WALTER PORTO
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O filólogo Ricardo Cavaliere, de 69 anos, foi eleito na tarde desta quinta-feira para uma vaga na Academia Brasileira de Letras, derrotando o quadrinista Mauricio de Sousa.
Cavaliere era favorito absoluto à cadeira antes de o pai da “Turma da Mônica” apresentar seu nome na disputa, em março, em substituição à professora Cleonice Berardinelli, morta em janeiro.
Doutor em língua portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor aposentado da Universidade Federal Fluminense, Cavaliere é um dos maiores especialistas em letras e linguística do país. Ele trabalhou em seus estudos após o doutorado ao lado de Evanildo Bechara, imortal da ABL de 95 anos e referência absoluta nos estudos de gramática no país.
A vaga em disputa era de Berardinelli, que morreu em janeiro aos 106 anos como a integrante mais longeva da Academia, da qual fora a sétima mulher eleita. Especialista em literatura portuguesa, ela foi uma das pioneiras no estudo de Fernando Pessoa.
Por isso, Cavaliere era visto como um bom substituto para a cadeira número oito, já que a Academia tem tradição de substituir seus membros por outros com especialidade semelhante -no caso, ambos são pesquisadores da língua portuguesa.
Concorriam, além de Mauricio e Cavaliere, os escritores Elois Angelos D’Arachosia, James Akel e Joaquim Branco e o advogado José Alberto Couto Maciel. Nenhum deles tinha chance real de ser eleito.
Desde que Mauricio confirmou sua candidatura, em março, a corrida para a vaga esquentou. Se o cartunista rapidamente conquistou um séquito de adeptos dentro da Academia, caso da atriz Fernanda Montenegro e do escritor Paulo Coelho, e na opinião pública, também foi alvo de ataques.
Akel, que postulava à mesma vaga, foi o crítico mais vocal ao desenhista, criando polêmica ao dizer que gibi não era literatura de verdade e que Mauricio de Sousa não tinha o que acrescentar à ABL. Ele afirmava ser mais preparado para a vaga e ter um plano de ação que gostaria de implementar na Casa de Machado.
As falas de Akel geraram reações tanto nas redes sociais quanto em artigos como o do editor André Conti, que lembrou outras declarações recentes do escritor e jornalista, como a defesa da tortura de guerrilheiros opositores da ditadura e a crítica à TV Globo por, supostamente, “mostrar uma imagem ruim do regime militar”.
Mauricio de Sousa respondeu os ataques dirigidos a ele afirmando que quadrinhos “são revolucionários porque ficam entre a literatura e as artes gráficas” e lembrando o americano Will Eisner, que o ensinou “que a linguagem dos quadrinhos é uma revolução de ideias”.
Pela segunda vez na história, os acadêmicos votaram em urnas eletrônicas, emprestadas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, para eleger o novo imortal. A primeira foi na semana passada, quando Heloisa Buarque de Hollanda foi escolhida para a vaga que era de Nélida Piñon.