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Múltiplas e criativas Amazônias

a Bienal das Amazônias terá sua primeira edição a partir de 4 de agosto, em Belém, no Pará, numa antiga loja de departamentos com quatro pavimentos
a Bienal das Amazônias terá sua primeira edição a partir de 4 de agosto, em Belém, no Pará, numa antiga loja de departamentos com quatro pavimentos

Cintia Magno

As muitas Amazônias que compõem o bioma tão conhecido em todo o mundo se traduzem também na multiplicidade de expressões artísticas que nascem nesse território. E é justamente essa multiplicidade que deverá nortear a atuação na nova instituição de arte que ganha vida neste mês e conta com o patrocínio do Instituto Cultural Vale, a Bienal das Amazônias. Garantindo protagonismo à região, a instituição visa reunir, como nunca feito antes, obras de artistas contemporâneos de todos os territórios amazônicos.

Idealizadora do projeto, a produtora cultural paraense Lívia Condurú aponta que a Bienal das Amazônias surgiu no começo dos anos 2000, do seu desejo de mobilizar várias linguagens culturais do território amazônico em um evento de grande porte e com periodicidade bianual. Depois de um período em gestação, a ideia se institucionaliza agora.

“Ao longo dos anos de profissão fui focando a minha atuação, enquanto produtora cultural, nas artes visuais, me levando a desenhar, junto a uma amiga curadora, a Yasmina Reggad, nos anos de 2011/2012, projeto similar ao que será executado, um evento voltado para a produção contemporânea, em artes visuais, de todos os territórios amazônicos”, conta, ao atentar para a ideia defendida pelo nome pensado para a instituição.

“O nome parte da provocação de que, por trás do bioma Amazônia, que nos nomeia, existem múltiplas Amazônias, com idiomas, culturas e colonizações absolutamente diferentes, ainda que com muitas similaridades”.

Lívia considera que, para além das múltiplas realidades apresentadas pela região, falta um olhar do mercado de arte que contemple os nove territórios da Amazônia Internacional e os nove estados da Amazônia Brasileira.

“Muitos acabam por nos definir como meros produtores de artesanato e similares. Por isso o nosso foco principal é demonstrar a força do que produzimos e constituir elos e redes entre nós, para que nos fortaleçamos enquanto região, tendo em vista que são muitos os que legislam, falam por nós, mas desconhecem a nossa realidade sociocultural e econômica”.

LANÇAMENTO

Para dar vazão à ideia que originou o projeto, uma programação realizada no Museu da Universidade Federal do Pará (UFPA) marcará o lançamento, no próximo dia 29 de junho, da Instituição Bienal das Amazônias.

“[A programação] traz consigo o mote da Instituição Bienal das Amazônias, que é ser uma plataforma de debate sobre a região, a partir da produção contemporânea das Amazônias, amplificando as diversas vozes que nos compõem, desmistificando e desinstitucionalizando, por assim dizer, espaços em muito ‘engessados’ de arte”, considera.

“Por isso convidamos as Themônias, um movimento de rua, para organizar, fazer a curadoria de um evento de arte, num espaço altamente institucionalizado de arte, repensando seus usos e fruições por parte do público, possibilitando mobilidade e trocas de experiências dentro deste espaço de arte”.

O lançamento é o ponto de partida para a programação que seguirá a partir do dia 30 de junho até 13 de agosto, com debates, workshops, sessões de cinema, música e exposição. Totalmente gratuita e inclusiva, a programação também conta com ações voltadas ao público infantojuvenil.

Primeira edição será em agosto

A Sapukai é formada pela curadora Vânia Leal, mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura; pela curadora Sandra Benites, pertencente ao povo Guarani Nhandewa e a primeira indígena a ocupar curadoria adjunta do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (MASP); e pela curadora Keyna Eleison, herdeira Griot e xamânica.

Ainda no mês de agosto, a população paraense e amazônida poderá conferir a primeira edição da Bienal das Amazônias, a ser realizada no período de 4 de agosto a 5 de novembro. Com um recorte expositivo com mais de 115 artistas de várias linguagens, e de todos os territórios que compõem a Amazônia Legal e Internacional, a exposição tem como tema “Bubuia – Águas como fonte de imaginações e desejos”.

“A Bienal ocupará antigo prédio de loja de departamentos no comércio, com mais de 7 mil metros quadrados, para além de 20 obras públicas que estarão instaladas em diversos pontos da cidade de Belém”, explica Lívia Condurú.

“Estamos desejosos de receber um público que não é afeito ao universo das artes visuais, mas que possa viver experiências transformadoras junto a todos que produzem e participam da Bienal das Amazônias, fortalecendo as nossas identidades amazônidas e, sobretudo, resgatando o protagonismo da nossa região a partir de todos que a compõem”.

Destacando a valorização da atuação coletiva, a primeira edição da Bienal das Amazônias conta com o corpo curatorial Sapukai, palavra derivada da língua Tupi que é traduzida em português para canto, clamor, grito. A Sapukai é formada pela curadora Vânia Leal, mestre em Comunicação, Linguagem e Cultura; pela curadora Sandra Benites, pertencente ao povo Guarani Nhandewa e a primeira indígena a ocupar curadoria adjunta do Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand (Masp); e pela curadora Keyna Eleison, herdeira Griot e xamânica. A Instituição Bienal das Amazônias conta com patrocínio Master do Instituto Cultural Vale.

Para o diretor presidente do Instituto, Hugo Barreto, a Bienal das Amazônias é uma oportunidade de mostrar a potência criativa da região e democratizar o acesso à cultura. “Ao reunir uma produção artística contemporânea que valoriza diversas identidades, a Bienal se conecta a diferentes públicos e nos convida à reflexão sobre o poder transformador da arte”, diz.