se vê o telhado e tem o ponto crucial, que são os projetores. Os que estão lá são os que datam da década de 1940 e já não prestam mais”, apontou o crítico Pedro Veriano, que tem uma memória de quando a entrada ao cinema era feita por baixo da tela, para saber quem entrava no local, curiosidade que ocorria também no cinema Universal que existia na Cidade Velha.

A expectativa é que agora, com recursos em mãos, as obras finalmente sejam realizadas, já que a situação do Olympia tem se prolongado por vários capítulos, em comemorações adiadas a cada aniversário.

Em 24 de abril de 2020, ainda sob a gestão do prefeito Zenaldo Coutinho, a Fumbel-Fundação Cultural do Município de Belém informou estar finalizando o processo de licitação para o restauro do cinema via financiamento da Prefeitura de Belém junto com PAC das Cidades Históricas, com projeto da Secretaria Municipal de Urbanismo-Seurb. Mas a obra não saiu do papel.

Em janeiro de 2021, ante a expectativa de reabrir o cinema nas comemorações do aniversário de Belém, o então presidente da Fumbel, Michel Pinho, logo ao assumir a pasta, divulgou no Twitter fotos com infiltrações nas paredes e nos banheiros do cinema, forro sem placas e poltronas rasgadas e disse ter “uma sensação de tristeza profunda de receber essa herança maldita”, ao ver as péssimas condições e deteriorada “a beleza do cinema de rua mais antigo do Brasil”.

Dias antes do aniversário do cinema, em abril de 2022, a Prefeitura de Belém anunciou o início de obras emergenciais na cobertura do cinema, com a recuperação da cobertura do telhado, retirada das telhas e madeiras danificadas, recuperação e impermeabilização das calhas, com obra que duraria 50 dias. Mas o cinema permaneceu fechado. Para os cinéfilos e todos para quem o Olympia é uma parte da memória pessoal e da cidade, o desejo é que no próximo aniversário se possa cantar parabéns ao cinema de fato com as portas abertas.

*Com Wal Sarges e Agência Belém