Entretenimento

Pará participa da Mostra de Cinema de Tiradentes

Dois filmes paraenses participam do festival mineiro, que também oferece programação na internet
Dois filmes paraenses participam do festival mineiro, que também oferece programação na internet

Aline Rodrigues

A 27a Mostra de Cinema de Tiradentes vai exibir uma seleção de 145 filmes, vindos de 20 estados, em pré-estreias e mostras temáticas, em três espaços na cidade histórica mineira, durante nove dias de programação gratuita. Parte da programação estará disponível on-line para todo o Brasil, a partir desta sexta, 19, até o dia 27 de janeiro. O Pará tem dois filmes selecionados para a mostra: “Quebrante”, de Janaina Wagner, e “Cabana”, de Adriana de Faria.

“Quebrante” percorre as ruínas da Rodovia Transamazônica e sua fantasmagoria. Ambientado na cidade de Rurópolis – a primeira a ser construída na rodovia –, o filme acompanha Dona Erismar, conhecida na região como “a Mulher das Cavernas”. O filme é livremente inspirado no projeto de Robert Smithson, “The Truly Underground Cinema” (1971) e no filme “The Very Eye Of The Night” (1958), de Maya Deren.

Já “Cabana” se apropria de fatos históricos, no caso o movimento popular da Cabanagem, que aconteceu no Pará no período de 1835 a 1840, caracterizado por uma revolta violenta gerada pela insatisfação com a situação econômica e social da região. O curta narra a história de duas mulheres do movimento, Margarida (vivida pela amazonense Isabela Catão) e Maria Lira (a paraense Rosy Lueji), que se encontram na cabana do título, situada no coração da floresta amazônica.

“O filme narra a história de duas mulheres no contexto da Cabanagem. Meu objetivo é trazer a reflexão sobre o papel das mulheres nesse que foi um dos movimentos sociais do país e que pauta até hoje a dinâmica de como o país encara seu Norte. Mas gosto de deixar para o público também interpretar e imaginar a partir da obra. O filme, depois de pronto, vai para o mundo e se transforma a cada vez que é exibido”, falou a diretora Adriana de Faria.

O curta já participou de alguns festivais e já recebeu algumas premiações, como as do Festival do Rio 2023 (Melhor Curta-metragem – Première Brasil), 22ª Mostra Goiânia de Curtas (Melhor Direção), 33º Cine Ceará Festival Ibero-americano de Cinema (Melhor Direção), 34º Festival Internacional de Curtas de São Paulo – Curta Kinoforum, 5º Festival de Cinema da Amazônia – Olhar do Norte (Menção Honrosa), e 3º Festival Curta Bragança – Mostra Samaúma (Melhor Filme), entre outros.

“Participar da mostra com ‘Cabana’ é um sonho realizado. Além de ser um dos maiores festivais do Brasil, Tiradentes é um encontro do cinema brasileiro, e ter um filme do Norte presente é ser reconhecido como parte dessa construção do audiovisual do nosso país”, destacou Adriana, que realizou o curta com ajuda do Prêmio de Incentivo à Arte e à Cultura da Fundação Cultural do Pará, de investimentos próprios e apoios de empresas privadas. A produção contou com uma equipe de mais de 30 pessoas do Norte e Nordeste.

CALENDÁRIO

A Mostra de Cinema de Tiradentes abre o calendário audiovisual brasileiro apresentando um panorama de exibições de filmes em pré-estreias e sessões especiais divididas em vários recortes, tudo com entrada gratuita em diversos espaços na cidade histórica mineira. No total, serão exibidos 145 filmes, sendo 43 longas, 3 médias e 99 curtas-metragens, em 61 sessões de cinema, vindos de 20 estados. Debates após as sessões e rodas de conversa completam a experiência cinematográfica proporcionada pelo evento.

Este ano, o evento celebra as trajetórias de dois mineiros: o cineasta André Novais Oliveira e a atriz Barbara Colen. Além de debates sobre seus trabalhos e a presença de ambos ao longo da mostra, serão exibidos quase 20 filmes, entre curtas e longas, com envolvimentos dos dois. Entre eles, os começos de tudo: os curtas-metragens “Fantasmas”, exibido em Tiradentes em 2010 e que revelou André como uma das vozes mais originais da produção brasileira no século 21; e “Contagem”, de Maurílio Martins e Gabriel Martins, que mostrou o talento de Barbara em 2010, e chamou atenção para que ela posteriormente estivesse em outros trabalhos celebrados, como “Bacurau” (2019), de Kleber Mendonça Filho.

Em sua 17a versão, a Aurora – seção do evento dedicada a filmes independentes feitos por realizadores com até três longas-metragens no currículo e que se caracteriza por trabalhos de risco estético e narrativo – apresenta sete títulos inéditos em pré-estreia mundial, escolhidos pela curadoria de Francis Vogner dos Reis, Tatiana Carvalho Costa e Juliano Gomes – “Eu Também não Gozei” (SP), de Ana Carolina Marinho; “O Tubérculo” (SP), de Lucas Camargo de Barros e Nicolas Thome Zetune; “Maçãs no Escuro” (SP), de Tiago A. Neves; “Sofia Foi” (SP), de Pedro Geraldo; “Not Dead” (BA), de Isaac Donato; “Lista de Desejos para Superagüi” (PR), de Pedro Giongo; e “Eros” (PE), de Rachel Daisy Ellis. Todos eles vão ser avaliados pelo Júri Oficial e concorrem ao Troféu Barroco e a prêmios de parceiros da mostra.

REFLEXÕES

Além das exibições, o 27º Seminário do Cinema Brasileiro segue como uma das atividades mais aguardadas da mostra, por estender a experiência da sala de cinema ao colocar os filmes em perspectiva crítica e de produção. “São mais de 50 debates que colocam no centro 160 profissionais do audiovisual e equipes dos filmes”, falou Raquel Hallak, diretora da Universo Produção e coordenadora da Mostra de Cinema de Tiradentes, destacando ainda o Fórum de Tiradentes – Encontros pelo Audiovisual Brasileiro, que reúne profissionais de diversos segmentos do audiovisual brasileiro para o diagnóstico dos pontos críticos da atividade no país.

“Serão promovidos encontros, debates e reuniões de trabalho em torno de três eixos temáticos que pretendem fazer um balanço de 2023 e apontar as perspectivas para 2024, debater a regulamentação e legislação do mercado audiovisual com foco no VoD [vídeo sob demanda] e ainda refletir sobre as políticas nacionais de gestão compartilhada com foco na Lei Paulo Gustavo, Lei Aldir Blanc e arranjos regionais”, pontuou ela.

A Mostra Tiradentes tem ainda em sua programação a mostra Olhos Livres, que traz um recorte de longas-metragens que se caracteriza pela diversidade de formas e conceitos, sem regulamento prévio e muitas vezes alternando entre cineastas de carreiras consolidadas e em começo de trajetória. E há a mostra Clássicos de Tiradentes, com recorte que pretende revelar um universo de filmes que atentam contra duas noções mais convencionais sobre a ideia de “clássico”.

ON-LINE

Diversos títulos que integram a mostra também estarão disponíveis on-line, na plataforma do evento (mostratiradentes.com.br). A seleção inclui títulos da Mostra Panorama e da Mostra Homenagem, e serão disponibilizados para visualização entre os dias 20 e 27 de janeiro, simultaneamente à realização da programação presencial na cidade mineira.

Além disso, um recorte especial com cinco curtas exibidos no evento farão parte da programação da Mostra Tiradentes na plataforma IC Play. Os filmes serão exibidos gratuitamente de 31 de janeiro a 9 de fevereiro, no site www.itauculturalplay.com.br.

“Há 27 anos realizamos uma mostra de cinema que continua tão determinada como antes, certa de suas escolhas, enriquecida pelo tempo. A cada edição, renova seu compromisso de oferecer uma programação abrangente e gratuita que reúne ações de formação, reflexão, exibição e difusão do cinema brasileiro. Apresenta, exibe e difunde a diversidade da produção audiovisual brasileiro e faz eco para os melhores frutos”, finalizou Raquel Hallak.