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Joelma convida Mariah Carey para tomar tacacá no Pará

Joelma reflete sobre fama, estilo próprio e legado: “Nunca tive tempo pra pensar nisso” e convida estrela dos EUA para show em Belém.

Joelma reflete sobre fama, estilo próprio e legado: “Nunca tive tempo pra pensar nisso”
Joelma reflete sobre fama, estilo próprio e legado: “Nunca tive tempo pra pensar nisso”

Líder de vendagens de discos no Brasil na primeira década dos anos 2000 com a Banda Calypso, Joelma da Silva Mendes espalhou pelo país a notícia dos seus talentos de cantora, dançarina, coreógrafa, compositora, estilista, empresária, e virou uma embaixadora da música eletrificada, digital e dançante de seu estado, o Pará. Em carreira solo desde o fim do casamento com o parceiro de Calypso, o guitarrista Ximbinha, Joelma se manteve como uma das artistas mais conhecidas do país. E, no mês que vem, no esquenta para a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP 30), em Belém, vive um grande momento de sua carreira.

Joelma vai representar a música paraense ao lado de Dona Onete, Gaby Amarantos e Zaynara em shows em São Paulo, no festival The Town (dia 14), e em Belém, no Amazônia Live 2025, no dia 17. Esta apresentação será no rio guamá, em um palco flutuante com formato de vitória-régia, que em seguida será ocupado pela diva pop americana Mariah Carey.

– Tudo que Deus bota para mim como obstáculo, eu digo: “Opa, vou dar o meu melhor!” – conta Joelma por Google Meet, em uma das brechas de sua congestionada agenda. – Desde criança tenho uma ligação muito grande com Deus. Todos os meus projetos eu coloco nas mãos d’Ele e é incrível. Se estou fazendo uma coisa aleatória, de repente vem tudo na minha cabeça. É assim que nascem os meus projetos. Não me preocupo se vai fazer sucesso. Se eu estou gostando, se me entreguei de corpo e alma, basta.

Joelma já convidou Mariah Carey a dividir um tacacá (caldo típico de sua terra) quando as duas estiverem no Pará.

– Ela ficou meio tímida, né? Mas a gente vai levar esse tacacá para ela experimentar – promete a cantora, para quem a americana é referência de canto, assim como Barbra Streisand e Céline Dion. – Acho que escolhi as melhores para me inspirar. Tem gente que canta muito, que vai lá em cima e lá em baixo, mas não tem um timbre legal. A Mariah, não, ela tem toda essa riqueza vocal e um timbre maravilhoso.

Joelma evita reconhecer que hoje, assim como Mariah, também é dona de um estilo com muitas seguidoras.

– Nunca tive tempo para pensar nisso, não, eu sempre trabalhei demais. Só agora, depois de pegar nove Covids é que eu fui obrigada a diminuir o ritmo – revela, lembrando que, no estouro da Banda Calypso, chegava a fazer 11 shows por semana.

Além das nove Covids, a artista enfrentou paradas cardíacas e derrames oculares em consequência da doença.

– Fui internada três vezes. Depois de ter passado por essa experiência, fui obrigada a desacelerar. E foi a melhor coisa que fiz na minha vida. Hoje meu trabalho tem uma qualidade maior. E não só no palco, mas fora dele também, porque o artista tem que dar atenção para a mídia, atender o público no camarim, isso é muito importante – detalha.

A doença ameaçou até a apoteose dos recursos teatrais da cantora que se apresenta de botas de salto alto e vestidos coloridos: dançar batendo cabelo.

– Com a Covid, perdi quase toda minha cabeleira. O cabelo vinha assim na mão, foi uma coisa louca. Mas já recuperei um pouco dele e estou mais tranquila – conta a estrela.

Desafios e Superação

O desafio de Joelma é continuar fazendo o que faz aos “5.1 de idade”:

– Naquela época lá (do auge da Banda Calypso), pessoas diziam “é playback, é playback!”. Várias vezes tive que parar a banda e começar a cantar porque achavam impossível alguém levantar, baixar a cabeça, girar e não perder o fôlego, tudo em cima do salto – lembra.

Perto da entrevista, Joelma esperava o nascimento de seu primeiro neto, Oliver, da filha mais nova, Yasmim. Logo depois, viria Zahara, do seu filho do meio, Yago. Assim como a mais velha, Natália (“o meu braço direito”), os dois trabalham com a mãe.

– Acho que a Joelma avó vai ser bem moleca. Porque eu não cresci, sabe? – aposta ela, que deixou as paixões de lado e está “há sete anos sem beijar na boca”. – Deus me livre, prefiro a morte. Estou tão bem, tão feliz, que, para entrar uma pessoa na minha vida, ela tem que estar igual a mim. Não preciso de nada e de ninguém para ser feliz.

Joelma recorda que desde cedo foi criada para ser independente.

– Quando era criança, eu jogava futebol com os meninos. E conseguia ser melhor que eles, era uma coisa anormal. Tudo que os meninos nos faziam, eu fazia, e fazia melhor – gaba-se. – Faço musculação desde os meus 20 anos de idade, nunca parei. Sempre gostei muito de esporte e sempre cuidei muito da alimentação.

A Trajetória e o Reconhecimento

Outra memória que não se apaga é do quanto teve que ralar com o Calypso até o sucesso nacional:

– Quando estava começando a fazer show pelo Sul do Pará, a gente ia só com dinheiro do combustível. E só para a ida. Não tinha dinheiro para voltar nem para comer. A gente parava nos postos de gasolina e eu saía vendendo nossos CDs para os caminhoneiros. Eu explicava: “Ó, a gente está batalhando, dá para você comprar o CD para a gente poder almoçar?” E eles ajudavam a gente. Foi muita luta.

Ano que vem, Joelma poderá comemorar os dez anos de carreira solo, que decolou rápido com o hit “Voando pro Pará”.

– Quando tive que encarar a carreira solo, senti a diferença nas pessoas. Botavam muita fé na banda, mas não sabiam que praticamente 80% do que ela apresentava tinha sido criado por mim. O nome, a forma de cantar, de montar o show, com abertura, meio e fim.

O tempo dedicado à carreira a impede de atender a todos os colegas. Como a discípula confessa Pabllo Vittar, que “me mandou uma música linda, achei incrível a interpretação”. Joelma foi abraçada pelo público LGBTQIA+ como um ícone.

– Fico muito honrada, porque esse é um público LGBTQIA+ muito exigente, que gosta de fazer coisas diferentes. Eles me pedem cada coisa ( risos )! Se eu conseguir chegar a 10% do que me mandam… Alegria é com eles mesmo.

Projetos Atuais e Futuros

Há algum tempo Joelma se divide entre São Paulo e Pernambuco, onde fica seu escritório. Ela lançou na sexta-feira seu primeiro audiovisual solo (“Uma noite amazônica – Ao vivo em Portugal”) e dia 18 de outubro grava em Brasília um DVD ao vivo. A cantora se esforça para manter o ritmo dos lançamentos – tem quatro músicas inéditas para soltar depois dos festivais.

– Prometi para os meus fãs que eu ia gravar um álbum com dez músicas inéditas. Só consegui lançar duas. Eu digo: “Gente, o que eu prometi eu vou cumprir, só não sei quando!”

Legado e Influência

Desde quando formou a banda Calypso com o ex-marido Ximbinha, Joelma comandou uma mudança na música brasileira que abriu o espaço para a guitarrada, a aparelhagem e as muitas cores da estética do brega do Pará ? que, longe de ter a conotação negativa com que a palavra é empenhada no Sudeste, tornou-se patrimônio imaterial e cultural no estado, desde 2021.

A banda terminou, mas o visual espalhafatoso se manteve, ganhando mais adereços, assim como as botas altas, em uma carreira de mais de 20 milhões de discos vendidos e três indicações ao Grammy Latino. No ano passado, foi a vez de a obra da cantora ser reconhecida pela Assembleia Legislativa do Pará como patrimônio cultural e imaterial do estado que ela projetou.

Texto de: Silvio Essinger