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Caio Braz mostra o Círio de Nazaré na série "Dia de Festa"

O jornalista e apresentador de TV Caio Braz passou o mês de outubro em Belém, para gravar o segundo episódio da websérie “Dia de Festa”. FOTO: VICTOR TAKAYAMA/DIVULGAÇÃO
O jornalista e apresentador de TV Caio Braz passou o mês de outubro em Belém, para gravar o segundo episódio da websérie “Dia de Festa”. FOTO: VICTOR TAKAYAMA/DIVULGAÇÃO

Wal Sarges

A maior manifestação de fé do povo paraense, o Círio de Nazaré, é a próxima atração do “Dia de Festa”, série apresentada pelo creator, jornalista e apresentador de TV Caio Braz em seu canal do Youtube e no Instagram. A primeira exibição da série contou a história da Missa do Vaqueiro, que ocorre na cidade de Serrita, no interior de Pernambuco, evento que mistura o sagrado, o profano e o esportivo.

“Dia de Festa”, conta seu idealizador, surgiu de sua pesquisa pessoal para se aprofundar no Brasil, que remonta de forma detalhada as riquezas dos “Brasis” em um único país. Formada por três pessoas, além do creator, a equipe que viaja atrás dessas histórias é composta por Davi Carneiro e Victor Takayama.

Caio Braz, junto com sua equipe, veio até a capital paraense no ano passado e decidiu viver o Círio de Nazaré junto com quem faz ele acontecer. Além de ser a primeira vez que ele reportou o evento, foi o Círio de retorno após dois anos sem ocorrer de forma presencial devido a pandemia da covid-19. A emoção foi unânime, conta ele.

“A nossa experiência sobre o Círio de Nazaré e de uma forma geral, no Pará, durou uns 10 dias, que incluiu ainda a ilha do Marajó. Fomos para o Círio de Nazaré para viver as experiências que só ele proporciona. Fomos para todos os eventos ligados ao Círio: Trasladação, o Círio, o Auto do Círio, a festa na Lambateria, o Arraial do Pavulagem e a Festa da Chiquita. Para mim que não conhecia, experimentei de perto a devoção à Nossa Senhora de Nazaré. Eu não sou uma pessoa que tem uma relação muito íntima com a igreja católica, mas tenho uma ligação forte com a fé, e ali, não tive como não ser tocado pela energia que emanou quando ela passou na berlinda”, diz o apresentador.

O jornalista passou por diversos locais da cidade e se divertiu conhecendo os feirantes do Ver-o-Peso. FOTO: REPRODUÇÃO/INSTAGRAM

Próximo aos romeiros na corda, Caio Braz registrou cada momento como pôde. “Não me atrevi a tocar na corda, porque acredito que ali é um lugar sagrado para quem se preparou o ano inteiro para estar lá. O Círio tem essa experiência de fé muito expressiva. A cultura paraense, de uma forma geral, é muito diversificada. A música, por exemplo, possui uma mistura do Pará, da Amazônia, com o Caribe. E essa junção única, que é uma característica de Belém, explode no Círio. Para mim, foi tudo muito rico”, ressaltou ele, que no Instagram, exibiu aos seus seguidores um pequeno vídeo declamando um texto de sua própria autoria, no qual fez uma relação dos rios amazônicos com a fé de quem escolheu a corda para professar a fé.

A festa da Chiquita, para ele, merece uma atenção à parte. “A festa da Chiquita representa a comunidade LGBT – eu sendo LGBT – é uma grande manifestação que atravessou o período da Ditadura Militar no país. O Pará poderia ser um outro país, entretanto, é brasileiro e precisa ser mais acolhido, não só a partir da ideia de ser o futuro do Brasil, mas ele é o presente. E eu acredito que o Pará vai ter mais esse protagonismo em nosso país”.

A série é apresentada no Youtube e tem em média 20 minutos. “Durante o meu percurso, a série acontece em tempo real no meu Instagram. Faço aquele rolê nos stories com pessoas no dia a dia. Para ficar por dentro das novidades, as pessoas devem me seguir no Instagram e se inscrever no Youtube porque a cada mês estou num lugar diferente do Brasil, fazendo essa pesquisa. Fiz muitos anos um programa na GNT e na TV Globo e meu sonho é atingir a TV com esta série, para que as pessoas vejam isso e valorizem o que temos no Brasil”, reforça.

A websérie já conta com o primeiro episódio disponível no Youtube de Caio Braz. FOTO: REPRODUÇÃO/ INSTAGRAM

Uma pesquisa pessoal pelo país

O Dia de Festa é uma pesquisa pessoal de Brasil, de buscar entender mais sobre o meu país. Acho que as festas populares dizem muito sobre o que somos, o que pensamos, vestimos, comemos e sobre o que celebramos. São muitas camadas nesta pesquisa: as festas são esses momentos em que cada lugar do Brasil brilha mais”, considera Caio Braz.

Segundo ele, o país passou tempos turbulentos e algo o moveu para se aprofundar na riqueza cultural brasileira. “Foram anos muito difíceis, nos quais a cultura viveu desprezada, violentada e eu venho de um lugar, que é o Pernambuco, onde tem muitas manifestações culturais e onde eu vivi as diversas experiências culturais desde a minha infância. Depois de adulto, já morando no eixo Rio-São Paulo, eu senti a necessidade de mostrar a riqueza que temos em nosso país, sobretudo, a partir dessas experiências pessoais no Nordeste”, relata.

Cada episódio de “Dia de Festa” não é só uma ida a uma festa, mas uma forma de revelar a cultura, as pessoas, a comunidade, a visita ao teatro, completa Caio Braz. “É uma reunião de sentimentos diversos. Teve um vídeo que eu publiquei no Instagram e viralizou. Nele, eu contei a história de uma estilista do Marajó chamada Filomena, que faz camisas marajoaras. Essa produção faz parte do repertório cultural imagético do Pará e acho que precisava passar por proteção porque precisa ser salvaguardado. Eu tenho experiência em pesquisa em moda e percebi uma riqueza muito grande no trabalho da dona Filomena. Talvez ela tenha uma importância muito maior do que alguém que está no Fashion Week, por exemplo”.

As camisas da dona Filomena são usadas em solenidades públicas no Marajó. “Elas são elegantíssimas, trazem recortes em alfaiataria e símbolos indígenas”, detalha Caio. A partir do vídeo, Filomena vendeu uma grande quantidade de camisas. “Eu não fiz isso para que ela tivesse apenas um resultado comercial, mas para mostrar sua importância e para que as pessoas possam valorizar o trabalho dela”.

A viagem, que mescla trabalho e prazer, também levou o jornalista a locais como o Theatro da Paz. FOTO: REPRODUÇÃO/INSTAGRAM
MISSA DO VAQUEIRO

Sobre o primeiro episódio, que já está no Youtube, sobre a Missa do Vaqueiro, Caio Braz detalha: “Ela é uma festa religiosa que acontece no interior de Pernambuco, a cidade do cantor João Gomes, que ficou conhecido pelo timbre típico das vaquejadas e explodiu depois com essa festa muito popular. Inclusive, o Luiz Gonzaga já foi uma das grandes participações do evento e ainda mistura as tradições do forró”, destaca.

Viajando com uma equipe de três pessoas, incluindo ele, o pesquisador David Carneiro, que frequenta as festividades há muitos anos, e o fotógrafo e videomaker Victor Takayama, Caio faz tudo do próprio bolso. “Compramos as nossas passagens, a gente não tem medo de enfrentar os ‘Brasis’ que se apresentam para gente porque sabemos que estamos aprendendo muito e sabemos que vamos olhar para trás e ver o que fizemos, e isso deve gerar gratificação”, acredita ele.

A cada história, uma imersão. “Foi um processo de aprendizagem incrível, mas que mesmo sendo nordestino, só conheci agora. Me nutri muito dessa história e a apresentei para o meu público com quem também compartilhei as vozes das pessoas mostradas. Então, tento gerar uma relação de respeito e mostrá-las nos meus canais, que têm uma grande visibilidade. Na Missa do Vaqueiro, eles são capazes de reunir esses contextos de luta e ainda celebrar. É muito a cara do Brasil. Sempre há uma casa aberta de alguém para comer um feijão, um lugar onde há alguém costurando roupas tradicionais para que a gente não perca a nossa cultura. O que seria do Brasil sem essas coisas? A gente não seria a potência que é no sentido cultural. Minha ideia, então, é colaborar não só enquanto pesquisador, mas alguém que divulga essas tradições”, acrescenta.