EXEMPLO

Orquestra Sustentável do Sesi promove arte com consciência ambiental

A conscientização ambiental é um dos propósitos da orquestra, além de transformar trajetórias e formar cidadãos por meio da música.

Foto: Divulgação
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Nas mãos das crianças, o que iria para o lixo vira arte e som. Garrafas, panelas, baldes, vasilhas de plástico, latas de lixo, canos, tampas, potes são reaproveitados e transformados em instrumentos musicais. A conscientização ambiental é um dos propósitos da Orquestra Sustentável SESI (OSS). O outro é transformar trajetórias e formar cidadãos por meio da música.

A OSS existe desde 2022 e reúne mais de 30 integrantes, entre crianças e adolescentes. São alunos das Escolas SESI e de escolas públicas do entorno do Teatro do SESI, em Belém. Ana Cláudia Moraes, gerente executiva de cultura do SESI, destaca que o propósito da orquestra está alinhado à essência da instituição. “O SESI valoriza a cultura e a arte. Então, ele é o maior apoiador desse organismo, que é a Orquestra Sustentável SESI. A percussão é a base da nossa orquestra, uma orquestra de percussão com instrumentos confeccionados com resíduos que poderiam ser descartáveis”, explica.

O coordenador de área do Teatro do SESI, Júlio Silva, conta que a orquestra começou como um musicalização infantil, mas que evoluiu junto com a evolução musical das crianças. “Um projeto como esse, principalmente na área musical desperta nas crianças e jovens um senso diferente do que é habitual no ambiente escolar, no ambiente familiar. É um exercício fundamental para a vida deles, como um todo. E é nítida a evolução dessas crianças no sentido musical”, afirma.

Alguns alunos estão desde o início. É o caso do Henrique Costa. Aos 18 anos, ele é o aluno mais velho da orquestra, começou no projeto com 14 anos e, ao longo desse tempo, pôde aprender com vários professores, conhecer artistas e acompanhar as mudanças no formato e repertório da orquestra.

“A orquestra era dividida em violão e, a parte da percussão em si. Eu tocava violão e depois com as mudanças passei a experimentar novos instrumentos. Hoje eu toco barrica”, conta o adolescente. Para Henrique, o uso de instrumentos sustentáveis é a grande mágica do projeto. “O conceito de instrumentos recicláveis é a ideia de que qualquer coisa pode fazer som, seja uma lata de leite, uma caixinha, uma garrafa pet, até palito de dente, a gente pode usar para fazer um instrumento. Assim, as possibilidades são infinitas para fazer música”, reflete.

A vivência na Orquestra Sustentável também foi crucial para que o adolescente escolhesse o curso superior que queria fazer. “Hoje eu faço faculdade de produção cênica na UFPA. Eu peguei como base a orquestra. Eu vi que é uma paixão, eu gosto muito da orquestra e essa oportunidade de poder trabalhar com isso me deixou muito feliz”, destaca Henrique

Outros integrantes começaram recentemente, mas já desenvolveram o espírito do projeto. A Iris Pereira, 11 anos, sempre gostou de música, mas antes da orquestra não havia tido a oportunidade de tocar. Há pouco mais de um mês no projeto, agora familiarizada com os instrumentos, já até confeccionou seu próprio agogô. “Eu que fiz sozinha. Usei uma garrafa pet pequena, uma maior de 2 litros e um cabo de vassoura. E foi bem legal porque é uma forma de reciclar os materiais para preservar mesmo o meio ambiente”, conta a menina.

Ritmos e Sustentabilidade na Orquestra

Ritmos Amazônicos são destaque

Além das lições de preservação e sustentabilidade, participar da Orquestra também ensina a valorizar os ritmos amazônicos. Boa parte do repertório é composto por gêneros populares, regionais e sonoridades da ancestralidade amazônica. A proposta é conectar as crianças e adolescentes com a riqueza cultural da região.

Propósito que está inclusive na escolha dos mestres. Um dos professores da OSS é o músico Márcio Jardim, referência na percussão amazônica. Fundador do Trio Manari, ele tem mais de 20 anos de pesquisa e difusão da cultura popular, um conhecimento que repassa para os alunos. “Trabalhamos com ritmos amazônicos, como carimbó, xote bragantino, boi, marabaixo, entre outros, misturando os instrumentos amazônicos, como caixa de marabaixo, barrica, curimbó, com os recicláveis”, conta o professor.

Márcio também explica que para além de promover a conscientização ambiental, o uso dos instrumentos recicláveis não é alegórico. “Eles realmente têm uma sonoridade boa, fazem som de verdade. A gente quer que seja não só um adereço, mas sim um instrumento que faça som e que some. Essa é a maior diferença”, pontua.

A escolha pela música amazônica agrada os alunos. “É muito importante, porque eu acredito que a nossa música é muito boa, muito harmônica, é uma música que as pessoas precisam ouvir, porém não é muito valorizada. Eu gosto muito de música brasileira. Eu sempre tô no meio e eu adoro o carimbó e isso é também para trazer nossas origens de volta”, reflete Clara Matos, 13 anos.

O Impacto Familiar e a Jornada COP+

Projeto envolve toda a família

O auxiliar de serviços gerais do Teatro do SESI, Renan Souto, é funcionário do Teatro do SESI, enquanto a filha Yohanna Rafaelly, 13 anos, é integrante da orquestra. Ela se interessou em participar do projeto após o pai levá-la para assistir aos concertos. “A gente fica feliz, a gente vê que é um desejo dela, que ela está empenhada, a gente fica feliz pela felicidade dela. Ela está mais solta, conversa mais, tem mais amigos. A gente vê esse desenvolvimento também dela em casa”, afirma Renan que esteve presente em todas as apresentações da filha até agora.

Além de aprender a tocar, Yohanna também já aprendeu a confeccionar os instrumentos sustentáveis. A menina fez uma barrica utilizando pote de sorvete. “Eu acho muito bom não jogar lixo no chão e reutilizar esse lixo como instrumento musical”, conta.

O pedagogo Rodrigo Gomes também é um pai cheio de orgulho. No caso, em dose dupla. As duas filhas participam da orquestra, as gêmeas Analu e Morena Flor. Elas já aprenderam a tocar vários instrumentos e também aprenderam a valorizar a reciclagem. “É muito legal trabalhar com os instrumentos reciclados, por causa do meio ambiente”, destaca Morena Flor. “É legal ver que o que você fez com as próprias mãos funciona”, complementa Analu.

Rodrigo conta que as filhas sempre participaram de várias atividades para ajudar a desenvolver diferentes habilidades, mas que, dentre todas, a orquestra é a única que elas não abrem mão. “É emocionante a gente ver o quanto elas se envolvem. É emocionante ver não só no dia da apresentação, mas tudo que a gente sabe que foi desenvolvido até chegar nesse momento, ver todo o processo de onde saiu, ver todos entrarem em sintonia e ter um resultado elogiado e reconhecido até por outros artistas”, conta Rodrigo.

Orquestra é parceira da Jornada COP+

Para este ano, a OSS integra a Jornada COP+ de forma transversal às ações do movimento. Um núcleo representante da orquestra participará de apresentações em eventos promovidos pela iniciativa e pela FIEPA. Além disso, os propósitos da Orquestra estão diretamente ligados às soluções sustentáveis promovidas pela Jornada.

“Essas crianças que participam da orquestra aprendem a valorizar e a cuidar do meio ambiente, aprendem sobre respeito, cidadania, a valorizar o lugar onde moram, a nossa Amazônia, a nossa cultura, porque eles têm contato com a nossa música regional, com a nossa cultura, com os nossos artistas regionais”, conclui Ana Cláudia Moraes, gerente executiva de cultura do SESI.

A Jornada COP+ tem o apoio da Confederação Nacional das Indústrias (CNI), da Ação Pró-Amazônia, SESI, SENAI, IEL, Instituto Amazônia+21, Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC) e Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR). O projeto tem como patrocinadora master a Vale e patrocinadora premium a Guamá Tratamento de Resíduos.