Wal Sarges
O cantor e compositor Júnior acaba de lançar seu primeiro álbum em carreira solo. Pop, arrojado, do jeito que ele queria mostrar sua essência, e ainda veio acompanhado do videoclipe da música “De Volta Pra Casa”. Ontem, 30, enquanto os fãs já acessavam as plataformas de streaming em busca de “Solo – Vol. 1”, o cantor falou por cerca de uma hora sobre esta nova etapa da carreira, em uma coletiva de imprensa com a participação do Você.
Ele conta que foi em cima do palco, em 2019, ainda durante a turnê “Nossa História”, que marcou o revival da dupla Sandy & Junior, que sentiu que tinha uma missão: pensar em um projeto com a sua cara, o seu ritmo e as suas referências musicais. Assim nasceu, tal qual um filho, o seu primeiro álbum, em que Júnior comanda sozinho os vocais.
“Teve um momento que me deu um ‘clique’ na minha vida para este álbum e sinto que foi em cima do palco. Aquela turnê com a minha irmã foi muito reveladora. Passei a me entender melhor e a me conhecer. Na tour percebi que sentia falta de estar vivendo aquilo que eu gosto. E entendi o quanto eu sou pop, inevitavelmente. Essa é a minha escola”, considera.
É disso que ele fala na primeira faixa do disco, “De Volta Pra Casa”, que compôs em parceria com Bibi, Mayra Arduini e Thalles Horovitz. “Não tem outra opção/ me enlouquece, me deixa são/ me traz o céu, me tira o chão”, canta Júnior, enquanto observa microfones apontados para ele num palanque, no primeiro videoclipe derivado do álbum. “Ela me dá essa sensação de voltar para casa e ocupar o meu lugar. É como aquela sensação de voltar para o sofá de casa. Senti isso muito na turnê com a minha irmã e a partir daí, passei a criar um projeto meu que falasse isso”, comenta o cantor.
Ele conta também que a intenção era lançar o projeto ainda em 2020, mas com a pandemia, tudo precisou ser reprogramado. “Por outro lado, tive tempo de amadurecer o que eu queria para o disco. Desencanei da gravadora e ele foi tomando o tempo que tinha que tomar. Por um bom tempo, foi um pouco difícil, fiquei sem pegar no meu violão e até desmontei toda a estrutura do meu estúdio. Foi um processo de retorno, de sair do obscuro, e a música teve um papel fundamental nisso, me salvando mais uma vez”, diz.
Depois de um período que envolveu terapia e autoconhecimento, Junior decidiu que estava pronto para retomar seu projeto. A primeira música a ser composta nessa retomada do processo criativo foi a densa “Sou”, enviada por seu pai, Xororó, que começava com “Hoje eu consigo perceber/ Tudo o que vivi não foi em vão/ Aprendi que posso escrever uma nova história”. “Meu pai é ligeiro. Ele sacou que eu estava meio mal e me mandou isso: ‘Ó, filho, fiz aqui com meus parceiros (Tony e Kleber), pensando em você’. Eu falei: ‘Filho da mãe! Ele tá falando do processo que eu vivi na turnê!’”.
Sentimentos conectados em música
Casamento, paternidade e relações familiares também foram alguns dos temas que inspiraram o artista, que tinha acabado de ver o nascimento da filha, Lara. O processo de composição como um todo resultou em 54 músicas – dez delas foram escolhidas para este primeiro volume, e outras 13 faixas foram guardadas para “Solo – Vol. II”, ainda sem data de lançamento.
“A paternidade aflorou e eu descobri novas formas de amor. Acho que esses sentimentos foram intensificados. É um contato muito grande com as minhas emoções. Inclusive, foi no meio do processo do disco que a Mônica ficou grávida e a Lara chegou pra gente. São emoções muito intensas. Não tem nem por onde começar a falar quando se trata do nascimento de um filho. Meu coração é muito conectado com o sentimento do dia a dia”, relata ele.
São duas músicas dedicadas aos filhos, Lara e Otto: “Novo Olhar” e “O Dom”. Sobre esta última, Junior conta que se sente muito conectado com o avô e o pai, especialmente através da música. “Só tive contato com meu avô materno, porque o paterno faleceu antes de eu nascer. E meu avô materno é um grande violonista. Fiz essa música junto com meu pai e pensando no meu filho, sobre essa linha que fica, por isso que saiu com essa intensidade, está tudo conectado”.
“Solo – Vol. I” traz ainda o irresistível funk “Gatilho”, surgido a partir de uma conversa na hora do café e complementado instantaneamente numa inocente passadinha pelo estúdio. “Paraquedas”, faixa de encerramento, trabalha o “dançar pra não dançar” fazendo uma crônica sensível de dias difíceis para a humanidade. Há ainda espaço para a sensualidade R&B de “Ninguém é Santo” e um clima de bossa nova no piano elétrico em “Passar dos Danos”. O disco ainda tem Sandy soltando um sonoro “Foda-se”, remetendo ao próprio nome da faixa, cheia de grooves eletrônicos.
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As referências e inspirações que Júnior buscou para este disco estão separadas por décadas. “Ouço muito som diferente e de muitos gêneros. Quando pensei nele, sabia que tinha que ter um espaço para os sintetizadores, que é algo que eu gosto e faz parte do meu trabalho na música eletrônica. Sabia que queria fazer pop, ter sintetizadores, instrumentos orgânicos. Daí, pensei nos anos 1980, 1970 e 1990, fui passeando um pouco pelas décadas para temperar o disco. Eu parti disso, mas tenho os meus heróis principais, que são Prince, Michael Jackson, Queen, Led Zeppelin e System of a Down”, comenta.
Júnior diz ainda que quando pensou neste trabalho planejou algo que estivesse conectado com o que ele queria. “Esse é o tipo de som que eu, particularmente, adoraria consumir. Quem vier ouvir será abraçado. Meu principal objetivo é me realizar fazendo este trabalho. O resto é consequência”, afirma.
Por fim, ele comentou sobre as mudanças no mercado fonográfico, bastante diferente da realidade que conhecia na carreira ao lado da irmã, especialmente com o impacto da internet na divulgação de trabalhos.
“O mercado está todo diferente, com os meios de comunicação e a maneira de divulgar o trabalho. Isso exigiu de mim uma atualização para sacar o que está rolando. Para isso, conto com uma galera muito massa também. A gente se junta e cria um monte de ideias até chegar nesse formato. Tem que saber onde você domina, mas também onde precisa mais de ajuda das pessoas. Não quero desperdiçar tanto esforço e dedicação que ocorreu em todo o processo, então a gente tem de se amparar e se cercar das pessoas certas para trazer uma coisa legal”, considera ele, que não descarta a possibilidade de lançar uma tiragem do álbum em vinil, mesmo em pequena quantidade.