TEXTO: WAL SARGES
O filme ficcional “Cabana”, da cineasta paraense Adriana de Faria, está entre os selecionados pelo Festival Internacional de Curtas de São Paulo. Outra produção que tem como cenário o Pará e coprodução com Pernambuco, “Fala da Terra”, dirigido por Bárbara Wagner e Benjamin de Burca, também está na programação, em que se destacam outros filmes produzidos no Norte do País: “Castanho”, de Adanilo (AM), “Eu Sou Uma Arara”, de Mariana Lacerda e Rivane Neuenschwander (AP) e “Mãri Hi – A Árvore do Sonho”, de Morzaniel Iramari (RR). O 34º Curta Kinoforum ocorrerá no período de 24 de agosto a 3 de setembro, em São Paulo.
Adriana de Faria não é uma estreante. Há oito anos ela atua como roteirista e diretora na região Norte. Desenvolve projetos documentais e ficcionais relacionados a temáticas amazônicas, como a série de culinária “Sabores da Floresta” (GNT). Seu curta de estreia, “Ari y Yo”, participou do 52º Festival de Brasília e foi exibido em países da América Latina, sendo cinco vezes premiado. Com o curta-metragem “Boiuna”, em desenvolvimento, participou de importantes laboratórios nacionais.
“Cabana” é a primeira obra de ficção de Adriana como diretora. “Ter o ‘Cabana’ selecionado neste festival é o reconhecimento tanto do meu trabalho enquanto roteirista, diretora e produtora executiva, quanto de toda a equipe que participou dessa obra, porque para ele ser realizado, foram mais de 30 pessoas envolvidas, direta e indiretamente. E a minha parceira executiva, Tayana Pinheiro, também foi fundamental nisso”, destaca.
FESTIVAIS FUNCIONAM COMO JANELAS DE EXIBIÇÃO
Contemplado pelo Prêmio de Incentivo à Arte e à Cultura da Fundação Cultural do Pará em 2022, o projeto conta com coprodução da Marahu Filmes e foi selecionado também para a 22ª Mostra Goiânia de Curtas, cuja exibição ocorrerá de 3 a 8 de outubro deste ano.
A cineasta ressalta a importância desse prestígio para a produção nortista. “É uma janela de exibição para os filmes do Norte, porque conseguir levar um filme sobre uma temática daqui num festival desse porte, é muito significativo. Estar ao lado de outras produções do país inteiro numa mostra chamada Mostra Brasil tem uma relevância muito grande, por levar a qualidade do nosso trabalho em São Paulo.”
“Cabana” trata do encontro entre duas mulheres no contexto do Movimento da Cabanagem, e se passa majoritariamente em uma única locação, que é uma cabana. Daí a dualidade do nome. “Essa era a forma como os cabanos viviam escondidos na floresta. Uma das personagens é a Margarida de Jesus, que é uma produtora de farinha. Ela mora nessa cabana e é surpreendida por uma inesperada visita, a Maria Lira, conhecida no desenrolar da história”, conta.
A proposta da diretora é falar sobre as mulheres na Cabanagem. “É um tema quase inexplorado. Durante a minha pesquisa, eu me deparei com a historiadora e professora Eliana Ramos. Fora ela, poucas pessoas trabalham esse recorte. As mulheres eram superimportantes porque ninguém suspeitava delas, então conseguiam se infiltrar nos meios em que as tomadas de decisão estavam acontecendo e levar essas informações para os cabanos. Muitas delas eram produtoras de farinha, como a Margarida, personagem do filme, então abrigavam os cabanos que corriam pela floresta em fuga, os alimentavam e também participavam das batalhas. Isso tudo está nas entrelinhas, porque não tem de forma clara escrito sobre a participação de uma mulher cabana”, detalha Adriana.
CARREIRA COMEMOU COMO ESTAGIÁRIA DE ROTEIRO
O primeiro curta-metragem de Adriana de Faria foi “Ari y Yo” , realizado em Cuba durante os estudos de documentário que ela cursou em 2019. O curta conta a história de como ela foi estudar cinema em Cuba sem saber falar espanhol e acabou encontrando uma menina, com quem criou uma conexão para além da linguagem. “Esse filme passou por 16 mostras e festivais, entre eles, o Festival de Brasília, que é o mais antigo de cinema do Brasil. Foi uma experiência maravilhosa.”
Ela começou em 2015, como estagiária de roteiro da produtora paraense Marahu Filmes. “São meus grandes parceiros até hoje, tanto que eles assinam a coprodução do ‘Cabana’. O meu primeiro trabalho por lá foi um curta em que atuei como roteirista, ‘Canção do Amor Perfeito’, dirigido pelo Fernando Segtowick e pelo Alexandre Nogueira”, relembra.
Depois, ela buscou patrocínios em editais da Agência Nacional de Cinema-Ancine, ganhando um núcleo criativo, onde foi roteirista de uma série documental sobre inovação na Amazônia e um longa-metragem de animação, “Yórum”, de sua autoria. “A partir daí minha carreira se desenvolveu, escrevi uma série documental chamada ‘Sabores da Floresta’, contemplada por um edital da Ancine e distribuída inicialmente pelo Canal Futura. Está no GNT, SDS Food Austrália e num canal da Espanha”.