Aline Rodrigues/Diário do Pará
No mês em que Ayrton Senna completaria 63 anos, a família Senna, junto com a Senna Brands, YDreams Global e Lalalli Studios, apresentam um novo ponto turístico dentro do Autódromo de Interlagos: o Circuito Nosso Senna. Pensado para a família e celebrando o legado do piloto tricampeão mundial de Fórmula 1 e um dos maiores ídolos da história do País, o espaço abriu à visitação no último dia 2.
O Nosso Senna fica localizado dentro do Setor A, uma das arquibancadas principais do Autódromo de Interlagos, em São Paulo (SP), que por meio de atividades tecnológicas e interativas, ressalta as conquistas do piloto dentro de suas 11 temporadas na F1, entre 1984 e 1994. Mas a grande sensação é o busto de Ayrton Senna, também batizado de Nosso Senna, feito por Lalalli Senna, multiartista, antropóloga e sobrinha do piloto, a partir da encomenda vinda da mãe de Ayrton, Dona Neyde.
“Muitos artistas retrataram o Ayrton, mas minha avó queria algo que remetesse à lembrança que tínhamos dele em família”, falou emocionada Lalalli Senna, durante coletiva de imprensa sobre o projeto.
O resultado emocionou toda a família e assim veio a proposta de criar uma peça para contemplar também os fãs do piloto. “Esse projeto veio da encomenda da minha avó, de tangibilizar o ‘Beco’, o Ayrton que nós conhecemos como família, para a linguagem artística, o que foi um grande desafio. Depois decidimos, como família, ampliar o projeto e compartilhá-lo com os fãs que sempre estiveram ao seu lado. O Ayrton era uma figura admirada por muitas pessoas, por ter representado tão bem os aspectos luminosos do Brasil com garra, força e vencendo do jeito certo. A minha ideia é que as pessoas também vejam a si mesmas na imagem dele, como parte desse Brasil luminoso e vencedor, pois ele existe em cada um de nós”, diz Lalalli.
A primeira etapa envolveu a modelagem em plastilina do busto no tamanho 1:1, o primeiro feito para o avô. Em seguida, ela realizou o escaneamento em 3D e passou a trabalhar digitalmente, além de realizar pesquisas com facetas. Na ampliação, a multiartista utilizou um robô para a fresagem do isopor, que depois foi revestido por massa corrida e gesso. A próxima etapa, considerada a mais complexa artisticamente, foi a modelagem das feições de Ayrton. “Quis trabalhar outras expressões diferentes do primeiro busto. O Ayrton tem um rosto difícil de retratar e recorri muito à minha memória para chegar no resultado que eu desejava”, revela. Quando ficou pronto, o molde foi dividido em 28 partes para confeccionar os contramoldes em um composto de areia e cerâmica. A etapa seguinte envolveu a fundição do alumínio, matéria-prima final.
O resultado, uma escultura de alumínio polido e facetado com 3,5 metros de altura e 550 quilos, que chegou ao autódromo durante a semana do Grande Prêmio São Paulo de Fórmula 1, para celebrar os 50 anos da realização do primeiro GP no Brasil. Agora o público terá a oportunidade de visitar a obra de perto, gratuitamente. A escolha do material tem um significado especial.
“É um presente para os fãs onde ele representou o Brasil muitas vezes. Que esse amor que é dado a ele seja refletido de volta para as pessoas. A gente sabe que ele era um grande ser humano, mas ele representou para as pessoas o vencer as dificuldades de uma forma positiva, ligada aos valores. A minha intenção dessa obra em alumínio é para que as pessoas olhem e vejam que todos podemos trazer esses valores, isso que o Ayrton espalhou está dentro de nós, que a gente continue com esse espírito vivo em nossos corações, fazendo as coisas corretas, com amor às pessoas”, pontua Lalalli.
O trabalho não vai parar por aí: a artista deve lançar o busto do piloto em tamanho menor para quem tiver interesse em ter a obra de arte em casa, mas adiantou que serão poucas unidades, pois o trabalho é feito manualmente. Além disso, um vídeo mostrando o processo de confecção da peça é desdobramento do projeto.
“Nosso Senna” é um dos trabalhos mais grandiosos produzidos pela artista, que além de artista visual é pianista, tem formação em canto, e compositora de peças eruditas.
Na época do acidente com o tio, Lalalli tinha oito anos. Ela lembra dele como sério e muito dedicado nas pistas, mas com a família e amigos, pregava peças em todo mundo. “Nessa época eu desenhava e cantava o dia inteiro, ele me fazia encomenda de desenhos para tirar sarro com algum amigo”, lembra ela, que não tinha muita noção de por que o tio atraía muita gente onde estivesse.
Trabalhar na escultura do tio fez com que a artista relembrasse momentos do piloto e dela mesma.
“Nas fotos não aparecia como a mandíbula dele era forte; peguei da Bianca, minha irmã, que tem essa característica. Ele falava meio torto, ele teve essa paralisia facial, e eu não lembrava disso. O mais bonito foi reencontrar essas imagens dele que conheci na infância. Lembrei de tudo que sentia. Foi especial ver quanto carinho as pessoas tinham e como as pessoas ficaram felizes com esse trabalho, talvez de alguma forma tocou o coração das pessoas, foi realmente muito especial”, declarou a artista, dizendo que a família sempre recebeu o carinho dos fãs do piloto.
“É bom ver como ele impactou as pessoas, fazendo tudo aquilo que ele fez como piloto e com o amor e generosidade que ele tinha. Ele era extremamente humano, não se colocava acima de ninguém, não se importava em ser um piloto campeão, ele queria conversar com os pescadores. Ele estava muito feliz em representar o Brasil como representou”, diz.