O REI DA FESTA

Milton Cunha apresenta “Toada do Milton” direto do Festival de Parintins 2025

Para Milton, a floresta está “no quintal de casa” e voltar e ver os caboclos, os ribeirinhos, os indígenas, “é se encontrar com o seu povo”.

Milton Cunha apresenta “Toada do Milton” direto do Festival de Parintins 2025 Milton Cunha apresenta “Toada do Milton” direto do Festival de Parintins 2025 Milton Cunha apresenta “Toada do Milton” direto do Festival de Parintins 2025 Milton Cunha apresenta “Toada do Milton” direto do Festival de Parintins 2025
Para Milton, a floresta está “no quintal de casa” e voltar e ver os caboclos, os ribeirinhos, os indígenas, “é se encontrar com o seu povo”.
Para Milton, a floresta está “no quintal de casa” e voltar e ver os caboclos, os ribeirinhos, os indígenas, “é se encontrar com o seu povo”.

“Já vivencio a cultura de Parintins há muito tempo. A primeira vez que eu vim aqui foi em 1972, muito criança, tinha 10 anos. Depois voltei em 1993 com a Beija-Flor de Nilópolis, fui o primeiro a levar os artistas de Parintins para brilharem na Marquês de Sapucaí, fiz história. Além disso, transmiti o Festival pela Band durante cinco anos. Venho muito como visitante, admirador, não sou torcedor de nenhum boi, justamente porque acho que isso reduz muito as possibilidades do pesquisador, do olho, do fã, e voltar a reencontrar a cultura da floresta da minha infância é incrível”, disse Milton Cunha, que é doutor e pós-doutor em cultura brasileira, professor da UFRJ e estudioso das festas populares do Brasil.

Para Milton, a floresta está “no quintal de casa” e voltar e ver os caboclos, os ribeirinhos, os indígenas, “é se encontrar com o seu povo”. “É a minha gente, é meu povo. Só que em Parintins aconteceu um milagre cultural, uma revolução artística. Numa ilha, eles desenvolveram um espetáculo desse tamanho, dessa magnitude, é uma loucura. É realmente estarrecedor, a potência estarrecedora da artística criativa, de narrativa, de lendas e mistérios, é um show. Me encontro com a grandeza do meu povo, da floresta”.

Festival de Parintins: Tradição e Cultura Amazônica

O festival, que é um dos eventos mais tradicionais do Norte do país, acontece neste final de semana, quando as torcidas dos bois Caprichoso e Garantido se reúnem no Bumbódromo, uma arena que carrega toda a energia e diversidade da cultura amazônica.

“O programa ‘Toada do Milton’ é uma criação da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), por meio da Pró-reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, o apoio é do Governo do Estado. É um ano de projeto que vou desenvolver na universidade em parceria com o Museu Nacional, de onde sou pesquisador, estou escrevendo o meu terceiro pós-doutorado, que são essas entrevistas, essa experiência do programa”, contou o carnavalesco, explicando em seguida que a atração é uma revista eletrônica, divertida, rápida, cultural, engraçada, com bom-humor e informação.

Detalhes do Programa “Toada do Milton”

“Com entrevistas seríssimas e intensas. Por exemplo, sobre patrocínio cultural, como que o dinheiro vê no festival de cultura um plus para agregar sua marca. Então, tem assuntos mais densos e tem também muita alegria. É um estúdio de vidro numa praça, a multidão lá embaixo gritando de 14h30 às 18h30, são quatro horas de programa com quadros ao vivo e gravados, quadros de culinária, moda, comportamento, história dos bois, artistas que visitam o festival. É um programa ágil, quatro edições e dá muito trabalho fazer, estamos há seis meses organizando”, detalha ele.

Bumbódromo é arena da felicidade

Quando Milton recebeu o convite para apresentar o programa, através de uma ligação do pró-reitor de Extensão da UEA, achou inacreditável uma universidade que tem um polo enorme em Parintins pensar nisso e se propor a isso.

“No primeiro andar teremos as ações institucionais, e no segundo é o tal do Estúdio de Vidro. É um projeto tão inovador, saído da criação acadêmica, é realmente sensacional. Aceitei na hora, e disse: ‘meu Deus, estou dentro, é maravilhoso. Sempre fui da festa, do enfeite, do figurino e também da universidade. Quando a universidade junta isso para mim, para eu realizar, olha, foi um presentaço! Simbolicamente mostra que eu estava certo, tem que estudar, se preparar, ter os títulos e tem que ter também uma capacidade de sonho, uma capacidade artística de interpretar a alegria, de ser colorido. Então, com 63 anos, ganhar esse presente é a glória, um dos sonhos da vida”, declarou ele.

O artista acumula uma longa trajetória como carnavalesco e outras atividades no meio acadêmico e artístico, sendo uma figura sempre presente em grandes espetáculos. E sua trajetória reforça empoderamento, resistência e inspira as novas gerações.

“São 63 anos de luta, mas uma luta prazerosa de ser eu, de só fazer o que quero e como quero, não negocio, não finjo, não aceito. Então, chegar aqui com esses cabelos brancos e dizer ‘parabéns, quanta coragem, quanta loucura sã’, porque hoje que colho os louros e tenho uma vida boa, hoje é fácil, quero ser aquele jovem de 19 anos que rumou para a rodoviária, do lado do Mercado de São Brás, é aquele que me interessa, é aquele que eu supunha que daria certo. Pegar no ombro dele mesmo e dizer ‘criatura, jura? Criatura, tu está fazendo o certo’”, refletiu ele, que completou ainda, ficar pensando nos 60+ das pessoas que não empreenderam, não se arriscaram.

“É muito difícil você deixar a tua vida passar e não ir ao encontro de quem você é. Estou ‘interaço’ aos 63 anos, sou quem quis ser. Para mim está fácil, está confortável, podem vir os 80 anos, desde que eu seja quem eu quero ser, podem vir 90 e está tudo ‘ok’, porque não atender a demanda dos outros te dá uma energia individual para você aproveitar muito a vida. e aproveito muita a vida”, garante.

Milton, na entrevista à distância, conta que já foi para a festa dos bois e se divertiu, dançou, bebeu e brincou com o seu grupo de amigos, junto com o marido, que acompanhou tudo. “Estar em um mundo coerente e íntegro não tem preço, é um tesouro. Quanto a inspirar os jovens, que inspire tanto ao estudo, quanto à verdade de sua vida, quanto à diversão e ao direito à brincadeira. A heteronormatividade é muito séria, cinza, azul-marinho, tensa. E a minha vida é assim, pesquise sorrindo, pesquise dançando, respeite a cultura popular, não se ache melhor, não tenha um olhar colonizado”.

Para o carnavalesco, o mais importante de tudo é a humanidade, que precisa estar acima de qualquer coisa. “Quando vejo hoje os ganhos de negritude, pessoas trans, é isso, a gente avançou. E nós vamos continuar dizendo que mais importante do que o poder é a humanidade. A humanidade tem que estar acima dessas legislações, dessas igrejas, dessas doutrinas, desses partidos que querem comandar o desejo”, finalizou Milton.

DE OLHO NO FESTIVAL

O Festival de Parintins mobiliza anualmente mais de 120 mil pessoas, aproximadamente o dobro da população local. E o público do Brasil e do mundo inteiro poderá acompanhar a festa pela A Crítica, emissora local do Amazonas, pela internet (www.play.acritica.com/aovivo), ou no canal de YouTube da emissora. A transmissão começa sempre às 21h (horário de Brasília). Nesta sexta-feira, a programação começa com o Boi Garantido e depois o Boi Caprichoso, e a ordem inverte no sábado e domingo.

E no ano que o Festival de Parintins chega a sua 58ª edição, os bois Caprichoso e Garantido se juntam ao movimento Amazônia de Pé para coletarem assinaturas para o Projeto de Lei de Iniciativa Popular (PLIP) Amazônia de Pé, que prevê a destinação de Florestas Públicas Não Destinadas (FPNDs) no bioma.

E assim a disputa entre os bois começou antes de pisarem na arena do Bumbódromo: eles correm atrás de assinaturas para manter a Amazônia em pé. O boi campeão conquista um prêmio de R$40 mil, e o torcedor de cada galera que arrecadar mais assinaturas também sai premiado com dois acessos VIP para o Festival de Parintins 2026 + R$6 mil para apoiar a viagem.