Há quase 20 anos o projeto Vale Música Belém vem transformando a vida de crianças e jovens através da música. Ao longo desse período, mais de 5 mil estudantes já passaram pelas turmas de aprendizagem musical oferecidas pelo projeto, desenvolvido pela Fundação Amazônica de Música e financiado pelo Instituto Cultural Vale. A partir dele, muitos jovens instrumentistas têm visto novas portas se abrirem para uma carreira musical, também fora do Pará.
É o caso do contrabaixista Filipe Yure Pereira Coimbra, que integra o projeto há 14 anos. O músico conquistou uma vaga na Academia Filarmônica de Minas Gerais, umas das mais conceituadas do Brasil, depois de passar por um rigoroso processo de seleção. De mudança para Belo Horizonte, agora planeja os próximos passos da carreira.
“A expectativa é de um dia poder fazer parte da Filarmônica como músico efetivo. Minha meta para essa nova caminhada é conseguir somar com essas pessoas e mostrar meu interesse em crescer cada vez mais na música, além de conseguir ajudar jovens como eu a trilhar o seu caminho”, comenta.
Filipe começou no aprendizado do instrumento aos 9 anos de idade. Já integrou o corpo artístico da Orquestra Sinfônica do Theatro da Paz (OSTP) e, aos 26 anos, foi aprovado no concurso da Orquestra Amazonas Filarmônica (OAF). Mais recentemente, participou de residência artística com a Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB).
Ele conta que a música trouxe oportunidades que o fizeram mudar de vida. “A música clássica é um universo muito bom para quem se identifica. Dentro dele, você tem muitas oportunidades que vão te levar para onde você não tem ideia ou permanecer no mesmo lugar. Isso só depende de você. E dentro do projeto Vale Música, eu tive essa oportunidade de escolher algo grande para mim. Com a graça de Deus e muito estudo, foco e determinação, estou conseguindo realizar meus sonhos”, afirma.
Outra jovem que vai realizar o sonho de uma carreira na música é a trompista Jaqueline Louzada. Há 19 anos ligada ao projeto Vale Música Belém, ela foi aprovada em uma seleção internacional para cursar o mestrado em Performance na Zurich University of the Arts (ZHDK), na Suíça, após concorrer com músicos de todo o mundo durante vários meses.
“Acredito que essa será uma grande mudança, marcando a minha primeira experiência de residir fora de Belém. Tenho expectativas de aprender ainda mais e aproveitar plenamente a experiência de estudar fora do Brasil. Sem dúvida, cursar o mestrado em Performance na ZHDK abrirá novas e valiosas possibilidades profissionais”, comenta.
A história de Jaqueline se confunde com a jornada do próprio Vale Música Belém. Ela foi aluna e depois professora do projeto, usando seu talento para ensinar outras crianças e jovens. “Ingressei no Vale Música em 2005, participando da musicalização no coral Vale Música e integrando a turma de flauta doce. Após essa fase, fiz a escolha do meu instrumento e, já tocando trompa, participei ativamente da Banda e da Orquestra Jovem. Em 2015, dei início à minha jornada como professora revelou inúmeros talentos para o Brasil e o mundo. Desde 2004, foram 32 crianças e jovens aprovados em seletivas em diferentes estados e países. Para auxiliar nesse caminho, o projeto também tem investido em proporcionar experiências e intercâmbios, como a viagem de 16 alunos para Dubai, nos Emirados Árabes, para se apresentarem na reconhecida Expo Dubai, em 2022.
Também aprovado para estudar na Academia Filarmônica de Minas Gerais, o trompetista Yuri Gibson é outro exemplo de sucesso do projeto. De origem humilde, ele conta que sua dedicação e o Vale Música fizeram toda a diferença para alcançar objetivos na carreira musical.
“Venho de uma família pobre, já passei dificuldades. Às vezes, minha mãe deixava de comprar comida para me dar o dinheiro da passagem de ônibus para eu ir para escola de música. Com isso, eu me dediquei todos os dias para estar em níveis melhores. Depois dessa aprovação, consegui alcançar outro patamar. Sem o projeto, não seria o que estaria fazendo da vida. O Vale Música abriu uma oportunidade muito grande para mim. Entrei com apenas 7 anos de idade e estou lá até hoje, foi onde comecei a minha vida de fato. Não cresci só como músico, mas também como pessoa de caráter. Foi a minha base para eu alcançar essa aprovação”, diz.
Para Hugo Barreto, diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, o projeto tem um propósito que vai muito além das fronteiras. “O Programa Vale Música amplia os horizontes de crianças e jovens ao mostrar que a música tem o potencial de transformar vidas, até mesmo como perspectiva de futuro profissional. Desde 2004, o projeto Vale Música Belém, sem dúvida, tem cumprido essa missão ao contribuir para transformar os acordes em sonhos realizados e em novos caminhos para seus estudantes, dentro e fora do Brasil”, afirma.
Quem também está na trilha do sucesso e promete dar ainda mais orgulho para a família em sua trajetória pela música é o trompista Ezequiel Rocha. Ele faz parte do time de alunos aprovados em seletivas para a Orquestra Sinfônica do Paraná e para a Academia da Filarmônica de Minas Gerais. Ezequiel, integrante do projeto há quase 13 anos, optou por mostrar seu talento na Orquestra Sinfônica do Paraná. “Quase que 100% das experiências que pude ter fora de Belém foram por meio do Vale Música Belém. Para essas novas oportunidades, quero e vou em busca de mais conhecimento, conhecer novos professores, novos colegas e adquirir mais experiências. Meus pais estão muito felizes e tenho total apoio deles. Sou muito grato desde o início até o presente momento em poder fazer parte do Vale Música e do projeto também fazer parte da minha vida”, comenta.
Para a coordenadora do projeto, professora Marília Caputo, à medida que esses jovens se preparam para embarcar em suas novas jornadas, levam consigo não apenas habilidades musicais, mas também a determinação e a resiliência que aprenderam ao longo do caminho. “As histórias desses alunos e ex-alunos do projeto Vale Música são, para nós, um lembrete poderoso do potencial ilimitado que pode ser desbloqueado quando a música se torna uma ferramenta para o empoderamento e a transformação pessoal,” conclui a musicista.