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Morre Mestre Piticaia, do Boi Ponta de Ouro, de Cachoeira do Arari

Mestre Piticaia tinha 83 anos e era um dos nomes de destaque da cultura popular marajoara FOTO: ARMANDO TEIXEIRA/INSTAGRAM
Mestre Piticaia tinha 83 anos e era um dos nomes de destaque da cultura popular marajoara FOTO: ARMANDO TEIXEIRA/INSTAGRAM

Morreu nesta quarta-feira, 22, aos 83 anos, o Mestre Piticaia, nome pelo qual era conhecido Benedito Gama de Miranda. Nascido na localidade de Caracará, no município de Cachoeira do Arari, Mestre Piticaia foi um dos nomes que muito contribuiu com a brincadeira de Boi-Bumbá do Marajó, desde sua primeira experiência, representando um índio, no boi de Raimundo Bernardo. Desde então, nunca mais saiu da brincadeira, como destacou o perfil do Coletivo Pulsar Marajoara, organizador do Festival Marajoara de Cultura Amazônica, do qual o mestre era participante ativo, em uma nota de homenagem. A seguir, trecho do texto publicado pelo coletivo:

“Mestre Piticaia produziu e confeccionou seu primeiro Boi-Bumbá na década de 70, chamado Boi Ponta de Ouro, que após dois anos, mudou de nome para Aliança de Ouro, até chegar no Boi do Piticaia. Cantava sobre o seu cotidiano, as histórias e belezas de seu território.

Também ficou famoso pelo instrumento que virou sua marca registrada, as caixas quadradas. Mestre Piticaia influenciou gerações, recebendo homenagens e sendo reconhecido por seu legado, como nos famosos versos da música ‘Cachoeira Prateada’, do Arraial do Pavulagem:

‘Piticaia me chama o Nanã Madureira                                                                               onde o Jazo campeia
Tem jardim encantando pra ver
Entre flores e águas barrentas’

Foi pai de 6 filhos, e a partir de hoje seguirá como exemplo a ser seguido no Marajó. Que tenha muito boi-bumbá nos céus. Vá em paz, Mestre Piticaia! Obrigado por tudo!

O Festival Marajoara de Cultura Amazônica sempre teve os mestres/as como os pilares de nossa festa: Piticaia, Zampa, Vavá, Dikinho, Amélia e Damasceno. Deles já perdermos os três primeiros, num intervalo de menos de 3 meses. É urgente, urgentíssimo, garantir políticas públicas que resguardem a vida e, depois desta, a memória de nossos Mestres. Fica aqui o nosso apelo ao Estado do Pará e aos municípios que acolhem esses grandes mestres!”, termina o texto.

Piticaia continuava marcando presença em folguedos como o Cordão do Galo, organizado pelo Instituto Arraial do Pavulagem FOTO: KLEYTON SILVA/ACERVO GUTO NUNES E COLETIVO PULSAR MARAJOARA

Artistas como Allan Carvalho e Arraial do Pavulagem também lamentaram a perda. “A cultura popular da Amazônia perde um dos seus grandes mestres. Mestre Piticaia, de Cachoeira do Arari, que tanto esteve presente com a gente, compartilhando conhecimento, sendo inspiração para o Pavulagem e para o povo marajoara. Obrigado, Mestre Piticaia! Você, o Boi Ponta de Ouro e seu legado serão eternos”, postou o perfil do grupo Arraial do Pavulagem no Instagram.

“Mestre Piticiaia fez a grande partida hoje. Com ele, os raros saberes da brincadeira de Boi Bumbá feito aqui na Amazônia, especialmente com o seu Ponta de Ouro, que talvez seja um dos últimos folguedos dali a bailar ao som das caixas quadradas. Agradeço a @ronaldosilva.pavulagem por me conectar aos iluminados da Floresta”, escreveu Allan Carvalho, lembrando o disco “Cordão do Galo” (2022), feito também em homenagem ao mestre, e disponível nas plataformas de música.

 

Fotos: Kleyton Silva / acervo Guto Nunes e Coletivo Pulsar Marajoara