
É raro, mas acontece. Pedro Pascal, um ator quase exclusivamente de TV, já com 50 anos, de repente é o ser humano favorito de todo mundo. É uma trajetória parecida com a de outro favorito de todo mundo, este de talvez umas duas décadas atrás – George Clooney.
Como Pedro, George foi da TV para o cinema quando fez seu primeiro filme de sucesso, “Um Drinque no Inferno”, de Robert Rodriguez, com roteiro de Quentin Tarantino. Tinha 34 anos. Fazer essa transição perto dos 50, sendo latino, como é o caso do chileno Pedro Pascal, é mil vezes mais improvável.
Mas eis que aconteceu. Só neste resto de 2025, por exemplo, Pascal tem três longas-metragens prontos, esperando a estreia. Dois ainda neste mês. O primeiro é “Quarteto Fantástico: Primeiros Passos”, em que ele vive o Sr. Fantástico, Reed Richards, líder da trupe. Este estará nos cinemas a partir do dia 24 de julho. Uma semana depois, entra no circuito sua primeira comédia romântica, “Amores Materialistas”, com Dakota Johnson.
Em algum momento do segundo semestre chega ao cartaz o faroeste “Eddington”, dirigido por Ari Aster, com Joaquin Phoenix e Emma Stone, que têm três Oscar entre eles. O filme teve sua estreia mundial no último Festival de Cannes, e uma interação entre Pascal e Phoenix virou meme e alvo de muita especulação.
No final da apresentação de gala do filme, como é de praxe, o elenco se levanta para agradecer o público, que aplaude tanto o filme quanto a presença das estrelas. E eis que, no meio daquela algazarra, Pedro pegou o braço do colega e falou alguma coisa no seu ouvido. Phoenix aparentemente respondeu com um “alright, man”. E aí a internet enlouqueceu. O que Pedro teria dito?
Especialistas em leitura labial foram chamados para decifrar a frase secreta, e, sem que nenhum dos dois confirmasse, foi estabelecido que Pascal estaria zelando pela imagem do colega, que acenava para o público com a mão em um ângulo que poderia dar margem a maldades, como se tivesse fazendo uma saudação nazista. O fato é que Phoneix parou de acenar, ficou só sorrindo.
E ainda tem o queridinho dos indies “Freaky Tales”, sucesso no Festival de Sundance do ano passado, que chegou aos cinemas dos EUA em maio deste ano e deve aportar em nossas salas em algum momento. A comédia de ação se passa na Califórnia dos anos 1980, e Pascal vive Clint, um agiota que luta para mudar de vida quando descobre que vai ser pai.
Na TV, seu habitat natural, Pascal revive seu herói durão e paternal Joel Miller, de “The Last of Us”, um dos últimos sobreviventes da raça humana depois de uma pandemia destruir quase toda a civilização. Ele assume a responsabilidade pelos cuidados de uma adolescente, Ellie Williams, interpretada pela atriz Bella Ramsey, que pode ser a única chance da nossa espécie continuar existindo.
Joel Miller, seu personagem na série, é um dos responsáveis por Pascal ter o apelido de Daddy, papai, na internet. Din Djarin, o protagonista da série “The Mandalorian”, do canal de streaming Disney+, que Pedro Pascal interpreta desde 2019, um caçador de recompensas no universo bizarro de Star Wars, é outro personagem caladão mas com quem você pode contar se for leal. “The Mandalorian” também virou filme, com estreia prevista para o ano que vem.
O jeito protetor, carinhoso, divertido mas com uma tristeza no olhar, uma coisa meio cachorro perdido em dia de mudança, que Pascal aprimora a cada dia que passa, leva o público a completar o cenário com o que a fantasia mandar. E fica todo mundo louco, querendo mais.
Algo nele parece ultrapassar qualquer barreira -seja de idade, seja de gênero. E tanto faz se o público o assiste atuando na série que o revelou, “Game of Thrones”, mais especificamente na quarta temporada, que foi ao ar em 2014, ou se só tem contato com imagens dele dançando no novo comercial dos fones de ouvido da Apple, brincando com seus colegas de elenco, ou levando, orgulhoso, sua irmã trans como seu par nas festas mais badaladas de Hollywood, em que veste os modelos mais divertidos -como o terno vermelho com calça curta, sobretudo vermelho e coturno, tudo Valentino, que usou no Met Gala de 2023.
Um desses colegas de elenco com quem Pascal desenvolveu uma amizade forte foi Wagner Moura, em “Narcos”, de 2015. Enquanto Moura vivia o protagonista, o traficante Pablo Escobar, papel para o qual teve que ganhar cerca de 20 quilos, Pascal encarnou o policial Javier Peña, que não era exatamente um galã, mas bem mais bonitinho.
Apesar de ter passado a maior parte de sua vida em Nova York, cidade para onde sua família se mudou depois de passar um tempo na Dinamarca, fugindo da ditadura de Pinochet no Chile, que começou com um golpe de Estado em 1973 e terminou em 1990, e de ter começado a atuar aos 16 anos, Pascal passou um longo tempo sem conseguir trabalho nenhum.
Aliás, nascido em 1975, em Santiago, no Chile, Pascal só estreou como ator no século 21, mais especificamente no ano 2000. E no teatro. Ele se formou em artes cênicas na New York Uninvesity, uma universidade prestigiosa, onde conheceu e ficou amigo de Sarah Paulson, que sempre o incentivou e praticamente o impediu de desistir, mesmo quando nada parecia acontecer em sua vida.
Ele até fazia pontas em séries de sucesso como “Buffy: a Caça-Vampiros” e “Law and Order”, mas nada levava o público a lembrar de seu nome nem de sua cara. Foram 14 anos de uma longa espera até ser escalado como o príncipe Oberyn Martell, “A Víbora Vermelha”, na série-fenômeno “Game of Thrones”, em 2014. Foram oito episódios só, mas desde então o mundo acordou.
Tem uma lenda urbana, ou melhor, internética, que diz que Pascal esconde seus relacionamentos amorosos, o que ele nega com veemência. Um jantar de três horas em um restaurante em West Hollywood, com Jennifer Aniston, em março deste ano, fez surgir quase uma torcida organizada pela união dos dois, que no entanto juram que são apenas bons amigos.
Pascal, como boa parte de seus personagens, nunca foi casado e não tem filhos. Não tem nenhuma ex-namorada conhecida de muitos anos, nem ex-namorado, até onde se sabe. Ou seja, continua na pista. Pelo menos na imaginação de grande parte da população do planeta. Se for tudo uma jogada de marketing, é genial.
*Texto de Teté Ribeiro