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Maternidade atípica: emoções das mães de filhos autistas no álbum de família

Janilda
Janilda

A maternidade é repleta de significados. Ser acolhida e abraçada é fundamental também para a mãe, especialmente, quando a realidade dela destoa da maioria. A maternidade atípica requer da mulher um cuidado dobrado com o filho e seu desenvolvimento porque é ali que moram suas preocupações. Ao enxergar a mãe atípica e buscar o entendimento sobre o assunto, o fotógrafo Jean Luiz reuniu, no mês passado, um grupo de mães em Ourém, no nordeste paraense, para registrar esses momentos entre mãe e filho. A ação ocorreu em alusão ao “Abril Azul”, dedicado ao mês de conscientização sobre o Autismo.

O resultado pode ser intangível para muitas dessas famílias, porque nunca tinham experimentado materializar em fotografias essas vivências que são únicas. É o que diz Danielle Correia, de 37 anos. A funcionária pública é mãe de Heloísa, 8, e Miguel, 5, e nunca tinham imaginado tamanha felicidade ao ver as imagens dela com o filho. “Foi um momento muito bonito fazer as fotos com ele. Foi feito com muita paciência porque tinha de ser do jeitinho dele, porque tem hora que ele quer abraçar e outras horas, não. Eu fiquei muito feliz com o resultado. Eu senti o amor dele ali. Teve uma hora que me emocionei porque me senti muito abraçada por esse gesto do fotógrafo”.

Com dois filhos, ela diz que cada momento é único com eles, mas com Miguel, ela percebe que cada palavra, gesto e olhar do menino tem um valor especial. “A minha realidade é diferente, porque tem tempo que ele está bem, outro que está em crise. A gente aprende de novo com tudo e começa a dar importância para os detalhes da criação e do desenvolvimento da criança. Recebi o diagnóstico do espectro autista quando ele tinha dois anos, foi muito choro. É como se eu vivesse um luto. Depois, a gente olha para o filho e sente um amor que a gente não sabe explicar, ele é uma criança pura. Ser mãe significa muita coisa, é uma explosão de sentimentos. Às vezes a gente tem um pouco de receio do futuro que ele enfrentará e do preconceito, mas no fundo acredita que tudo dará certo”, diz Danielle Correia.

EMOÇÃO

Para o fotógrafo Jean Luiz, captar emoção além do que a imagem pode transmitir, é essencial. Natural de Belém, o fotógrafo tem 33 anos e fotografa profissionalmente desde 2022. “Foi incrível poder conhecer de forma mais intimista a história de cada mãe para com seus filhos. As dificuldades diárias que elas têm. Ver que cada criança tem um grau de autismo, umas mais abertas ao diálogo, outras mais fechadas, mas todas muito carinhosas, cheias de afeto”, detalha.

Jean Luiz conta que conversou com as mães para conhecer um pouquinho de cada uma e de suas histórias. “Pude saber um pouco da rotina diárias das mães com eles, interagi antes das fotos, e assim consegui uma abertura maior, uma certa confiança deles e delas para que eu pudesse fotografar. Tive vários feedbacks emocionantes e positivos de mães e filhos. Foi perfeito e incrível! As mães chegavam muito entusiasmadas. Me diziam que adoraram a ideia, afinal a maior parte nunca tinha feito esse tipo de fotografia com os filhos. Então foi algo único para elas assim como foi comigo”, considera.

A dona de casa Francy Lopes, 24, conta que foi seu primeiro ensaio fotográfico com o filho Luís Isaac, de apenas 2 anos e 6 meses. “Me senti bem feliz de estar ali pela primeira vez. As fotos ficaram maravilhosas. Meu filho não gosta de foto, então me surpreendi bastante com o resultado. Ele é a primeira criança nas duas famílias, então tem aquela ansiedade geral na época da gravidez. Quando a gente descobriu o diagnóstico, nos deixou um pouco apreensivos, mas hoje eu já estou acostumada a viver no mundo dele”, diz.

Me senti bem feliz de estar ali pela primeira vez. As fotos ficaram maravilhosas. Meu filho não gosta de foto, então me surpreendi bastante com o resultado(…)Hoje já estou acostumada a viver no mundo dele.”
Francy Lopes, dona de casa, mãe do Luís Isaac.

Francy conta que busca se municiar de informações para ajudar no tratamento do filho. “Também busco fazer amizades com outras mães atípicas, isso tem me dado um certo alivio em relação ao desenvolvimento dele. Vejo que ele melhorou bastante no convívio social, ele não falava e não comia sozinho. Mas agora já tenta fazer esse movimento de comer só, melhorou bastante. Para mim, ser mãe atípica é o mesmo significado de ser uma mãe comum. Penso que a gente acaba sendo mais amorosa e quer protegê-lo mais e mais”, afirma.

Com três filhos, a autônoma Dayane Reis, 40 anos, conta que precisou interromper a rotina com o trabalho para dar mais atenção ao filho Benício, que está prestes a fazer três anos. Além dele, ela tem outras duas filhas, uma de 15 anos, e outra de 10 meses. “A experiência com a fotografia foi maravilhosa. Me senti muito bem, gostei muito e achei muito legal a atitude do espaço, onde ele é atendido, e a parceria com o fotógrafo. Ele foi muito atencioso, fez algumas perguntas, foi paciente e é sempre maravilhoso participar, ter essas experiências com Benício. Eu, sendo mãe de três, amo meus filhos igual. No caso de ser mãe de alguém especial como é o Benício, é amar em dobro, dar todo o cuidado porque a sensação é de querer proteger de tudo e de todos, além da ansiedade que dá para ele aprender logo a se defender, a se expressar, porque para mim tudo é novo, mas a gente ama sem medida”, relata.

ACOLHIDA

A cabeleireira Janilda Damasceno tem 46 anos e também fez parte da ação. “Essa experiência da fotografia com meu filho foi única. A gente se sentiu acolhida, amada e abraçada pela equipe do CAEE [Centro de Atendimento Educacional Especializado Edson Vinícius Ferreira Silva], no mês azul. Esse gesto de amor e carinho com as mães é essencial porque, geralmente, nós, mães atípicas, quase não olhamos para nós mesmas, não temos tempo para o autocuidado porque a atenção toda é dobrada para o filho, a preocupação, o amor, a questão da proteção. Muitas vezes a gente acaba esquecendo de nós mesmas, então foi algo maravilhoso, incrível. Digo que a gente foi agraciada por Deus na maternidade atípica porque elas são umas crianças especiais, que têm amor, são sinceras, enfim. A gente procura fazer o máximo pra proteger essas crianças, dar o que realmente elas precisam dos acompanhamentos. Não é fácil, porém é gratificante, e eu sou muito grata por ter o meu filho, porque o amor por ele é incondicional”, destaca.