Wal Sarges
Símbolo de uma das maiores manifestações tradicionais que ocorre no Pará, a levantação dos mastros que ocorre hoje, a partir das 17h, na Praça Waldemar Henrique, marca a abertura dos populares cortejos do Arraial do Pavulagem, que ocorrem nos próximos domingos, nos dias 11, 18 e 25 de junho e 02 de julho.
Os festejos se iniciam após um Cortejo Fluvial, com participação de diversos artistas, que culmina nesta quinta com uma Roda de Boi com ensaio geral para o primeiro Arrastão Junino 2023.
Com o tema “Arrastão do Pavulagem 2023 – Arraial por um Mundo de Paz”, a programação para o grande público começa a partir das 17h, com a concentração para receber os mastros na Escadinha, ao lado da entrada da Estação das Docas. São dois mastros que partem às 16h30 do Porto Amazonas (Avenida Bernardo Sayão, 4620, em frente à Usina da Paz – Guamá) com chegada prevista entre 18h15 e 18h30, de barco, na Escadinha ao lado da Estação.
A Levantação dos Mastros de São João é considerada a abertura oficial dos Arrastões do Pavulagem. O cortejo fluvial traz a comitiva dos Bois Pavulagem e Malhadinho, além dos mastros de São João menino. Com a programação, mantém-se uma tradição muito antiga, lembra o presidente do Instituto Arraial do Pavulagem, Ronaldo Silva.
“Era uma forma encontrada pelas comunidades antigas para celebrar as colheitas. Se antes era observada pela Igreja Católica como uma manifestação pagã, hoje, a simbologia dessa expressão é mostrar que quando as comunidades apontavam o mastro lá para cima, elas estavam estabelecendo um contato direto com o divino, dizendo ainda que elas tinham como intermediários nessa relação, os santos. Nessa compreensão, temos as bênçãos de São João, que é o guardião das festas juninas. ”
Ronaldo Silva aponta ainda outro significado do mastro. “Ele é um marco para que a gente preste atenção no futuro das crianças com relação à quadra junina. A gente tem a oportunidade de investir o nosso tempo para que elas preservem essa tradição. Nesse cortejo gigantesco, fincar a bandeira simboliza, sobretudo, que estamos defendendo a floresta em pé, compreendendo os povos originários e sua importante missão. O Arraial, com essa bandeira de São João, recupera o direito dos nossos brincantes de cantar e tocar um instrumento, de ter a chance de nos religar à nossa ancestralidade”, defende o presidente do Arraial do Pavulagem.
REDE
Realizado pelo Instituto Arraial do Pavulagem, o evento ganhou patrocínio da Equatorial Energia via Lei de Incentivo Estadual à Cultura – Programa Semear, e da Fundação Cultural do Estado do Pará (FCP), Secretaria de Estado de Cultura (Secult), Governo do Pará e Prefeitura de Belém/Fumbel.
Ronaldo destaca ainda parceiros e apoiadores nesse processo.
“Temos uma rede em torno do Arraial porque não faríamos nada sozinhos. Tenho a alegria de ser paraense, hoje estou com 65 anos, sou a pessoa mais antiga do Arraial e cada vez mais reconhecendo que todos os passos que demos, fomos auxiliados. Estamos pedindo a São João que consiga superar os desafios e acreditamos que temos a bênção do santo. O mastro é um exemplo de devoção. Fico emocionado de ver o Arraial acolhendo as crianças com necessidades especiais e de ver que a gente conseguiu fazer o brinquedo. Nisso, mostrar que o Boi-Bumbá é um agregador de pessoas”, diz Ronaldo, referindo à iniciativa, este ano, do Arraial do Pavulagem criar oficinas de brinquedo popular e arrastões com a participação de crianças e adolescentes com deficiência.
“Quando levantamos essa bandeira, também colocamos as pessoas para refletirem sobre a geração de empregos e assuntos sociais, além de termos a chance de experimentar uma reflexão mais profunda para o coração do povo. Até as letras das músicas estão linkadas com essa preocupação que o Arraial tem”, pontua Ronaldo.
A história do mastro, assim como em Bragança, que tem a Marujada, traz um pouco das narrativas ribeirinha e cabocla, ele diz.
“O mastro é preparado pelo Mestre Lucas, e o Grupo Sancari. Tem a parte dos homens e a outra das mulheres. A gente acabou acrescentando um elemento que é superinteressante e histórico, é uma coisa bem legal. O passeio pelo rio, por exemplo, é colocado ali para olharmos para as comunidades ribeirinhas. Essa tradição religa a gente com a história também de São Benedito, em Bragança, onde também tem mastro, em um processo de experimentar e a vontade de compartilhar os saberes das primeiras comunidades, porque isso tudo representa um legado”, completa Ronaldo.
ENSAIO GERAL
O ensaio geral para a estreia dos arrastões juninos em 2023 acontece depois do recebimento e Levantação do Mastro (por volta de 19h). E promete ser uma festa animadíssima, que vai mostrar o entrosamento dos segmentos de Dança, Perna de Pau, Metais, Banjo e Percussão, grupos de brincantes que compõem os arrastões a partir das oficinas oferecidas pelo Instituto.
Assim como na Roda Cantada, o Batalhão da Estrela (que este ano deve reunir mais de 700 pessoas) vai performar o repertório dos arrastões em preparação para o primeiro deles, que acontece no próximo domingo (11). Uma Roda de Boi com participação da banda Arraial do Pavulagem também marca o momento.