Wal Sarges
Músicos da Orquestra Jovem Vale Música (OJVM) embarcam para uma turnê especial em comemoração aos 20 anos de atuação do projeto Vale Música Belém. Formado por 72 pessoas, o grupo seguirá nesta sexta-feira, 28, para apresentações que ocorrem entre junho e julho, em importantes salas de concerto de São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte.
Vitória Karoline é uma das jovens musicistas que integram o grupo que viajará. Ela tem apenas 16 anos e é aluna do projeto desde 2019, tendo ingressado na Orquestra em setembro do ano passado. “Se tem algo que eu amo fazer é tocar o meu instrumento e ainda ter a oportunidade de viajar para mostrar não só o que eu gosto de fazer, mas o esforço de todos, me faz muito feliz. Nós estamos ensaiando bastante, vai ser lindo”, diz.
Ela celebra especialmente a troca com outros músicos. “Muitos deles já tocam há bastante tempo e tem muita experiência, imaginar que estarei ali lado a lado, compartilhando o mesmo sentimento que é o amor pela música, é muito incrível. Fora que as salas em que iremos tocar são maravilhosas”, comenta Vitória Karoline. Para ela, a partir do momento em que se escolhe seguir esse caminho, muitas portas se abrem e surgem chances de mudar de vida e futuro.
O Instituto Cultural Vale criou uma grande rede colaborativa de ensino e aprendizagem composta pelos projetos musicais de quatro estados e as maiores orquestras do país. São parceiras do Programa Vale Música, a Orquestra Sinfônica Brasileira, a OSESP, a Nova Orquestra, a Orquestra Ouro Preto e a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, patrocinadas pelo Instituto por meio da Lei Federal de Incentivo à Cultura.
É a realização de um sonho para muitos dos jovens, assim como reflete no trabalho árduo da professora Glória Caputo, idealizadora do projeto Vale Música Belém. “A proposta da turnê partiu de um convite feito no ano passado para nós participarmos do Festival Internacional de Campos do Jordão, na Sala São Paulo, onde ocorre a abertura do festival. Daí nós tivemos a ideia de ampliar a turnê, inclusive aproveitando os 20 anos da criação da Orquestra Jovem Vale Música”, destaca Glória Caputo.
É a primeira vez que a maioria desses alunos viverá a experiência de uma turnê. “Eles fazem parte do terceiro nível do projeto, o último. O primeiro é a socialização, depois tem a adaptação e por último, a profissionalização de seus integrantes. Então, esses alunos já fazem parte da orquestra. Da última turnê que nós tivemos, em 2017, a maioria dos alunos está em outros lugares, sejam empregados ou cursando mestrado no Brasil ou no exterior”, destaca Caputo.
Celebrar 20 anos deste projeto, que é tão importante para a música erudita no Pará, significa um marco, afirma Glória Caputo. “É uma realização profissional muito grande para mim, que há 40 anos trabalho com esse intuito da formação de música, na Fundação Carlos Gomes e depois na Fundação Amazônica de Música, porque quando nós iniciamos o projeto em 2004 era apenas um sonho. Nós estávamos empregando uma nova metodologia no ensino da música e a gente não tinha ideia dos resultados desse trabalho, que a gente já vem colhendo há anos”, comemora.
Momento de aprender com gigantes
Outros frutos do Vale Música, como lembrou a professora Glória Caputo, já estão por aí a seguir seus caminhos sozinhos, fortalecidos pelo que aprenderam em casa. Ou estão às vésperas de iniciar tal etapa. É o caso da musicista Helena Vital de Medeiros, 26 anos, que irá representar o Pará em uma residência artística com a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB), no Rio de Janeiro, uma das mais tradicionais orquestras do país.
Ela e outros dois músicos, um de Corumbá (MS) e outro da Serra (ES), foram selecionados na Residência Vale Música. Serão seis meses de aprendizados e de conexões proporcionados aos jovens, que se apresentarão junto à Orquestra nos concertos da temporada. A residência começará no próximo dia 6 de julho e a estreia dos músicos selecionados tocando com a OSB ocorrerá no dia 9 de agosto.
Bacharel em música, com especialização em violino, Helena conta que ainda está processando a novidade. “Comecei a preparação de malas e as despedidas no trabalho e nos grupos que eu participava. Eu já nutria aquela vontade de estar em novos ambientes, de passar por novas situações e de conhecer pessoas. Então me inscrevi pensando apenas em testar meu desempenho na prova e quando recebi a mensagem que tinha sido aprovada foi uma surpresa para mim”, conta.
A jovem é natural de Brasília, mas mora na capital paraense desde os dois anos de idade. A música entrou na vida dela aos três anos de idade, quando passou a ter aulas de violino na antiga Escola SAM – Serviços de Atividades Musicais. Durante a adolescência, estudou no Conservatório Carlos Gomes e depois passou a integrar a Orquestra Jovem Vale Música. Através do projeto, já teve a oportunidade de tocar com a Orquestra Sinfônica Brasileira no Theatro da Paz, em outubro do ano passado, e foi ao Rio de Janeiro para residências de curta duração, em que passou uma semana assistindo a aulas e ensaios.
Agora, a residência será mais ampla, durante todo o segundo semestre deste ano. Helena terá a oportunidade única de fazer parte da rotina da OSB, além de conviver, ter aulas, realizar recitais, participar dos ensaios e se apresentar junto aos músicos da OSB nos concertos da temporada. “Eu não estava tendo tempo, por exemplo, de estudar e me focar na minha vida profissional. A residência vai ser um tempo para eu focar no meu crescimento”, analisa.
O período da residência ocorre do dia 6 ao dia 22 de dezembro, sendo que a musicista também integrará o grupo de 72 músicos da Orquestra Jovem Vale Música que fará turnê no próximo mês. “Os meus colegas da Orquestra voltam para Belém e eu vou de Belo Horizonte direto para o Rio. Então, quinta-feira [ontem, 27] já é meu último dia aqui em Belém para passar esses seis meses fora”, conta.
A expectativa de Helena é alcançar experiências tão boas como outros musicistas paraense que já passaram pela Residência com a OSB, como a percussionista Julyana Nayara Carvalho de Souza, 20, selecionada em 2022. A musicista cursa bacharelado em música com habilitação em Percussão, no Instituto Estadual Carlos Gomes. Ela diz que foi a primeira vez que ficou fora do estado durante seis meses, convivendo com uma orquestra profissional do naipe da OSB. “Tive a experiência de ser regida por outros maestros que eu nunca sonhei. Toda essa experiência foi muito importante na minha vida porque além de tocar com grandes músicos, eu me apresentei com eles no Rock in Rio junto com a banda Sepultura. Isso é inexplicável para mim, que na época tinha 18 anos”, recorda.
Julyana diz que se pudesse dar um conselho a outros músicos como Helena é que confiem em si mesmos e em seu trabalho. “Eu não imaginava que eu ia passar na prova e depois que fui escolhida, vivi uma grande oportunidade. A residência é um marco na vida de um músico”. Cinco outros alunos já conquistaram as bolsas para fazer residência artística.
“Há três anos foram criadas as residências de longa duração dentro do projeto Conexões. As residências correspondem a bolsas concedidas aos alunos selecionados dos três polos onde estudam. A seleção é aberta a todos os instrumentos e os jurados da OSB fazem as escolhas por meio de vídeo e ao vivo. No primeiro ano, nós levamos as três bolsas e no último ano, foi decidido que cada polo teria direito a uma bolsa”, detalha Marília Caputo, musicista e coordenadora técnica do projeto Vale Música Belém.
“É muito importante este programa porque dá o gostinho aos alunos de saber o que é trabalhar numa orquestra profissional, porque a nossa orquestra, mesmo tendo um nível muito alto, é uma orquestra jovem. As bolsas oferecem aos jovens músicos o entendimento das exigências da carreira musical. Eu digo que o sonho só se torna realidade quando você consegue enxergar e acreditar nele”, considera Marília Caputo.