O violonista Sebastião Tapajós completaria neste mês 81 anos, caso estivesse vivo. Sua obra, que ganhou reconhecimento em todo o mundo, continua reverenciada por músicos, compositores e intérpretes. Um exemplo disso é a palestra-recital “O Violão no Pará”, que será realizada nesta quinta-feira, às 18h, na Casa das Artes, em Belém. A iniciativa é do músico e professor José Maria Bezerra em parceria com o músico Mauricio Gomes, em homenagem a Sebastião Tapajós, que faleceu em 2021, vítima de infarto.
Na programação, Mauricio Gomes tocará obras de Sebastião e José Maria Bezerra tocará as obras que ele compôs a partir do contato com o violonista santareno, em homenagem a ele. Com formação na Europa, Mauricio Gomes é um intérprete que se debruçou sobre a obra de Sebastião. “Ele toca muito bem violão e em dado momento disse que a obra do Sebastião merece ser ouvida e vista de uma outra forma. Então, o Mauricio gravou um álbum só tocando o Sebastião. O Andreson Dourado, por sua vez, que é o pianista que tocou muitos anos com o Sebastião, também tem um material inédito”, destaca Bezerra, que é professor da Faculdade de Música da Universidade Federal do Pará (UFPA). Ele assinou tanto a direção musical do disco de Mauricio interpretando obras de Sebastião Tapajós quanto o último álbum deste, chamado “Sonhos e Valsas”.
A palestra desta quinta é resultado da pesquisa de doutorado defendida por José Maria Bezerra em 2021. “Na minha tese, pesquisei parte da obra do Sebastião Tapajós. Durante a pesquisa de campo, estreitei a amizade com ele e a gente criou um laço de amizade muito forte. Ao mesmo tempo que eu ia fazendo a pesquisa, fui entendendo a obra dele, compreendendo as características musicais de Tião. Então, comecei a compor uma obra em homenagem a ele. É uma peça instrumental, uma suíte para violão com cinco movimentos, a ‘Rio Surubiu Suíte’, onde eu tento contar de maneira musical-instrumental a vida do Sebastião”, descreve o músico.
No encontro, o músico irá compartilhar os detalhes do contato com Sebastião. “Vai ser uma palestra com exemplos musicais, tanto do Tião, com vídeos dele tocando durante as entrevistas que fiz com ele, quanto palestra-recital comigo e o Mauricio Gomes, que é professor do Instituto Carlos Gomes”, diz Bezerra, explicando que dividiu a obra de Sebastião Tapajós em três momentos: concertista intérprete, compositor brasileiro, e amazônida. “O terceiro conceito, o amazônida, é onde me debrucei mais na pesquisa. Dentro da grande obra que o Sebastião compôs, é onde ele se dedicou a falar sobre a Amazônia”.
Criador
José Maria Bezerra diz que já conhecia Sebastião Tapajós antes da pesquisa, mas quando se debruçou sobre a obra dele, se aproximou mais do violonista. “No primeiro contato, eu fui na casa dele, em Santarém. A gente marcou uma entrevista, mas nesse dia tinha um ensaio. Como eu já estava lá, entrevistei músicos que estavam com ele. Depois a gente se encontrou em Belém e eu fui fazendo assim, foram basicamente três anos gravando vídeos e quatro anos de pesquisa em que a gente se falava todo dia. Ele me ligava toda manhã para dizer o que estava fazendo e eu ligava para ele e mostrava o que estava compondo. Daí já tinha extrapolado a pesquisa, tinha se tornado amizade mesmo”, relata.
E assim foram nascendo, no mínimo, quatro peças em homenagem ao Sebastião. “Uma delas chama ‘São Sebastião’. Tem uma peça que eu fiz em homenagem à minha mãe, mas a partir de características encontradas em algumas obras dele, chama-se ‘Mãe’, e ele me ajudou, inclusive, a finalizá-la. Ela está gravada no último álbum que eu fiz. A peça ‘Rio Surubiu’, de cinco movimentos, demorou um pouco mais para ser feita. Eu ia mostrando para ele aos poucos e de alguma forma, ele ia me ajudando na formatação dessa obra”, lembra.
“Primeiro, acho importante falar do aspecto ser humano, porque Sebastião Tapajós era uma pessoa superacessível. Cheguei com a minha pesquisa já num período onde Sebastião estava fragilizado, doente, mas mesmo com toda a dificuldade que ele estava apresentando para tocar, a gente percebia que ele tinha uma técnica muito grande”, enaltece.
José Maria Bezerra ressalta a trajetória de Sebastião Tapajós e a riqueza da obra dele. “É importante destacar seu crescimento musical, pontuando desde a saída dele de Santarém para Belém, depois daqui para o Rio de Janeiro, e de lá para a Europa. Quando ele voltou da Europa, foi para um meio musical onde tinha muita gente boa. Ele entrou no meio da Bossa Nova, da música instrumental brasileira, mas sempre mostrando uma característica muito pessoal”.
“Eu falo que Sebastião era um intérprete criador, porque nas interpretações ele sempre colocava alguma característica musical, e ao colocar isso, começou também a colocar músicas autorais, que têm um caráter muito rítmico, próprio da nossa região. Ele usou técnicas do violão, das escolas violonísticas, e começou a aplicar essas técnicas misturando com os ritmos da Amazônia”, destaca o professor e pesquisador.
“Por exemplo, ele tem uma música chamada ‘Carimbó’, onde faz a tradução do toque dos tambores para o violão. Ele conseguiu, de uma maneira muito pessoal, fazia parecer que aquilo era muito fácil, sendo que tem coisas que são quase impossíveis de reproduzir, mas aí é fruto de muito estudo. Era um músico que conhecia o seu instrumento de uma forma que pouquíssimos conhecem. Ele era apaixonado pelo instrumento e dedicou a vida dele a isso”.