TEATRO

Palhaços Trovoadores: Comédia não tão antiga assim

A primeira apresentação será apenas para convidados, neste sábado, 15, às 20h. Já no domingo, 16, no mesmo horário, ocorre a primeira sessão aberta. Confira!

Palhaços Trovadores adaptam roteiro do século 16 para falar do silenciamento da mulher casada
Palhaços Trovadores adaptam roteiro do século 16 para falar do silenciamento da mulher casada

Os Palhaços Trovadores estão de espetáculo novo: “A comédia da esposa calada que falava mais que papagaio na chuva”. A primeira apresentação será apenas para convidados, neste sábado, 15, às 20h. Já no domingo, 16, no mesmo horário, ocorre a primeira sessão aberta ao público, gratuita, na Casa dos Palhaços, no Reduto.

O enorme título do espetáculo, já bastante curioso, é adaptado da obra original italiana, que ao invés das palavras “calada” e “papagaio”, chegou ao Brasil com as palavras “muda” e “pobre”, por meio do grupo mineiro Galpão. “Assisti à montagem do grupo Galpão no final da década de 80, e esse espetáculo não saiu da minha cabeça”, conta o diretor do espetáculo, Marton Maués.

“Era um projeto meu bem antigo. Tentei montá-lo algumas vezes, sem sucesso. Até que conseguimos agora. Mas aí, vimos que o texto, que na adaptação do grupo Galpão chamava-se ‘A comédia da esposa muda que falava mais que pobre na chuva’, estava muito defasado. A começar pelo título, então escrevemos nossa versão, em que essa esposa, na verdade é calada, silenciada dentro de uma relação abusiva”, explica.

No roteiro original, a esposa de fato é muda e o casal vive às turras. Certo dia, chega à cidade um médico, tipo charlatão, anunciando que cura qualquer enfermidade. O marido então, resolve contratá-lo para curar a mudez da esposa. Esta, curada, não para mais de falar e exigir mil e uma coisas, além de revelar todos os “podres” do marido comerciante.

O marido, não suportando tanto falatório, chama novamente o doutor, para que reverta a cirurgia, o que se revela impossível. O doutor então propõe tornar o marido surdo, assim deixaria de ouvir para sempre a voz, as exigências e acusações da esposa. Feito isso, o marido deixa de ouvir inclusive as cobranças do dito médico.

NOVA VERSÃO

No espetáculo dos Trovadores a proposta é denunciar a violência contra a mulher no matrimônio, com uma esposa que vai sendo silenciada aos poucos. “Ela representa muitas esposas do passado e do presente. Passamos um longo tempo discutindo o texto e realizando pesquisas e experimentações”, comenta Marton.

A história é contada no palco por uma trupe de palhaços. São quatro personagens fixos: marido, esposa, doutor e assistente. A esposa é interpretada por duas atrizes-palhaças, que ora alternam suas aparições em cena, ora aparecem ao mesmo tempo. Há mais três, que atuam como narradores e vão conduzindo a história.

Pode parecer estranho um tema tão delicado ser abordado por palhaços, mas a tradição do cômico mundial sempre foi essa: a crítica social aos costumes, de forma contundente e risível. É famosa a frase latina que ensina: “castiga-se os costumes, rindo-se deles”, destacou Marton.

“Se formos mais para trás, veremos que na Grécia, as comédias eram muito críticas, desafiando as normas sociais e até o poder imperial. No século passado, Chaplin nos fazia rir, emocionar e refletir criticamente sobre o mundo. Enfim, o riso sempre foi crítico. Quando rimos das bobagens do palhaço, que se atrapalha com pequenas coisas, rimos de nós mesmos, que não damos conta de tudo na vida, que somos frágeis, humanos e não deuses como querem que sejamos”, reflete.

Como um grupo grande, com homens e mulheres no elenco, os Palhaços Trovadores declaram que não podem ficam alheios às críticas que precisam ser feitas. “Isso [a violência contra a mulher] nos toca, nos atravessa demais. As palhaças foram fundamentais no processo de construção do texto. Elas trouxeram as questões, apontaram os caminhos, deram o tom, a régua e o compasso. O espetáculo é delas, das Palhaças Trovadoras”.

O espetáculo também já tem na agenda mais duas apresentações neste mês: dia 20 (quinta-feira), às 19h30, na Usipaz do Jurunas; e dia 22 (sábado), às 10h30, na República de Emaús, no Bengui.