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Jovens pensam o Brasil que querem a partir da arte

Frame do vídeo "365 dias sem fome" Foto: Reprodução
Frame do vídeo "365 dias sem fome" Foto: Reprodução

Texto: Wal Sarges

Descriminalizar corpos negros, valorizar culturas indígenas e nordestinas, e fazer política através da arte digital e futurística. Após três meses de aprendizado, participantes do Laboratório Permanente Afro-Ameríndio – um dos cursos oferecidos pela agência GatoMÍDIA – lançaram a campanha “O Brasil que a gente imagina”. O projeto tem como objetivo divulgar produções visuais pensadas a partir de críticas sociais e estimular o debate sobre as vivências periféricas e LGBTQIA+ neste período histórico de eleições. Todas as artes estão disponíveis no site criado pelos próprios alunos (obrasilqueagenteimagina.com.br)

A paraense Tainá Barral é uma das participantes da campanha “O Brasil Que a Gente Imagina” e do Laboratório Permanente Afro-Ameríndio, vinculado à agência GatoMÍDIA. Formada em comunicação social com habilitação em jornalismo pela Universidade Federal do Pará, ela apresentou ideias a partir do seu lugar, o bairro do Guamá e a Amazônia. “O Brasil que eu imagino é um Brasil que reconheça o Norte como potência criativa e de referência intelectual também”, diz ela, selecionada em maio junto ao grupo de 40 jovens de todo o país.

“Fomos divididos em três turmas de acordo com nossa escolha: narrativas visuais (minha turma), narrativas imersivas e narrativas tecnológicas. Tive aulas com pessoas de quem eu já acompanhava o trabalho, como a indígena Alice Pataxó, da Bahia, e a artista visual Skarlati kemblin, de Manaus, e com outros que eu ainda não tinha contato, como o escritor Renato Nogueira. Foram aulas de compartilhamento muito importantes no amadurecimento do nosso ‘artivismo’”, considera a artista.

Selecionada para a segunda fase do projeto, ela conta que recebeu uma bolsa/ajuda de custo e incentivo para produzir um material a partir desses encontros. “Foram muitos aprendizados, principalmente de referências de artistas negros e indígenas que usam sua arte para indagar o mundo e instigar as pessoas, mostrar sua realidade local, fazer uma releitura do passado. Mergulhamos em alguns assuntos sobre arte digital e principalmente conectando à ancestralidade durante nossos processos criativos”, detalha.

Para a campanha, ela criou  o vídeo “Meu Norte”, onde mostra como pretende representar o afropresentismo a partir de quem vê o Brasil de cima do mapa. “Qual norte seguir? Esta é a inquietação que muitos jovens brasileiros têm sobre seus futuros. O produto audiovisual é uma ferramenta do ‘esperançar’ dos nossos movimentos diários para sobreviver, e traz em sua narrativa uma carranca indígena com escamas e dentes de peixe, sementes e búzios. Em algumas cenas, é um objeto metáfora que espanta as vibrações ruins e o desestímulo, e que representa também os imaginários que alimentamos por estar na Amazônia urbana. A narrativa busca ressaltar os encantamentos nos nossos ‘corres’, ações do viver em comunidade, conexões com nosso território que nos impulsiona a imaginar e criar um Brasil”, explica Tainá.

Na imagética de seu filme, a artista paraense apresenta cenas do próprio cotidiano, como jogar bombons “no pisão” no dia de São Cosme e Damião, uma tradição feita pelo seu irmão mais velho, tomar banho de rio com a mãe, andar de bicicleta pela cidade, a festa de aparelhagem e o carimbó. Ela ressalta o que conheceu sobre afropresentismo durante sua imersão no Laboratório. “É você canalizar sua ancestralidade por meio de todas as tecnologias à sua disposição – meditação, conversa, amor, internet – e transformar absolutamente tudo em um portal que te leva exatamente onde você precisa estar, neste momento, em direção ao próximo. Até que finalmente, o espaço entre o sonho e a memória se transformam em sua realidade – agora”, explica Tainá.