Cerca de 250 fotografias produzidas pelo paraense Luiz Braga ao longo da sua trajetória profissional, desde a década de 1970 até a atualidade, estão na exposição “Luiz Braga – Arquipélago Imaginário”, que abre no próximo dia 12, no Instituto Moreira Salles (IMS), em São Paulo, em comemoração ao meio século de carreira do artista. Dentre elas, são 190 imagens inéditas, que evidenciam os principais temas presentes na produção do fotógrafo, como a conexão com o seu território de origem e a perspectiva intimista diante dos ambientes e personagens retratados.
A curadoria é assinada por Bitu Cassundé, com assistência de Maria Luiza Meneses, para apresentar a seleção que ocupará dois andares do centro cultural. “O processo curatorial lida diretamente com o ato de excluir, da escolha. Claro que uma exclusão que se relaciona a um partido, a questões que norteiam o projeto e os interesses conceituais. Então, pensar uma exposição que reflita sobre a produção de 50 anos do fotógrafo Luiz Braga é, antes de tudo, um gesto de percorrer os diferentes interesses da sua produção. Acessar o seu organizado arquivo foi um processo intenso de mergulhar pelo seu processo”, falou Cassundé.
O recorte não linear de imagens delineia a dimensão do imaginário sensível e ficcional de Luiz Braga sobre o território amazônico, principal interesse em sua produção.
“Um dos meus primeiros interesses foi pesquisar sua produção inicial em preto e branco. Então, a exposição vai se compondo por um grande recorte de imagens em P&B em relação com as coloridas. A mostra panorâmica não tem um caráter retrospectivo, de colocar uma relação temporal, mas sim uma articulação de diferentes momentos. Temos imagens desde 1976 até 2024”, explicou o curador.
O título da mostra se refere ao Marajó, maior arquipélago flúvio-marítimo do mundo, formado por mais de 2.500 ilhas no Estado do Pará, lugares registrados por Braga. Ao escolher a terra natal como campo poético de investigação, o fotógrafo se aproxima das pessoas e lugares registrados. O resultado, no entendimento dos curadores, é uma produção intensa, carregada de intimidade e cuidado com os sujeitos e ambientes, que compreende aspectos de uma Amazônia múltipla.
“É sempre desafiador [montar uma exposição], principalmente quando nos deparamos com uma produção tão sofisticada quanto a de Luiz Braga. Daí voltamos à questão anterior do drama que é escolher, pensar um recorte. A exposição ocupa dois andares do IMS, conta com 258 fotografias, sendo 190 inéditas, de diferentes décadas de produção, e evidencia a intimidade, o ordinário e o gesto de ‘espiar’ como metodologias poéticas”, contou Cassundé.
NÚCLEOS
A exposição “Luiz Braga Território Imaginário”, é dividida em nove núcleos, mais uma cronobiografia e se articula com eixos conceituais fundamentais na sua produção, como: O outro, o alheio; Territórios e pertencimentos – O Norte; Arquitetura da intimidade; Afazeres e trabalho; Sintaxes populares; Nightvision – mapa do Éden; O retrato; O antirretrato; O Marajó.
“Temos imagens de diferentes períodos de produção que se articulam de uma forma orgânica, e se estruturam numa perspectiva ensaística”, acrescentou o curador.
Nos primeiros núcleos da exposição, a curadoria reforça a importância do vínculo do fotógrafo com os locais que registra e as pessoas que os habitam. São exibidas imagens feitas na tradicional procissão do Círio de Nazaré, cenas do cotidiano ribeirinho, da arquitetura das casas de palafitas de Belém e arredores, ou ainda uma fotografia de uma mulher que caminha pela rodovia Transamazônica, feita em 1996.
Já nos núcleos Retrato e Antirretrato, a curadoria ressalta como os retratos produzidos por Braga diferem do formato clássico, marcado pelo fundo neutro. Em suas imagens, os ambientes e objetos em torno dos indivíduos são centrais para compor a cena. Roupas, bolas de futebol, barcos e bares são protagonistas junto aos personagens. A seção Antirretrato reúne fotografias em que os indivíduos aparecem geralmente de costas ou de lado, enquanto contemplam o horizonte ou caminham imersos em seu cotidiano.
A mostra encerra com a série de imagens da ilha do Marajó, único núcleo com todas as fotos coloridas e o maior da exposição. Território de histórias e ancestralidade, imerso nos saberes indígenas que regem a culinária e a língua, a ilha tem sido o local de investigação do fotógrafo nos últimos anos, com ênfase na forma, na luz equatorial e na cor do arquipélago.