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Jazz com ares amazônicos

Hoje, Dia Internacional do Jazz, o destaque é para os grupos que expandem a música instrumental paraense no Marabá Jazz Festival
Hoje, Dia Internacional do Jazz, o destaque é para os grupos que expandem a música instrumental paraense no Marabá Jazz Festival

Cíntia Magno

Nascido nos Estados Unidos da América, do final do século 19 e início do 20, o jazz extrapolou qualquer limite territorial e, hoje, alcança as mais diferentes realidades culturais do globo. Não é à toa que o estilo musical marcado pela improvisação tem uma data garantida no calendário mundial, o dia 30 de abril, quando é celebrado o Dia Internacional do Jazz.

No interior da Amazônia brasileira, mais especificamente na região sudeste do Pará, a música instrumental que, nas palavras do historiador Eric Hobsbawm, se configura como um dos fenômenos culturais mais notáveis do século 20, também demonstra toda a sua potência em um festival inteiramente dedicado ao estilo, o primeiro desenvolvido na região, o Marabá Jazz Festival.

Depois de vivenciar a sua primeira edição em 2022, através do patrocínio do Instituto Cultural Vale, via Lei Federal de Incentivo à Cultura, o festival se organiza para levar ao público mais uma boa dose da diversidade da música instrumental produzida no Brasil e, claro, no Pará.

Considerando que a música instrumental brasileira é conhecida em todo o mundo, Jackson Gouveia, fundador da TheRoque Produções – produtora cultural responsável pela idealização e organização do Marabá Jazz Festival -, tem convicção de que há espaço em qualquer lugar para as produções desenvolvidas pelos músicos brasileiros. E é partindo deste entendimento que surgiu a iniciativa de promover um festival de jazz em Marabá, onde o estilo também encontrou o seu público durante a primeira edição do evento, em maio de 2022.

“A música instrumental brasileira tem plateia em qualquer lugar que artistas brasileiros vão se apresentar, e a gente está tendo a oportunidade, com o festival, de fazer essa provocação de a gente conhecer os nossos próprios produtos.”

Ao longo de sete dias, a população do município de Marabá e região pôde acompanhar uma extensa programação voltada para a música instrumental, desde a realização de oficinas profissionalizantes até a culminância nas três noites de festival de jazz, tudo inteiramente gratuito. Como o próprio Jackson já imaginava, a circulação de artistas nacionais que nunca haviam estado na região e a apresentação do que vem sendo produzido na área dentro do próprio estado, despertou o interesse não apenas de quem já vivencia o cenário da música instrumental, mas também de pessoas que, talvez, nunca tivessem tido contato com o estilo antes.

“Foi absolutamente inédito em toda a Região Carajás, aqui em Marabá. As oficinas transitaram pelas mais diversas linguagens, do ponto de vista da profissionalização voltada para a música”, lembra o produtor cultural.

“No festival, a gente conseguiu trazer, pela primeira vez, alguns artistas de impacto nacional aqui para Marabá. Naquele ano, nós tivemos o Azymuth, banda carioca com 50 anos de carreira, se apresentando pela primeira vez na Amazônia, aqui no nosso festival. Tivemos também o Trio Corrente, um conjunto paulista de música instrumental brasileira que já venceu o Grammy por duas vezes: eles levaram o Latin Grammy e Grammy Award, pelo álbum ‘Song For Maura’. Isso dá uma dinâmica da importância dos artistas que a gente conseguiu trazer para cá”, completa Jackson.

Com o foco direcionado também para o que a própria região vem produzindo, o festival não deixou de estabelecer uma relação com os artistas locais. Dentro da programação, três artistas de Marabá, sendo uma orquestra, um conjunto de chorinho e um conjunto de música instrumental voltado ao jazz, puderam se apresentar. Além da participação de dois artistas de Belém, estabelecendo um diálogo do jazz com um estilo de música instrumental genuinamente paraense, a guitarrada.

“A gente criou uma fórmula de fomentar a música autoral a partir de três situações: a primeira é fazer circular aqui em Marabá artistas que não têm circulação aqui. A segunda é projetar artistas locais que tenham trabalhos autorais para apresentar. E a terceira, é fomentar uma qualificação de público, no sentido de a gente oportunizar a esse público ter contato com esses artistas e com o que existe de produção autoral na música em Marabá. Com isso a gente consegue formar plateia”, explica o produtor.

SEGUNDA EDIÇÃO

A fórmula foi tão bem recebida que o projeto renovou o patrocínio junto ao Instituto Cultural Vale e voltará ao teatro do Carajás Centro de Convenções neste ano, possivelmente em agosto. Jackson aponta que os detalhes da programação ainda estão sendo costurados, mas já há a perspectiva de que a segunda edição do festival dialogue mais de perto com a diversidade.

“Estamos trabalhando numa programação que seja mais diversa na questão racial e também na questão de gênero. A gente quer mais mulheres no palco”, explica o organizador do evento. “Estamos trabalhando com uma programação que projete ainda mais artistas locais. A gente já tem dois novos trabalhos locais de música instrumental que serão lançados no festival. Isso é um impacto muito grande porque, de um ano para o outro, o festival já conseguiu mexer com a produção da música instrumental em Marabá. E essa programação quer dar um aspecto ainda maior do que existe de brasilidade e do que existe de música instrumental brasileira em si”, adianta.

Novo projeto levará concertos ao Pará e Maranhão

Fruto do trabalho desenvolvido pelo Marabá Jazz Festival em sua primeira edição, o projeto “Orquestra Vai à Praça” é uma boa novidade que será colocada à disposição da população também neste ano de 2023. O concerto, que percorrerá cidades do Pará e do Maranhão, também é patrocinado pelo Instituto Cultural Vale, depois de ter sido aprovado na chamada de 2022.

Responsável pela organização do Marabá Jazz Festival, Jackson Gouveia explica que o “Orquestra Vai à Praça” é um produto que nasceu do próprio festival. “Existe aqui uma orquestra que se chama Carajazz Marabá Orquestra Popular e que é formada por 19 músicos de Marabá que tocam na noite e que prestam um serviço de iniciação musical dentro das escolas de música da cidade. Essa orquestra surgiu no centenário de Marabá, a partir de uma iniciativa dos músicos, que decidiram se reunir e formar uma big band”, explica.

“Do seu nascedouro para cá, a big band tem tido uma agenda não muito aproveitada e como é um conjunto formado e qualificado, a gente percebeu que tinha potencial para um projeto voltado para o formato da orquestra. Então, a gente montou um projeto para que ela pudesse circular. A gente vai levar a orquestra para se apresentar em duas cidades do Pará, em Marabá e Parauapebas, e duas cidades do Maranhão, Açailândia e São Pedro da Água Branca”, adianta o produtor Jackson Gouveia.

Além do concerto, o projeto também vai promover duas oficinas em cada cidade por onde passar. Uma delas será composta por palestra sobre o recorte da música instrumental no Brasil, voltada para professores e alunos da educação básica das escolas do município. Já a segunda programação será um minicurso de musicalização para pessoas surdas.

“Eu acredito que a música instrumental tem a capacidade de formar pessoas. E que a música instrumental no Brasil precisa ser valorizada, mas muitas regiões brasileiras não têm contato com essa música. O festival e os concertos do ‘Orquestra Vai à Praça’ provocam isso, que pessoas que nunca tiveram contato com música instrumental possam ter, e não vai acontecer se a gente não tiver o apoio e o suporte necessário que têm se revelado a partir do patrocínio do Instituto Cultural Vale. Acredito que iniciativas como essas valorizam a música instrumental brasileira”, finaliza Jackson.

Além do Instituto Cultural Vale, a primeira edição do Marabá Jazz Festival, realizado em 2022, contou com patrocínio do Banpará.