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Morte de Paulo André Barata: velório no Theatro da Paz e luto de 3 dias; vídeo

O velório do músico acontece no Theatro da Paz. Foto: Celso Rodrigues/Diário do Pará
O velório do músico acontece no Theatro da Paz. Foto: Celso Rodrigues/Diário do Pará

Carol Menezes

Tal e qual diz a canção, num princípio de noite, um caminho vazio. Nesta segunda-feira, 25 de setembro, o Pará se esvaziou do talento e poesia de um dos mais celebrados compositores da terra. Paulo André Barata enfrentava um câncer e, após dez dias internado em um hospital particular na capital paraense, morreu por volta das 20h, e justamente na data em que completou 77 anos de vida.

O velório começou ainda na noite de ontem, no Theatro da Paz, e o sepultamento será às 11h desta terça, 26, no cemitério Santa Izabel, no bairro do Guamá. O governador Helder Barbalho (MDB) decretou luto oficial de três dias no estado, e o prefeito de Belém, Edmilson Rodrigues (PSOL), declarou luto de três dias no município.

Cantor e instrumentista, foi ao lado do pai, Ruy Barata (1920-1990), que Paulo André fez a música paraense se tornar nacional. Juntos, escreveram “Este rio é minha rua” (1976), “Indauê-Tupã” (1976), “Baiuca’s bar” (1978), “Porto Caribe” (1997), “Foi assim” (1977) e “Pauapixuna” (1977) – estas duas últimas garantiram projeção brasileira à voz de uma quase estreante Fafá de Belém no fim da década de 70.

Agora em setembro foi lançado o último projeto dele em vida: “A música de Paulo André & Ruy Barata por grandes intérpretes da música brasileira”, sob direção do irmão e filho, Tito Barata. Durante todo o dia de ontem, amigos fizeram postagens em redes sociais parabenizando Paulo André pelos 77 anos, sem imaginar que horas depois teriam que lidar com a notícia de sua partida.

Em conversa com a reportagem do DIÁRIO, Tito enalteceu a trajetória do irmão, a quem creditou como “músico e compositor paraense de quatro costados”.

“Era torcedor do Paysandu Sport Club e do Fluminense. Amou os animais e cantou a Amazônia. Dedicou sua vida à criação artística e ao bem comum”, declarou. Paulo André Barata será enterrado ao lado do túmulo do pai e da mãe.

“Acho que Paulo viveu a vida que ele quis, da forma como quis. Foi até o último minuto de emoção, pensando sempre na composição, em como fazer o melhor”, afirma. Tito revela que o irmão não tinha um método para compor. Ficava tocando o violão, tocava, tocava, estudava. “De vez em quando parece que vinha uma musa e lhe soprava uma melodia no ouvido. E essa melodia se transformava em canção com as letras do meu pai. Acho que os dois foram, sem tentar colocá-los acima de ninguém, gênios da Amazônia”, avalia.

Paulo André Barata deixou um legado grandioso na música. Foto: Octavio Cardoso / Diário do Pará.

Tito Barata credita a Paulo André e Ruy a descoberta da música popular brasileira feita no Pará. “Eles iniciaram o processo de modernização da música brasileira feita no Pará. Eu amava meu irmão, produzi vários shows dele, alguns discos, era realmente um apaixonado pela obra que construiu”, atesta.

Fafá estava embarcando de Nova Iorque para São Paulo, onde mora, quando soube do falecimento do amigo e parceiro. Bastante emocionada, lamentou não conseguir chegar a tempo de vê-lo pela última vez. “Tô sem chão, profundamente abalada. Não vou conseguir chegar para o enterro. Queria olhar pela última vez o meu amigo…”, comentou, aos prantos, em conversa com a reportagem.

“Meu parceiro, meu compositor querido, o maior que essa terra já teve. Os dois maiores, ele e Ruy. Nunca ninguém cantou, e acredito que não cantará, com tanta maestria essa obra impecável deles. Criaram uma potência fabulosa para falar da nossa terra. Trilhamos caminhos muito difíceis e complicados, mas sempre de mãos dadas, isso facilitava muito. Então essa notícia me pega muito”, relata a cantora.

“Temos vários hinos feitos, eu tive a honra de trabalhar, viver e conviver com pai e filho por muitos anos. Conviverei com a música deles o resto da minha vida. Tudo muito difícil. Há um mês, nós perdemos o [produtor musical] Léo Platô, e hoje no aniversário de Paulo André ele se vai. Que reconheçamos o talento de cada um que vive da música e da arte, que luta desde muito antes de existir rede social para levar o Pará, a força do seu povo, aos olhos, ouvidos e coração do mundo. Viva Paulo André Barata!”, enalteceu Fafá de Belém.

A Secretaria de Estado de Cultura (Secult) emitiu nota de pesar pelo falecimento do músico: “ícone da cultura paraense, Paulo André teve como grande parceiro musical seu pai, o poeta Ruy Barata. Juntos, compuseram grandes sucessos que retratam o Pará e a Amazônia, entre os quais “Foi Assim” e “Pauapixuna”, que alcançaram reconhecimento internacional. A morte de Paulo André Barata é uma grande perda para a música brasileira e a cultura do Pará. A Secult se solidariza com amigos e familiares”.

Em uma rede social, o governador do estado escreveu: “lamento profundamente a partida do cantor, compositor e instrumentista paraense Paulo André Barata, que dedicou seu talento para cantar a Amazônia em verso e prosa, juntamente com seu saudoso pai, o poeta Ruy Barata. Paulo deixa um extraordinário legado para a cultura do nosso estado e para a música brasileira. Que Deus conforte os familiares e amigos neste momento de dor”.

O prefeito de Belém reporduziu um texto de despedida feito por Tito Barata e complementou: “e sendo Paulo André um irmão também para mim, faço coro ao Tito para me despedir deste gênio da cultura de Belém”.

O senador da República Jader Barbalho (MDB) também postou sua homenagem: “recebi com tristeza a notícia do falecimento do músico e compositor Paulo André Barata. Acompanhei a sua trajetória musical e ele participou ativamente do grupo de apoio e compôs uma canção com seu pai, o poeta Ruy Barata, na minha primeira campanha ao Governo do Pará, em 1982”.

A cantora paraense Leila Pinheiro, que interpreta “Mesa de Bar” no “A música de Paulo André & Ruy Barata por grandes intérpretes da música brasileira”, fez um post no Instagram: “partiu hoje, há pouco, meu amado amigo grandioso compositor paraense, que me conhece desde criança, vizinhos que éramos em Belém – Paulo André Barata!!! Deixa para nós pérolas eternas, músicas lindas que seguirão para sempre no coração dos paraenses, e de quem ouviu, especialmente na voz de minha amada Fafá de Belém intérprete maior de suas canções (…) Descansa em paz, meu irmão!”.

Também presente à coletânea interpretando “Enchente amazônica”, a cantora Lucinha Bastos também homenageou o artista: “Paulo, obrigada pela tua musicalidade, pelo teu talento, pela amizade, carinho e pela pessoa maravilhosa que você sempre foi. Ficam as tuas canções, um grande legado para quem ama a boa música (…) Que não fique o vazio, que a gente cultive a memória e te honre divulgando tua obra e mostrando o orgulho de sermos de um país que se chama Pará”.