Histórias pessoais do ator Paulo Betti PAULO BETTIganham vida no espetáculo “Autobiografia Autorizada”, que será apresentado pelo artista nos dias 21, 22 e 23 de março, no Theatro da Paz, em Belém, depois de dez anos em que ele esteve na capital paraense com o monólogo.
Leve, bem-humorado e antenado com as tecnologias de comunicação, Paulo Betti é um ator consagrado na cena artística do país. Em entrevista ao Você, ele contou que o público pode esperar uma apresentação bem divertida. Disse ainda que ficará em Belém por três dias, provando delícias das nossas iguarias, como o tacacá, o sorvete na Estação das Docas, e o peixe filhote, que ele adora.
“Estou contente de ir a Belém. A minha impressão da cidade é sempre muito maravilhosa. Eu confesso que quando eu chego, quando o avião está descendo ali, eu fico em lágrimas, realmente. Me emociono muito, porque é um lugar onde há um rio, o mar e a floresta. Você desce naquele lugar com aquela grandiosidade que a natureza nos impõe. Eu geralmente acabo me emocionando muito. Fico muito feliz de poder voltar agora e encontrar pessoas”.
Para ele, este é o melhor palco de teatro do Brasil. “Eu já circulei pelo país inteiro com a minha peça e posso dizer que o Theatro da Paz, em Belém, acho o mais bonito do Brasil. Além disso, nós, atores, temos uma relação com o palco do teatro. E a gente sente quando o teatro te ajuda a fazer a peça. No caso do Theatro da Paz, onde eu já estive, tem essa relação de palco e plateia. A gente sente que o teatro te ajuda a fazer a peça. Escrevi a peça, estreei faz dez anos, e desde então não parei mais de fazer. Já fiz 50 cidades em Portugal, e rodei quase o Brasil inteiro, de ponta a ponta e o que o público de Belém, pode esperar, é um espetáculo mais enxuto. Retirei o que havia de excesso, porque com o tempo a grande dificuldade é a de cortar, principalmente uma coisa autobiográfica. Parece que você está cortando seu irmão, sua mãe ou sua avó”.
Regrado com a alimentação, unindo atividade física e bons hábitos, Betti está com 72 anos, 53 deles dedicados à carreira de ator. E bem-disposto à vida. “Me vejo com um desejo profundo de continuar na luta da busca da transformação, da melhoria e da evolução, de uma certa maneira. Acho que em buscar uma certa leveza e um compromisso com essa turma de onde eu saí. Eu adoro fazer peça quando eu tenho público diversificado, com um ingresso barato. É bom ter essa possibilidade de oferecer um ingresso acessível. Isso, para mim, é muito gratificante eu poder fazer. E é assim que eu me vejo. O tempo passa naturalmente, nós todos vamos nos transformando com o tempo. E eu procuro ser regrado, não beber, fazer exercícios, caminhar, eu gosto de andar. Estou me cuidando aqui para continuar vivo ainda, com saúde, se possível, embora tudo seja tão precário, como dizia Guimarães”.
Filho de avós e mãe analfabetos, Paulo Betti, pela necessidade, teve que aprender a ler muito cedo, em especial, as placas dos ônibus para se deslocar. Assim, se tornou um anotador de tudo em suas observações da realidade. Dessa forma, surgiram seus textos de toda uma vida. Desde as sensações e preocupações à realidade em volta, tudo ele anotava. “Conviver com alguém analfabeto é muito forte, é quase como conviver com um deficiente visual. Eu era menino e tive que me obrigar a aprender a ler rapidamente porque eu precisava ler a placa do ônibus, porque minha mãe não sabia, então a gente dependia de terceiros”.
Isso o fez valorizar muito a leitura, que era algo que a mãe dele, inclusive, respeitava. “Ela falava: ‘não incomoda ele que ele está estudando’. Eu estava lendo um gibi, mas no fundo ela estava certa, porque uma grande referência para mim é a história em quadrinhos, pela qual eu tenho um maior apreço e carinho. Então quem me deu essa inspiração em anotar tudo foi minha mãe, de uma forma muito indireta, mas profunda”, afirmou.
Despedir-se de algo que é tão pessoal é bem desafiador, principalmente para quem tem uma relação tão íntima com a escrita. “A curadoria foi sendo feita dia a dia, espetáculo por espetáculo. Acho que eu já estou com umas mil apresentações, daí a gente bota a peça em prova. Ela tem uma estrutura básica muito sólida, da qual depende o iluminador, o sonoplasta, o projetor de imagem. Então, tem toda uma estrutura montada, mas eu vou enxugando momentos cruciais. Os escritores dizem que o segredo disso é cortar, que escrever é cortar impiedosamente”, analisou, contando que no início, ao revisitar seu passado, através de seus textos, sentia dor, mas com o tempo, passou a ver dramaturgia em tudo aquilo.
No período de pandemia e de lockdown, Paulo Betti passou por uma experiência muito forte, que o fez fazer textos mais reflexivos. “Passei a fazer o monólogo on-line e muita gente viu pela primeira vez uma peça de teatro naquele formato. Eu tenho vídeo dessa peça que me mandaram de um asilo. O vídeo é uma mesa; em cima da mesa, um celular, onde quatro idosos olham para o celular, onde eu estava fazendo a peça. Foi quando passamos pela exigência dos espetáculos on-line, que precisavam ser feitos em uma hora. Então, fui reduzindo o espetáculo. É um processo sofrido, mas é gostoso também você sentir que está mais leve, que tem menos peso e está mais acessível. Hoje nós estamos num mundo onde a linguagem é mais rápida. Não adianta você querer contrariar isso e fazer uma coisa comprida”, refletiu ele, dizendo que gosta de redes sociais e quando tira fotos após o espetáculo, pede para o marcarem.
Atualmente, ele considera que o espetáculo está bem dosado. “Eu tenho um domínio maior sobre a parte cômica hoje. Sei exatamente como o público gosta de se divertir, então 50% da peça é comédia. Faço comédia até com a minha avó morrendo. Então tem 50% comédia, 25% drama e 25% talvez um aspecto poético, porque, por exemplo, está chovendo no Rio [de Janeiro] depois de 50 dias sem chover. Nisso, a gente tem que observar as florezinhas que já ficam contentes aqui, o mato que estava seco, que eu olhava com medo que pegasse fogo e começasse a ceder, além das águas e das flores”.
No Theatro da Paz também, no sábado, dia 22, o ator se encontra com um público do workshop de interpretação para teatro e TV. “Sempre tive esse lado meio acadêmico, meio de professor e no sábado vai ter um bate-papo, que é uma das coisas que eu mais gosto de fazer, uma troca de energia com os jovens que estão interessados na profissão. O bate-papo é um momento onde você pode trocar experiências e fazer uma aproximação, mesmo que seja dessa forma superficial, mas que pode ir se aprofundando. Eu tenho um site, onde disponho artigos, filmes, opiniões. Então eu gosto dessa integração com o público”.
Em paralelo a este espetáculo, Paulo Betti está circulando com a peça “Os Mambembes” – que já passou por Belém – e está na abertura do Festival de Teatro de Curitiba, tendo no elenco Júlia Lemmertz, Cláudia Abreu, Déborah Evelyn, Orã Figueiredo e Leandro Santana.
No cinema, o ator, que se diz meio sincrético, dirigiu e produziu o filme “Cafundó” (2005), vencedor de cinco prêmios no Festival de Gramado, e que toca na sua história com a religiosidade africana. “Como diz o próprio Guimarães, a religião ajuda você a desendoidar. Então eu fui criado com uma influência muito forte da Igreja Católica, porque era o serviço social que eu frequentava como criança, de padres salesianos, e ali aprendi muito sobre a Bíblia católica. Ao mesmo tempo, admiro muito os orixás. Em ‘Cafundó’ por exemplo, que traz o Lázaro Ramos, no papel principal, eu falo justamente sobre essa minha história com a religiosidade africana. Sou muito orgulhoso desse filme, e está de graça na minha bio do Instagram pra assistir”, indica.
PALCO E COXIA
l Workshop de interpretação para Teatro e TV, com Paulo Betti
Quando: 22 de março (sábado), das 14h30 às 16h30.
Onde: Theatro da Paz – Av. da Paz, Praça da República, Campina;
Duração: 120 minutos; Lotação: 30 inscritos.
Público-alvo: Aspirantes a carreira de ator/atriz; atores e atrizes em geral
Inscrições: caixacultural.gov.br
Entrada: Gratuita
l Paulo Betti em Belém apresenta: “Autobiografia Autorizada”
Quando: Dias 21, 22 e 23 de março; sexta e sábado, às 20h, e domingo, às 18h;
Onde: Theatro da Paz – Av. da Paz, Praça da República, Campina-Belém/PA.
Classificação indicativa: Não recomendado para menores de 10 anos.
Duração: 80 minutos;
Quanto: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia) – disponíveis na bilheteria do teatro e no site Ticket Fácil. Meia-entrada: empregados e clientes Caixa, estudantes, professores, pessoas acima de 60 anos e outros casos previstos por lei.
Capacidade: 744 lugares
Mais Informações: (91) 3252-8602 | www.caixacultural.gov.br