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Obra de Geraldo Ramos ganha exposição

Obra de Geraldo Ramos ganha exposição

TEXTO: ALINE RODRIGUES

O reconhecimento de uma trajetória fotográfica na Amazônia paraense, pautada em pelo menos meio século de registros imagéticos. Isso é o que propõe a exposição “Geraldo Ramos – o registro para além do fotógrafo”, que abre hoje, 17, às 19h, na galeria Benedito Nunes, na sede da Fundação Cultural do Pará.

“É uma transposição de uma pesquisa que vem dialogando desde o mestrado e que agora se encontra no doutorado, uma pesquisa em artes”,diz Madalena, sobre a gênese da exposição, contemplada com o Prêmio Branco de Melo da Fundação Cultural de Belém. A pesquisa, Madalena defendeu em 2018, no Programa de Pós-graduação em Artes da Universidade Federal do Pará (PPGARTES- UFPA). Mas continua sendo aprofundada no doutorado em Artes, na linha de pesquisa de “Poéticas em Arquivos”.

“Nós fizemos uma abertura do arquivo do Geraldo Ramos, a partir da trajetória dele aqui em Belém do Pará. Mas uma trajetória que foi palmilhada a partir de bairros: Nazaré, onde ele nasceu e viveu até por volta dos cinco anos, logo em seguida o bairro da Cidade Velha, onde viveu até por volta dos doze. Depois o bairro de Batista Campos, onde viveu até os 35, e na Pedreira, dos 35 até 70 anos”, diz Madalena Ramos, curadora e viúva do fotógrafo, que faleceu vítima da covid-19, em março do ano passado.

CADA BAIRRO UMA LEMBRANÇA

A exposição é dividida em instâncias, que representam cada bairro em que o fotógrafo paraense viveu, num projeto iniciado com ele ainda em vida. “Como uma forma de provocação, o Geraldo, na época, ia narrando as imagens que vinham à tona pelo simples fato de transitar por esses lugares. Quando estávamos no bairro de Nazaré, ele falava muito a respeito do janelão da casa, que hoje em dia a gente sabe que é uma porta da casa que era dos avós no bairro de Nazaré. Ele falava muito dessa janela porque, quando criança, costumava observar a [avenida] José Malcher, que na época era só som de terra batida. Observava o final da tarde, a vegetação no entorno e ele creditava a essa memória, uma espécie de estímulo à produção de imagens que posteriormente fariam com que ele se envolvesse com a fotografia”, conta Madalena, que incluiu na exposição imagens do arquivo de família de Geraldo, entre eles, a porta gigante.

Acervo de família de Geraldo Ramos

No bairro da Cidade Velha, ele narrava para mim a influência que teve quando conheceu o mestre Julião, no porto do Beco do Bitar, e quando começa a construir barcos com os amigos, como lazer. Na exposição, essas imagens estão reproduzidas, dele com quinze anos com o mestre Julião, os barcos que ele construía com os amigos e os primeiros deslocamentos do entorno de Belém. Também da Cidade Velha, a gente tem a reprodução de uma proa, a ponte, como imagens que faziam parte dessa memória”, diz Madalena.

Já os bairros da Batista Campos e da Pedreira formam os momentos do auge da vida profissional do fotógrafo, onde se destaca o laço institucional do Geraldo com a fotografia e o estado.

“A partir de 1986 até mais ou menos 1990, é um período recortado especificamente quando o Geraldo assume a coordenação do núcleo fotográfico junto ao Museu da Imagem e do Som (MIS) e posteriormente trabalha como diretor do MIS. Então, algumas imagens que estão ali na Batista Campos e na Pedreira fazem menção ao projeto Preamar, que como nós sabemos, a partir da segunda metade da década de 1980 veio à tona, até mesmo com a inauguração do Centur, como um espaço de divulgação, difusão, implementação e da pesquisa da cultura popular. O Geraldo trabalhou diretamente com o projeto, então ele tem um arquivo muito substancial sobre os primeiros registros dos grupos de cultura popular quando vieram para Belém se apresentar”, pontua Madalena.

ENCERRANDO CICLOS

Sobre a realização da exposição neste momento, Madalena diz que tem importância fundamental dividir essa pesquisa com o público. “O Prêmio Branco de Melo, pelo qual sou muito grata, me oportunizou, num momento muito propício, fazer uma espécie de um encerramento de um ciclo que não se deu por conta da morte do Geraldo, mas um encerramento quando Geraldo pôde revisitar o arquivo dele caminhando comigo, que foi a pesquisa do mestrado. Agora com o doutorado, a pesquisa vai se dar dentro do apartamento onde está o arquivo. Então, é muito significativo para mim esse momento, quando transita entre duas pesquisas em artes que vão fazer com que esse arquivo se alastre, seja para uma comunidade acadêmica, seja para a sociedade como um todo como um todo, Belém, a Amazônia paraense, até mesmo porque essa exposição vai também ter uma certa itinerância posteriormente”, adianta Madalena. “Ela é um marco em relação à pesquisa em artes e pesquisa sobre artes”, diz.

VEJA

Exposição “Geraldo Ramos- o registro para além do fotógrafo” – Acervo de Geraldo Ramos com curadoria de Madalena Ramos.

Abertura: Hoje, às 19h

Visitação: Até 21 de dezembro, das 9h às 17h.

Onde: Galeria Benedito Nunes (Centur/FCP – Av. Gentil Bittencourt, 650 – Nazaré)

Quanto: Entrada franca