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Luiz Gonzaga continua influenciando a música 35 anos após sua morte

Morto há exatos 35 anos, Luiz Gonzaga é elo entre gerações da música nacional. Luiz Gonzaga compôs alguns dos maiores clássicos da música brasileira, como “Asa Branca”.
Morto há exatos 35 anos, Luiz Gonzaga é elo entre gerações da música nacional. Luiz Gonzaga compôs alguns dos maiores clássicos da música brasileira, como “Asa Branca”.. (Foto: Folhapress)

“Dizia que a zabumba tinha a ver com a guitarra/Dizia que o baião era igual ao rock’n’roll/Dizia que Elvis Presley tinha a ver com Luiz Gonzaga/Um de chapéu de couro e o outro com o blusão”.

Dez mil anos atrás, Raul Seixas já estabelecia a relação entre Luiz Gonzaga do Nascimento (1912-1989), o Gonzagão, e Elvis Presley. O Rei do Rock e o Rei do Baião. Em “Raul”, música recém-lançada pelos Titãs, no disco “Microfonado” (gravada com a participação de Lenine, pernambucano como o próprio Gonzagão), baião e rock são conjugados, como em tantas músicas do mestre baiano. E Gonzaga, cuja morte completa 35 anos nesta sexta-feira, recebe sua menção. Não tem jeito.

“Encontrei o Gonzagão em um saguão de hotel, uma vez, muitos anos atrás, acho que na turnê do disco ‘Cabeça dinossauro’”, lembra Sérgio Britto, titã e autor de “Raul”. “Desci para esperar um carro e ele estava lá, paramentado, com sua sanfona ao lado. Foi um encontro mágico. Ele era quase um bluesman, né? Passava a vida na estrada cantando para as pessoas.”

O peso do legado onipresente de Gonzaga chegou também a Paulo Ricardo, que se uniu a Michel Teló em um mashup de “London, London” e “Asa Branca”, apresentado no show do ex-RPM no Rio há duas semanas.

“Fui cantar umas músicas com o Teló na festa de aniversário da Thaís Fersoza, mulher dele”, conta Paulo. “Quando ele começou o riff de ‘London, London’ no acordeom, eu imediatamente comecei a cantar ‘Asa Branca’. Achamos que ficou surpreendentemente lindo, e o convidei para cantar comigo no meu show. Quero gravar.

Ele ainda encontra uma dinastia musical.

“‘London, London’ é uma música de Caetano Veloso no exílio, em Londres, que gravei porque me remete ao tempo em que morei lá, no começo dos anos 1980”, lembra ele. “Os dois discos que ele gravou lá, ‘Caetano Veloso’ e ‘Transa’, são muito importantes para mim. E olha só: em ‘Caetano Veloso’, de 1971, ele gravou ‘London, London’ e ‘Asa Branca’. É mais ou menos como se Luiz Gonzaga tivesse passado um bastão imaginário para a geração de Caetano e Gil, e eles, para a minha”.

Chico César, que gravou “Paraíba”, de Gonzagão, em seu primeiro disco, “Aos Vivos” (1994), e que eventualmente mete “Asa Branca” em meio a “A Prosa Impúrpura do Caicó” (“todo nordestino canta ‘Asa Branca’ de alguma forma”, define ele), concorda com o movimento geracional e, principalmente, com a perenidade do compositor pernambucano.

“Ele é um dos fundadores da música brasileira, seminal para todos nós”, define Chico. “Uma influência imensa, primeiro nas gerações próximas à dele, em gente como Marinês e Jackson do Pandeiro, depois na turma de Caetano, João Bosco e Gilberto Gil, depois na minha, com Lenine, Zeca Baleiro e outros, e finalmente na turma atual. Tem muito Luiz Gonzaga em Juliette, João Gomes e Zé Vaqueiro.”

PIB GONZAGUIANO

O cantor e compositor Daniel Gonzaga vai mais fundo. Além de admitir a óbvia (oni)presença de Gonzagão na música e na cultura do Brasil, ele detectou em uma longa viagem ao Nordeste um novo player na economia.

“O PIB Gonzaguiano”, define ele, neto de Gonzagão que frequenta Exu, cidade no interior de Pernambuco a 630km de Recife onde o mestre nasceu, desde que tinha 7 anos. “Passei dois meses rodando de carro pelo Nordeste, por cidades como Nova Olinda, Juazeiro, Crato e Salgueiro, além de Recife e Fortaleza”.

Ao lado da mulher, Carolina Albuquerque (neta de Anastácia, uma das principais compositoras da história da música nordestina), Daniel foi registrar uma série de oito episódios chamada “Gonzaguianos” (ainda sem plataforma de exibição definida), exatamente sobre o impacto da herança de Gonzagão no Nordeste, em vários aspectos.

Bernardo Araujo/AGÊNCIA O GLOBO/RJ