Esta terça-feira marca a primeira edição do projeto “Vogue Celebra”, que reunirá, em evento em São Paulo, alguns dos novos talentos brasileiros da moda, e destacar seu papel nas transformações da cena nacional. A proposta é uma forma de prestigiar empreendedores e novos criadores que trouxeram para seus projetos, de forma notória, a moda com propósito e com diferentes caminhos criativos, e que têm gerado impactos positivos para a sociedade. E entre eles, estão os paraenses Marco Normando e Emídio Contente, da grife Normando, que ganha destaque ao lado do Ateliê Mão de Mãe, Igor Dadona, Isaac Silva, Meninos Rei, MISCI, Naya Violeta, Neriage e Santa Resistência.
As marcas foram selecionadas pelo time de especialistas da “Vogue”, tendo à frente a editora de moda sênior da revista, Vivia Sotocórno, considerando marcas que, de alguma forma, vêm transformando a sociedade em que se inserem. Gente que pensa para muito além da roupa-produto, mas nas pessoas que poderão vestir as suas criações, que estão fazendo moda democrática, justa e sustentável.
Sobre a escolha da Normando, a revista, além de elogiar a marca de origem paraense, explica que a curadoria considerou que “se trata de uma marca autêntica, que tem ajudado (ao reverter lucros de vendas) comunidades ribeirinhas em torno de Belém, de onde é Marco Normando. É moda autoral que se preocupa com sua comunidade”.
Durante o “Vogue Celebra”, as criações da Normando e das outras marcas destacadas serão homenageadas com influenciadores e personalidades convidadas desfilando peças assinadas por eles. Mais ainda, todo o evento foi pensado dentro dessa proposta da criação com propósito e sustentabilidade, num “círculo virtuoso”, desde os drinques assinados por alunos do Learning for Life (projeto Diageo) à décor com cenografia upcycling garimpada pela curadora Paloma Danemberg e à música da baiana Illy e das DJs Miria Alves e Marina Diniz. Tudo terá uma cobertura especial que integrará um dossiê completo digital com previsão de lançamento no próximo dia 6, incluindo os detalhamentos sobre as marcas e as características que levaram à escolha deste grupo.
Mas afinal, o que é uma moda com propósito? Se a moda faz parte da história da humanidade, como forma de expressão dos sentimentos das pessoas e de seu tempo, isso explica, na atualidade, a busca por peças que trazem boas experiências, que não agridam o meio ambiente e que dialoguem com o mundo. Ou seja, que passem mensagens de um consumo responsável e consciente, muito além de “seguir tendências”. É sobre isso e as escolhas da Normando que o estilista Marco Normando e o curador Emídio Contente falam nesta entrevista exclusiva ao DIÁRIO:
P: Como é fazer parte de um seleto time de novos talentos a serem homenageados neste projeto “Vogue Celebra” e como surgiu o convite?
R: A “Vogue” tem uma pesquisa e linha editorial muito atualizada e coerente com o contemporâneo. Em setembro, a editora de moda sênior da revista, Vivia Sotocórno, nos convidou para essa celebração da revista, para 10 marcas nacionais que estão construindo a moda autoral atual. E com muita satisfação recebemos esse convite e participaremos dessa primeira edição do evento.
P: Qual moda com propósito da Normando hoje?
R: Na Normando, celebramos nossas origens e raízes amazônicas, assim como a diversidade e o estímulo pela inovação dentro do design de moda. Na maior parte do desenvolvimento de coleção, a Normando utiliza matéria-prima nacional, de fornecedores e fábricas brasileiras, com tecidos certificados e de qualidade.
P: Ser sustentável é uma das características da marca, seja utilizando tecidos reciclados e o algodão orgânico certificado presente nas t-shirts, cujo lucro é 100% revertido para projetos com comunidades ribeirinhas no Pará. Poderia nos contar um pouco dessa proposta da Normando?
R: A Normando busca ser cada vez mais sustentável, tanto ambientalmente quanto socialmente. Respeitamos a construção das peças no seu processo completo. Queremos que nossos clientes usem nossas peças por muito tempo e que tenham consciência do consumo, por isso pensamos em um guarda-roupa completo, inteligente e de qualidade. Não abrimos mão de trabalhar com o social também. Por exemplo, atualmente estamos em um projeto social com mulheres em Barcarena, cujo resultado poderá ser visto a partir do ano que vem.
P: A escolha em ser uma marca slow fashion, onde a produção é de pequena e média escala, e que preza pela diversidade, foi uma forma de se diferenciar na moda brasileira?
R: Nossas peças são feitas para serem usadas por qualquer pessoa que se identifique com elas. Pensamos muito nas modelagens e entendemos como fundamental fazer provas das roupas antes de as lançarmos no mercado. Buscamos cada vez mais vestir os mais diferentes tipos de corpos. Uma das belezas em trabalhar com o slow fashion é também a proximidade com os clientes.
P: Como foi do processo de inspiração para o maravilhoso look escultórico verde que vestiu a Jade Picon na capa da “Glamour” de setembro?
R: Essas peças são feitas com tecido tecnológico, que possui metal em sua composição. São peças escultóricas e feitas uma a uma, manualmente. A nossa inspiração para essas peças são as Icamiabas (guerreiras amazônidas), como referência lúdica à força da mulher amazônica. Esses tops estarão disponíveis em coleção cápsula que lançaremos em dezembro. São peças muito especiais, que trabalhamos como esculturas em tecido mesmo.
P: É possível prosperar ao empreender no segmento da moda, em tempos difíceis pós-pandemia, e competindo com o fast fashion?
R: Nossa marca estava em construção em 2019, pronta para lançarmos no primeiro semestre de 2020, quando começou a pandemia. Adiamos o lançamento e estreamos em setembro de 2020, na “Vogue”. Foi muito difícil trabalhar e lançar nesse período de pandemia, mantivemos o máximo de segurança possível para a produção das peças. Foi uma prova de fogo grande, mas acontecemos nesse período. Acreditamos que um trabalho, quando tem verdade, ele acontece.
P: Qual mensagem de incentivo vocês gostariam de passar para os jovens criadores brasileiros, principalmente das regiões Norte e Nordeste?
R: Trabalhe, pesquise, se dedique e acredite no que você está fazendo. Acreditamos muito na dedicação e na pesquisa, tanto teórica e temática quanto de matéria-prima e de mercado. Conhecendo o entorno, a história, a filosofia, as ciências, as tecnologias e as artes, por exemplo, é possível estabelecer diálogos ricos com o contemporâneo. Se o trabalho tem verdade e consistência, ele tem grandes chances de ser reconhecido. A insistência também é um fator importante, não abandonem tão precocemente suas ideias. A sensibilidade em diversas áreas é fundamental para se manter no mercado de moda.
P: O que podem adiantar sobre essa coleção cápsula que chega em breve?
R: A coleção que iremos lançar agora é para as festas de final de ano. Estará disponível em nosso site e será divulgada pelas nossas redes sociais.
A coleção tem brilhos e metalizados também, utilizamos tecidos e matéria-prima que sejam coerentes com o que acreditamos para cada peça ou situação.
Texto: Tânia Tatsch/Colunista do Você