
Letras que já cruzaram os rios da Amazônia agora aportam na maior feira de artesanato da América Latina. Na 25ª edição da Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte), em Olinda (PE), mais de 500 peças feitas com madeira de embarcações desativadas traduzem, em formas e palavras, a cultura ribeirinha do Pará.
As obras são assinadas por artistas populares ligados ao projeto “Duletos”, uma iniciativa do Instituto Letras que Flutuam, que atua como ponte entre essa tradição centenária e novos públicos. Criado em Belém, o Instituto se dedica a valorizar o ofício dos “abridores de letras” — artistas que pintam nomes nas proas das embarcações amazônicas. Em 2025, essa prática completa 100 anos, e parte dessa memória foi levada à Fenearte em forma de arte decorativa e sustentável.
A Feira Nacional começou no dia 9 e segue até o próximo domingo (20), reunindo mais de 5 mil expositores de todo o Brasil e de outros países. Com 700 estandes e uma intensa programação cultural, a edição deste ano homenageia as feiras livres de Pernambuco, com o tema “A Feira das Feiras”.
Letras que contam histórias da Amazônia
Criado em Belém, o Instituto Letras que Flutuam é o primeiro do Brasil voltado à valorização da cultura ribeirinha da Amazônia. O projeto nasceu após mais de 15 anos de pesquisa e atuação junto aos “abridores de letras” — artistas que pintam os nomes nas proas das embarcações que navegam pelos rios do Norte. Em 2025, esse ofício completa um século, e parte dessa memória foi levada à Fenearte em forma de arte decorativa e sustentável.
As peças mantêm viva a tradição das letras pintadas à mão, agora sobre madeira reaproveitada de barcos. Palavras como “alegria”, “gratidão” e expressões amazônicas chamam a atenção do público e despertam curiosidade. “A letra decorativa amazônica aproxima as pessoas, abre espaço pra gente contar a nossa história”, afirma Fernanda Martins, diretora do Instituto.
A participação na feira também gerou oportunidades de venda e visibilidade. Algumas peças foram adquiridas por lojas como a do MASP (Museu de Arte de São Paulo) e despertaram o interesse de designers, lojistas e influenciadores. “Foi tudo muito rápido, mas conseguimos envolver dez artistas, que se mobilizaram e entenderam o tamanho da Fenearte. Estamos vivendo um processo de troca muito rico, que rompe o isolamento do Norte e mostra a potência da nossa cultura”, afirma Fernanda.
Intercâmbio cultural
A presença do Pará na Fenearte vai além do comércio. A experiência representa um salto de formação e conexão para os artistas envolvidos. Dois deles, Kekel e Barata, viajaram de avião pela primeira vez para participar da feira. “Eles não só estão vendendo, mas aprendendo sobre precificação, descontos, logística, taxas de cartão… São vivências que fortalecem o caminho de profissionalização desses mestres da arte popular”, destaca Fernanda.
O estande do Instituto está localizado antes da entrada principal da feira, em um espaço alternativo e convidativo, com ambientação livre e mesas compartilhadas entre projetos autorais. “É um espaço privilegiado, mais aberto à conversa e ao tempo da escuta. Estamos conseguindo contar o que é a Amazônia ribeirinha para quem nunca ouviu falar de letras que flutuam”, conta a diretora.
“Participar da Fenearte é um marco simbólico: celebrar um ofício centenário em um dos maiores palcos da cultura popular do Brasil. E provar, mais uma vez, que as letras da Amazônia seguem navegando — agora mais longe, mais fortes e mais visíveis”, diz Fernanda Martins.