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Metal pesado com sabor paraense no dia do rock brabo

Cena local do rock pesado traz diversidade de subgêneros e gera interesse mesmo no underground
Cena local do rock pesado traz diversidade de subgêneros e gera interesse mesmo no underground

Aline Rodrigues

Hoje, dia 8 de junho, em algumas capitais do Brasil é celebrado o Dia do Metal, em homenagem a André Matos, fundador e vocalista das bandas como Angra e Shaman. Apesar de Belém não ter a celebração da data, por aqui o estilo tem uma legião de fãs e bandas adeptas do gênero musical.

“Belém é bem atípica nessa questão do metal. As bandas daqui são ligadas ao que chamam de ‘metal old school’, aquele que surgiu ali pelos anos 1980, com o lançamento do primeiro disco do Slayer”, falou o radialista e produtor musical Beto Fares, entregando que essa é uma caraterística que as outras cenas brasileiras querem conhecer.

“Gerando interesse, gera novos grupos e aquece o mercado. Dizem que houve um tempo que Belém tinha mais de 200 bandas e mais da metade era do segmento do metal”, disse ele.

O heavy metal é um gênero musical que mescla elementos do blues e do rock. O estilo é caracterizado por guitarras distorcidas e batidas rápidas, guiadas por vocais que variam entre tons graves e agudos. A expressão heavy metal significa, literalmente, “metal pesado”. Não se sabe exatamente quem criou o termo. Mas há fontes que citam os críticos musicais Lester Bangs e Mike Saunders.

“Ali pela segunda metade dos anos 1980, finalmente o metal chegou no topo, e tudo que chega no topo, termina cansando. Foi o que aconteceu com forte reflexo nos anos 1990. Nessa época, o rock brasileiro finalmente tirava a roupa dos anos 1980, com surgimento do Chico Science, Raimundos, Pato Fu. Iss ajudou a empurrar o metal para o lugar de origem, o underground, onde respira e vive feliz com seus pares”, falou Beto.

Por aqui, bandas como Stress, Jolly Joker, DNA, Morpheus, Black Mass e outras ganhavam notoriedade. “A primeira, o Stress, pelo pioneirismo. Jolly Joker foi uma bem singular, DNA, Morpheus e Black Mass foram as que agregaram mais público. Retaliatory tem uma história com o underground muito interessante. Hoje tem a Rhegia, que faz um metal com flertes com sinfônico bem legal”, disse Beto.

PIONEIROS?

A banda Stress, inclusive, teria sido pioneira e gravado o primeiro álbum de heavy metal brasileiro. Segundo consta, a banda teria encarado quase quatro dias de viagem de ônibus até o Rio de Janeiro para registrar seu primeiro álbum em 1982. Mas segundo Beto Fares, há controvérsias sobre o fato.

“Nos anos 1970, não existiam nomenclaturas para segmentos específicos. Quando era mais denso, chamávamos de rock pesado. Aí tem o Made in Brazil, o próprio Patrulha do Espaço, do Arnaldo Baptista, que antecedem o Stress, que só grava em 1981. Aí vem a controvérsia: com o nome heavy metal o Stress é o primeiro, mas os antecessores já traziam características de metal. Isso não se dá só no Brasil, quase todos rezam Black Sabbath como o pioneiro, mas o Eric Clapton reivindica esse título para o Cream. Essas discussões são bem-vindas, mantêm holofotes no gênero”, explicou Beto, destacando ainda que muitos especialistas apontam o pioneirismo da banda paraense Stress e o metal produzido em Belém como forte e original.

“É certo dizer que aqui, os técnicos de gravação não sabiam como captar o som, mas o Stress, mesmo com a produção não boa, é considerado por muitos especialistas como o primeiro. E o gênero é um dos segmentos com maior público por aqui, mesmo com ascensão de outros”, destacou Beto.

Apesar do gênero ser forte por aqui, segundo André Bocão, produtor e empreendedor, a cena em Belém vem sobrevivendo sem apoio e sem se vitimizar.

“A filosofia punk era a do ‘se você não gosta do que existe, faça você mesmo’ – ou, simplificando, ‘do it yourself’. Tivemos bastante shows [nacionais e internacionais] com muita frequência antes da pandemia e após as coisas foram se adaptando, os shows estão indo e voltando, não só Belém como no mercado mundial. O que atrapalha são os trechos dos voos, o que na verdade ‘quebra as pernas’, às vezes não é viável arriscar, uma hora os eixos se encaixam e voltam com força”, falou ele.

Para o produtor, apesar das dificuldades, a cena local do metal se mantém viva e se revigorando ao logo dos anos.

“Com certeza nossa cena vem se mantendo e se revigorando por todos esses anos, bastante produtoras, bandas e o principal, o público que comparece em peso e no final ‘dá rock’ (risos)”, disse André, que lançou o selo chamado Distro Rock.

“Lançamos inúmeras bandas pelo Brasil, bandas paraense como Dominus Praelii (PR), Maleficarum (CE), Anubis(PA), Andralls (SP), Zênite (PA), Coldblood (RJ), Disgrace And Terror (PA), Horror Chamber (RS), Inferno Nuclear (PA), Funeratus (SP), Delinquentes (PA), Parágonia I e II, coletâneas com bandas paraenses, etc…e internacionais: Nasty Savage (EUA), CutUp (Ing), Sacred Reich (EUA), D.R.I (EUA), Haill of Bullets(Holanda), Hate Plow (EUA) e outras”, enumerou Bocão.

O selo lançou recentemente o último álbum do Disgrace And Terror, formada pelo trio paraense Rot (vocal e baixo), Vinicius Carvalho (guitarra) e Aldyr Rod (bateria), que acabou de retornar de uma turnê pela Europa. “O mercado não é igual, a gente chega lá não sei como”, acrescentou ele.

Já o músico Felipe Cohen, guitarrista do Nocturnal Bleed e coproprietario da Scorn, produtora de eventos underground, o cenário do underground regional é diversificado, e a cada geração aparecem talentos e inovações, representantes dos mais diversos subgêneros do heavy metal e do punk.

“Grandes artistas que não deixam a desejar em nada em relação à estrutura de palco, materiais gravados, merchandising e com músicos muito talentosos, que vêm surpreendendo com lançamentos de materiais de excelente qualidade e criatividade”, disse ele, que assume a guitarra da Nocturnal Bleed, uma banda nortista, em atividade desde 2020 e que lançou seu primeiro CD no último dia 14 de abril, intitulado “Lake of Fire” e disponível nas principais plataformas de streaming.

Para o guitarrista, o undergroud vem se fortalecendo através dos anos, trazendo grandes artistas do exterior em grandes eventos e de fator exponencial, destacando a região Norte aos olhos dos produtores do Brasil, naquele eixo do “faça você mesmo”.

“Ao meu ver, falta ainda interesse público a fim de patrocinar eventos culturais que possam favorecer o rock de forma geral, tendo em vista que ainda nos dias de hoje, ainda é segregado em festivais de cultura”, acrescentou ele.