A Maralto Edições lança, neste mês de novembro, Deztroços, uma obra escrita e ilustrada pelo premiado autor Nelson Cruz. Com um conceito singular, o livro traz fotografias de vinte livros-objeto tridimensionais, cada um com capa, contracapa e miolo.
Deztroços reúne objetos que geralmente descartamos, transformados em arte que explora a materialidade e a estética dos resíduos. Cada peça é única, criada com elementos variados, como embalagens, latas, madeira e outros materiais, que ganham nova vida nas mãos do artista.
A ideia do livro surgiu há dois anos, quando Cruz refletia sobre o impacto ambiental do consumo e o acúmulo de objetos e embalagens, especialmente dos relacionados às compras on-line. Inspirado pelos poemas de Torquato Neto, ele começou a explorar a técnica de assemblage, criando composições que capturam as texturas, linhas e cores ao seu redor.
Esses objetos foram concebidos como pequenas obras de arte para exposições. Cada peça lembra um livro, embora sem o conteúdo textual convencional; suas capas se abrem e fecham, revelando no interior uma composição de objetos, criando uma narrativa visual única.
“O processo de seleção dos materiais foi totalmente instintivo e sem preocupação, principalmente, com publicação em livro”, explica Nelson Cruz.
“Meu desejo era apenas criar por criar. Inicialmente, aproximei e montei objetos, como se define no mundo das artes de assemblages. Em seguida, os objetos cresceram em importância para mim e, para que não ficassem somente no mundo das artes plásticas, resolvi escrever pequenos poemas para cada um deles. Espero que o leitor tenha uma experiência visual, de plasticidade e de deleite, e também consciência sobre a quantidade de detritos e quinquilharias que produzimos durante nosso dia, semana, mês. Será que alertamos para a questão do lixo individual que produzimos diariamente? Sinceramente, não sei.”
Deztroços impressiona pela qualidade estética: uma edição de capa dura, com páginas em papel couchê fosco e verniz de reserva no título da capa. Cada imagem é acompanhada por notas de rodapé que especificam detalhadamente os materiais usados na composição. O livro inicia-se com o “Objeto 1”, uma combinação artesanal de peças em leque, papel artesanal, espinha de peixe, parafusos e madeira sobre papelão Paraná, introduzindo a originalidade que permeia toda a obra.
“Em ferrugem aguardada
Uniram-se em desuso
O ex-peixe e os parafusos”
Nelson Cruz tem uma trajetória com obras que fundem linguagens visuais e narrativas, como em Os herdeiros do Lobo (2009), O livro do acaso (2014) e Benjamina (2019). Em Deztroços, ele dá um passo adiante, criando um conjunto artístico no qual cada peça é numerada, sem sugerir a sequência de livros tradicionais.
“É certo que a inquietação que me afeta e que, enquanto autor, busco passar para as imagens que crio é repassada ao leitor que, em sua maioria, talvez, espera respostas estéticas facilitadoras. Deztroços propõe incluir a vida material ao redor enquanto leitura de imagem e da transformação desse olhar em texto, em literatura. Recolhi e colecionei objetos enquanto experiências visuais diárias e que questionavam minha zona de conforto. O leitor atento em interpretação de imagens, creio, também terá sua zona de conforto questionada”, finaliza Nelson Cruz.
Deztroços é um testemunho da liberdade artística do autor, representando a expressão autêntica e espontânea que marca sua obra. O livro se destaca no cenário dos livros ilustrados brasileiros, unindo complexidade estética e a singularidade de objetos reais como ponto de partida para sua narrativa visual. Nas palavras de Cruz, Deztroços é o ápice de seu desejo de criar em sua forma mais pura e livre.
Já disponível para venda, o livro também fará parte do Programa de Formação Leitora Maralto, uma iniciativa voltada para escolas de todo o país.
Deztroços
Autor: Nelson Cruz
Editora: Maralto
Páginas: 128
Preço: R$ 79,90
Vendas: https://loja.maralto.com.br
Sobre o autor:
Escritor e ilustrador nascido em Belo Horizonte, Nelson Cruz publica no mercado editorial desde 1987. Foi três vezes indicado ao Prêmio Hans Christian Andersen de Ilustração, em 2002, 2020 e finalista na edição de 2024, e duas vezes indicado para a Lista de Honra do International Board on Books for Young People(IBBY), em 2004 e 2012. Pela Maralto, publicou Uns e outros: histórias de duplas, feito em conjunto com João Anzanello Carrascoza, que recebeu o Selo Distinção da Cátedra Unesco de Leitura PUC-Rio e o Selo Altamente Recomendável da Fundação Nacional de Literatura Infantil e Juvenil (FNLIJ) em 2022; Os trabalhos da mão, escrito por Alfredo Bosi, pelo qual Nelson venceu o Prêmio Jabuti na categoria Ilustração, obra também selecionada para o catálogo brasileiro apresentado na Feira do Livro Infantil de Bolonha; O edifício, escrito por Murilo Rubião, obra vencedora do Prêmio FNLIJ 2017 na categoria Prêmio Especial Coleção; Haicais visuais, de sua autoria, vencedor do Prêmio FNLIJ 2016 nas categorias O Melhor Livro de Imagem e A Melhor Ilustração; Visita à baleia, escrito por Paulo
Venturelli, livro finalista do Prêmio Jabuti e vencedor do prêmio 30 Melhores Livros Infantis do Ano em 2013. Em 2021 publicou Sagatrissuinorana, criado em parceria com João Luiz Guimarães, que venceu o prêmio de Livro do Ano, a principal categoria do Jabuti. Entre outras premiações, em 1998, seu livro de imagem Leonardo conquistou os prêmios FNLIJ e Octogones, do Centre International d’Études en Littérature de Jeunesse (CIELJ), da França. Em 2001, recebeu os prêmios Jabuti e FNLIJ por Chica e João. Em 2010, com Os herdeiros do lobo, novamente ganhou o Prêmio Jabuti. Em 2011, com Alice no telhado, conquistou o Prêmio Glória Pondé, da Biblioteca Nacional. Os originais desse livro participaram da exposição Tea With Alice, homenagem aos 150 anos do livro Alice no País das Maravilhas, no Museu de História de Oxford, em Londres, e na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa. Em 2013, A máquina do poeta levou o Prêmio APCA, da Associação Paulista de Críticos de Arte, além do 3º lugar do Prêmio Jabuti. Em 2015, a Academia Brasileira de Letras concedeu a O livro do acaso o Prêmio ABL de Literatura Infantojuvenil.