Dar uma olhada na programação de desfiles da próxima São Paulo Fashion Week (SPFW) é se deparar com um quem é quem na moda brasileira hoje. Diverso, o grupo tem desde estilistas que transformam em roupa a riqueza do artesanato manual do interior do país até marcas descoladas que estampam personagens da Disney em camisetas, infantilizando seus produtos.
No evento, que começa nesta segunda-feira, 14, estão gigantes como Alexandre Herchcovitch, que lança regularmente novas coleções desde que voltou com sua marca, etiquetas veteranas, a exemplo de Fernanda Yamamoto e João Pimenta, outras com menos de uma década mas com público cativo – Handred e Another Place -, estreantes, caso de Dario Mittmann e seu streetwear abrasileirado.
E ainda tem uma destacada representação amazônica com a Normando, criada pelo estilista que dá nome à marca. Sem spoilers, eles anunciaram no Instagram que farão o lançamento da sua “Coleção Nº 5” nesta quarta-feira, 16, a partir das 19h30, no Pavilhão das Culturas Brasileiras. Suas peças são conhecidas por trazerem à tona a pauta sustentável, com destaque especial para o látex amazônico, substituto ao couro animal.
Isto quer dizer que a SPFW, apesar de não causar mais o auê que um dia causou com suas passarelas estreladas e o frisson dos desfiles, e as críticas de que tem muitas marcas desconhecidas do público, segue firme em sua missão de dar palco a talentos emergentes e mostrar coleções novas de estilistas consolidados que lançou no passado.
“Eu continuo acreditando que o lugar mais importante, mais precioso para uma marca é no desfile numa semana de moda. Porque é aí que você mostra a economia do setor de uma maneira forte, estratégica e plural”, diz Paulo Borges, o fundador da SPFW.
O propósito do seu evento é o mesmo desde que começou, há quase 30 anos, ele afirma – “organizar uma agenda de desfiles para que isso seja uma apresentação desse panorama de moda”.
A edição número 58 da SPFW está ambiciosa. São 41 desfiles ao longo de sete dias, a maioria concentrada no Pavilhão das Culturas Brasileiras, no parque Ibirapuera, aquele em que o estilista paraense Marco Normando já tem lugar marcado, e que já sediou edições anteriores do evento. Uma pequena parte acontecerá em um shopping, e outros tomarão ícones da cultura paulistana, como o do projeto Ponto Firme, de Gustavo Silvestre, no Museu do Ipiranga.
O público vai ver marcas trabalhando com os fazeres manuais de artesãos do interior do Brasil, uma proposta que já se desenhava nas últimas edições da SPFW e que responde, na moda, a um
movimento da cultura em geral – o de dar holofote para talentos dos rincões do país. Catarina Mina mostra 35 looks feitos em crochê, bordado e macramê, e Weider Silveiro criou a nova temporada a partir das memórias de sua infância, quando frequentava festas tradicionais no sertão nordestino.
Vale prestar atenção na Another Place, etiqueta querida da geração Z com sua mistura de camisetas justas que deixam o umbigo à mostra e calças amplas. Intitulada “Perigo”, a temporada “fala sobre sair da zona de conforto e a beleza que isso traz, quando você se torna livre”, diz o fundador da marca, Rafael Nascimento. Nos 40 looks do desfile, o público vai ver muito jeans, o carro-chefe da Another Place, tanto na tradicional modelagem baggy quanto nas novas silhuetas mais justas.
*Com João Perassolo/Folhapress