Entretenimento

Metallica arrisca pouco e faz mais do mesmo em '72 Seasons'

A banda de rock americana Metallica vai doar 100 mil dólares (cerca de R$ 515 mil) para as vítimas dos temporais que atingem o Rio Grande do Sul. Foto: Divulgação
A banda de rock americana Metallica vai doar 100 mil dólares (cerca de R$ 515 mil) para as vítimas dos temporais que atingem o Rio Grande do Sul. Foto: Divulgação

Felipe Maia/FOLHAPRESS

Toda banda com décadas de carreira corre o risco de tornar-se caricatura de si mesma. Artistas solo, que dão satisfação apenas a seu público e executivos de gravadora, mudam de caminho ao sabor das paixões.

Bandas, ao contrário, são engrenagens coletivas em que as vontades de um nem sempre são as querências de outro. Em seu 11º álbum de estúdio, “72 Seasons”, o Metallica corre o risco em vez de se arriscar. O grupo só escapa da própria armadilha porque, ainda que faça mais do mesmo, é um mais do mesmo bem feito.

Single do disco, “Sleepwalk My Life Away” exemplifica o caso. A faixa soa como uma reedição de “Enter Sandman”, que alçou a banda do nicho do metal ao rol de superestrelas da música.

Não só sua letra gira novamente em torno de um hipnagógico mundo das trevas, como seu riff, a digital da canção, faz eco àquela que se tornou um dos maiores clássicos do rock mundial: a sequência usa do mesmo jogo de instabilidade, concisão e palhetadas para baixo que James Hetfield e Kirk Hammett apresentaram ao mundo no fim dos anos 1980.

Pode-se argumentar que tamanha semelhança seja proposital: o Metallica estaria fazendo um disco autorreferente dentro do seu próprio universo. O título do álbum, como explicou Hetfield em entrevista recente, é uma alusão aos primeiros 18 anos da vida de alguém, as 72 estações.

Faria sentido então essa volta a si próprio. O resultado, porém, faz parecer que sobrou agressividade e faltou audácia, ambos presentes em quantidades consideráveis no auge dos 18 anos de vida.

Há, sim, alguns momentos de ousadia, como é o caso de “If Darkness Had a Son”. Na faixa, o baixista Robert Trujillo tem um fraseado que lembra os tempos de Suicidal Tendencies. Lars Ulrich, na bateria, busca variações que fogem às viradas típicas entre seções. Os guitarristas abusam das cavalgadas nas cordas, deixando a faixa menos quadrada até mesmo no solo – uma boa conversa entre a linha mais panca de Hetfield e mais refinada de Hammet.

“Lux AEterna” é um prato cheio para fãs do thrash metal, o equivalente da música aos fãs de automobilismo do mundo real – fãs de grindcore seriam fãs de rachas de rua.

Se o negócio é idolatria da velocidade, do maior número de notas por segundo, de intensidade de cabo a rabo, então o Metallica segue no topo. É algo que merece destaque: todos da banda já estão na casa dos 60 e não parecem arredar o pé dos desafios impostos pelos andamentos rápidos e quebrados que também são marca do grupo.

Faixas como “Too Far Gone” ou “You Must Burn!”, por outro lado, exalam toda a ambiguidade involuntária do disco. As seções de solo e ponte mostram músicos ainda em busca de novos caminhos, mas refrão e estrofes giram em espiral.

Ao fim de 12 faixas resulta uma estafa sonora. É como se num banquete o único prato servido fosse massa com diferentes molhos. Pratos longos, aliás, com todas as músicas passando dos sete minutos. Às vezes, menos é mais.

Quem acompanha o Metallica de longa data, vai seguir vestindo a camisa preta puída com o logo da banda depois de ouvir “72 Seasons”. A figura do metaleiro está mais próxima dos fãs de popstars como Taylor Swift do que pode indicar a primeira olhada: ambas categorias teimam a largar seus ídolos.

Estes, porém, são movidos por um senso de novidade, enquanto aqueles são arraigados a ideias que se confundem com uma certa tradição do metal. O novo álbum do Metallica funciona nesse espectro. Se adiciona mais umas quantas músicas nos repertórios de show – que sempre estarão lotados -, é também fato que pouco expande a obra da banda.